domingo, 29 de junho de 2014

Israel vs Palestina: História de um conflito LVII (Autumn Clouds 11/2006)


O mês de novembro de 2006 começou com uma chuva de bombardeios na Faixa de Gaza já no dia primeiro. Ao entardecer, seis famílias gazauís estavam de luto e quarenta e cinco de coração na mão cuidando de seus entes gravemente feridos.
Por que a IDF atacou no início de novembro e não outro dia?
Quem sabe porque as eleições legislativas nos Estados Unidos seriam no dia 7, a campanha estava na reta final com a atenção mundial voltada para Washington e o governo de Israel contava com a distração da mídia.
Este ataque fazia parte do programa militar de intimidação para a libertação o soldado da IDF e do programa político de inviabilizar de uma vez por todas a formação de um governo pluripartidário na Palestina. Representantes do Hamas e do Fatah estavam em plena roda de discussões de reaproximação e para Israel reinar de braçada precisava manter os dois partidos separados para fragilizá-los.
Por outro lado, o povo israelense como um todo social não se importa realmente com a ocupação, com a colonização, com os abusos, com os assassinatos que seu governo pratica (como os filhos, em sua maioria, não andam se preocupando com corrupção e má-conduta dos pais contanto que desfrutem de alto padrão de vida). A única coisa que desestabiliza um governo em Israel é a demonstração de fraqueza e a televisão mostrar enterro de compatriota que poderia ser um filho - como nos Estados Unidos.
Portanto, a recuperação do soldado Gilad Shalit era uma questão de honra muito mais do que uma questão humana e os foguetes Qassam não passavam de uma desculpa para ganhar terreno.
Caía bem para o primeiro ministro Ehud Olmert que queria apagar da memória de seus compatriotas o fiasco sangrento do Líbano e mostrar que era tão "macho" quanto o carniceiro Ariel Sharon e  o embusteiro Ehud Barak.
Para que não houvesse dúvidas quanto a isso, começou outra campanha mortífera. Uma dessas às quais a IDF dá nomes idílicos por sarcasmo ou para amenizar, pelo menos no título, o estrago. A desta vez, que foi inaugurada no dia 1° de novembro de 2006, se chamava Autumn Clouds - Nuvens de Outono.
(Usarei o nome em inglês como foi divulgado na época pela mesma razão de sempre. Para manter distância com o evento e para não ser cúmplice da romantização de mais um massacre concreto anunciado de maneira abstrata.)  
A operação Autumn Clouds foi curta e "eficaz". Durou seis dias em que muitos palestinos morreram e dezenas foram presos. No sétimo dia a IDF, que se considera sem dúvida com missão divina, descansou enquanto os gazauís enterravam seus mortos.

Já no primeiro dia, ou, melhor, na madrugada do dia 1°, dezenove gazauís perderam a vida em Beit Hanoun. Treze da mesma família. Nove dos dezenove eram crianças.
(De maneira geral, os meninos são mais atingidos porque não se dão conta imediatamente do perigo e não conseguem evitá-lo correndo para um abrigo.)
Neste caso específico nem adiantava porque o ataque foi de madrugada e pegou as famílias acordando ou dormindo.
Os outros mortos eram quatro mulheres e seis homens. A IDF manteve a tradição de atacar na calada. Nesse dia, a rajada de artilharia martelou do alto as casas adormecidas, às 6 horas. A fim de atingir mais civis desprevenidos.
Os numerosos feridos foram carregados para o hospital Kamel Adwan de pijama.
Desde o fim da Guerra do Líbano que Israel vinha martelando a Faixa de Gaza com mísseis e balas. Aliás, olhando mais longe, no período de um ano, segundo a ONG Human Rights Watch, de setembro de 2005 a 2006 a IDF jogou só na Faixa cerca de 15 mil bombas que causaram dezenas de mortes e centenas de feridos.
O Hamas, no mesmo período, lançou na vizinhança 1.700 foguetes que passavam medo mas eram artefatos obsoletos.
Voltando mais atrás, durante a Intifada, entre junho de 2004 e julho de 2006 os foguetes Qassam mataram 14 israelenses (seis menores), enquanto que os bombardeios da IDF mataram 126 gazauís (29 menores). E segundo a ONU, de julho a outubro de 2006, os foguetes Qassam não mataram ninguém e as bombas da IDF mataram 450 palestinos, só na Faixa de Gaza; a Cisjordânia é outro caso.
Portanto, a matança da IDF era algo corrente, constante e sem propaganda porque os palestinos não têm nenhuma influência sobre a mídia de nenhum país do dito "Primeiro Mundo". Mas desta vez, apesar da campanha eleitoral estadunidense, a morte de muitas pessoas no mesmo dia sempre chama a atenção da grande mídia, pois vira evento televisivo. Quando é da mesma família é mais espetacular ainda.
Foi por isso que o ataque de Beit Hanoun ficou conhecido e foi parar até na Assembleia das Nações Unidas, ainda sensível com a matança no Líbano onde Israel acabara de usar cerca de 130.000 bombas e balas. que deixaram o país aos pedaços.

Fontes da IDF confirmaram que "The army fired a volley of artillery shells at the northern Gaza Strip which missed their target, probably because of a human or technical error."
E, como sempre, prometeram investigar "o incidente".
Os residentes do bairro que foi regado de mísseis contaram que, apavorados, primeiro tentaram abrigar-se e em seguida, quando a tempestada deu uma parada correram para recolher os vivos e os mortos dentro das casas bombardeadas.
Majid, de 55 anos, um dos sobreviventes da família Athamna que sofreu mais perdas, contou que "was sleeping when the first shell landed. Some people were killed and injured. We went downstairs and the second shell hit while we were taking out the bodies. Then more shells came. I saw bodies cut into pieces. There were children and women. God knows why they hit this house.”
Outro membro da família Athamna, Yazan, de 15 anos, foi atingido por fragmentos de bombas shrapnel (o que provava o uso de bomba a fragmentação para causar mais dano imediato e semear perigo a médio e longo prazo) no estômago e nas pernas, disse: "My mother and two grandmothers were killed as they slept. I got out of the house and was running in the street. Then people came to help and the shelling started again.”
Muhammed Odwan, de 21 anos, ocupava outra casa. Hospitalizado com ferimentos graves de shrapnel nas costas, contou: “I was in the house sleeping. The shelling started and I got out of my house. All my neighbours were screaming for help and then it started it again as people gathered. My father was killed in the alleyway where we stood. Why did they do this? They want to destroy our houses and force us into exile.”

A grande mídia divulgou este bombardeio, mas esqueceu de informar que já fazia quatro meses que Beit Hanoun estava ocupada militarmente. Durante o estado de sítio, os soldados israelenses e os mísseis já haviam matado 52 habitantes. A IDF se retirara há apenas uma semana para deixar o campo livre para a aeronáutica "trabalhar" à vontade sem os soldados correrem perigo de ser atingidos por fogo amigo.
Durante a ocupação militar da cidade, os soldados haviam invadido casa por casa intimidando, interrogando e vandalizando.
A Operação Autumn Clouds foi apenas o epílogo. A IDF teria continuado causando vítimas anônimas sem que o mundo reagisse se não tivesse sido este "erro" de matar tanta gente ao mesmo tempo e tanta criança.
De repente, o Hamas, que já estava penando com o bloqueio imposto por Israel, EUA e com a Europa passiva, encontrou-se atolado no problema de desabrigados.
Atef Odwan, responsável pelos refugiados, rasgou o verbo ao visitar a rua e as casas encharcadas de sangue espalhado: “We cannot accept this destruction. We cannot accept the peace process or talk about stopping resistance. They are trying to break the Palestinian people and its resistance and trying to force us out of our homes. But we have nothing to lose. We have no choice but to stand for our rights.”
Quanto a Abu Mazen (Mahmoud Abbas), declarou três dias de luto na Palestina inteira e foi diplomata: “This is a horrible, ugly massacre committed by the occupation against our children, our women and elderly in Beit Hanoun. We urge and call the security council to convene immediately to stop the massacres committed against our people and to uphold their responsibility to stop these massacres.”
Por sua vez Ismail Haniyeh, o primeiro ministro eleito, declarou o que Israel desejava. Que as negociações para um governo unitário Hamas e Fatah estavam suspensas.
Seriam retormadas temporariamente no dia 13.
E um porta-voz do governo palestino, Ghazi Hamad, foi contundente: “After this barbaric operation, Israel proved that it’s not a humane state. It’s a state that believes in killing, and therefore this state should cease to exist.”
E os líderes israelenses?
Eles demonstraram pouco remorso e muito oportunismo, como sempre. A ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni, usou a expressão "regrettable incident". Já Miri Eisin, porta-voz de Ehud Olmert, nem se deu a fingimento: "Israeli operations will continue as long as missiles are fired over the border, weapons are smuggled into Gaza and Hamas continues to provoke Israel".
Eram as palavras necessárias para os seus simpatizantes clamarem legítima defesa na grande mídia e insentar o criminoso culpando a vítima. (Como fazem os estupradores que argumentam que cometeram violência bárbara porque se sentiram provocados).

No dia seguinte ao massacre da família Athamna os habitantes de Beit Hanoun tomaram as ruas em passeata indignada brandindo fotografias de duas das crianças mortas para as câmeras e aí não havia como cinegrafistas e fotógrafos profissionais ignorarem as imagens. Nem do terror que dominava a cidade.
Na Assembleia das Nações Unidas, o embaixador de Israel, Daniel Carmon, teve de exprimir hipocritamente "deep sorrow and regret over the accidental killing of innocent civilans." Porém, não deixou de acrescentar a perfídia que iria ser registrada em ata e chegar aos jornais. Que o Hamas é que tinha de ser condenado pelo "incidente". E teve o descabimento de completar: "If Palestinian terror did not continue to assault Israelis, if Qassam rockets stopped sailing out of Gaza into Israel, the incident in Beit Hanoun would never have happened. A single decision is needed: The Palestinian Authority government must decide to stop using terrorism as a means to achieving its goals."
Ele estava confundindo o terrorismo de Estado que Israel pratica em pequena e grande escala com o direito inalienável de resistência de um povo contra o ocupante.
Enquanto isso seu chefe em Tel Aviv, Ehud Olmert, em uma conferência de negócios, vendo que pisara na bola deu uma de George W. Bush: "I am very uncomfortable with this event. I'm very distressed with this mistake caused by technical failure." E instou o Presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, a "encontrá-lo imediatamente".
Quanto ao outro Israel, o dos cidadãos justos e decentes que militam ou são simpatizantes de organizações como Peace Now, B'Tselem, Gush Shalom, saíram às ruas de Tel Aviv com membros dos partidos Meretz e Hadash para protestar contra os atos ignóbeis de seu governo.

Concretamente, além deste choque do primeiro dia, a Autumn Clouds consistiu de três bombardeios sucessivos e um sítio de Beit Hanoun para que os moradores não poderem escapar ilesos. Dezenas deles foram presos frenetica e indiscriminadamente.
Além das casas, a IDF destruiu toda a infra-estrutura da cidade, inclusive água, telefone e eletricidade, para ilhar os habitantes e continuar a asfixiar a Faixa economicamente estragando estruturas imprescindíveis e caras.
A população recebeu ordem de ficar em casa e as famílias ficaram trancadas vivendo dos mantimentos que tinham ou de nada, sem luz, sem água e incomunicáveis. Enfim, com a visita dos soldados que iam "revistar" os cômodos vandalizando o que as bombas haviam deixado intato e prendendo a torto e a direito "suspeitos".
Revoltada, uma mocinha explodiu-se em um posto militar israelense no norte da Faixa levando consigo um soldado.
Ora, o foco principal do ataque da IDF ser Beit Hanoun não significava que o resto do território gazauí estivesse são e salvo. Em Jabaliya, por exemplo, Israel bombardeou as portas de uma escola e quando a poeira assentou, um aluno de 17 anos estava morto e quatro outros foram carregados para o hospital in extremis. Segundo a IDF, visavam outro alvo e atingiram a escola por acaso.
Outro míssil foi lançado na casa da deputada do Hamas Jamila Shanti. Ela saiu incólume, porém duas mulheres que lá se encontravam organizando uma passeata morreram.

A passeata feminina para resgatar os familiares abrigados em uma mesquita aconteceu no dia 03 de novembro e a IDF abriu fogo .
Quinze mulheres conseguiram refugiar-se na mesquita e uma delas, Nahed Abou Harbiya, contou a história: "All the women headed to the mosque to get the Palestinian resistance men, but the Israeli occupation forces were firing heavily at us with their machine guns and also threw stun grenades at us. We entered the mosque and indeed we got all the resistance men out and put female attire on them so that the Israeli occupation forces wouldn't arrest them."
Os soldados atiraram assim mesmo. Duas foram parar no chão baleadas, mais dez sofreram ferimentos graves, mas no final das contas, os resistentes foram resgatados.
Em outro bombardeio quatro militantes do Hamas foram mortos "para compensar" a ousadia das gazauís.
Enquanto isso, na Cisjordânia um ministro foi sequestrado em Ramallah e uma senhora foi morta em um ataque a Belém. Em Nablus um menino foi morto e vários foram feridos em uma incursão paralela das forças de ocupação.
No dia 07 de novembro Israel anunciou o fim da Operação Autumn Clouds.
Quando os moradores saíram às ruas sedentos e famintos viram o que os jornalistas viram: uma cidade em ruínas.
Uma mulher descreveu o seguinte: "The worst raid we have ever witnessed. The army brought destruction into every single street and nearly every single house, this is the tsunami of Beit Hanoun."
De fato, muitos prédios estavam esburacados e parcialmente demolidos pelas balas e mísseis. Uma mesquita estava demolida, menos o minaret, só Deus sabe como ele ficou de pé sobre os escombros.
E um rapaz que ajudou no resgate das vítimas dentro das casas, declarou com a voz embargada: " It is saddest scene and images I have ever seen. We saw heads, we saw hands scattered in the street. I saw people comingo out of a house covered in blood. I started screaming to wake up the neighbours."

O dia 09 de novembro foi o dia do enterro coletivo das vítimas.
No dia 11 os Estados Unidos vetaram uma Resolução do Conselho de Segurança da ONU condenando os assassinatos. Dinamarca, Eslováquia, Inglaterra e Japão não os apoiaram, mas se abstiveram.
No dia 15 um foguete Qassam atingiu uma israelense de 58 anos em Sderot, uma cidade próxima da Faixa, e feriu mais duas pessoas. O foguete visava um segurança do ministro da Defesa israelense Amir Peretz. O segurança foi atingido e o Ministro jurou vingança.
No dia 16 de novembro, após a Resolução aprovada no Conselho de Dreitos Humanods da ONU, Espanha, França e Itália se ofereceram para mediar o conflito solicitando um cessar-fogo mútuo, mas sem precisar qual seria sua contribuição. Suspeitou-se inclusive que fosse para implementar o Road Map proposto pelos Estados Unidos e não para ir ao socorro dos palestinos.

E as Nações Unidas?
Bem, a ONU designou um comitê de investigação e após o veto do Conselho de Segurança policiado pelos Estados Unidos, o United Nations Commission on Human Rights - UNCHR reuniu-se por iniciativa dos países árabes e não alinhados para votar uma Resolução condenando o crime recente. Foi nela que o embaixador israelense representou seu papel de vítima.
A reunião foi no dia 15 de novembro. O Conselho de Direitos Humanos da Organização não exige a unanimidade do Conselho de Segurança e por isso conseguiu adotar a Resolução S-3/1. Concretamente, o arcebispo sul-africano Desmond Tutu e a professora britânica Christine Chinkin foram encarregados de chefiar uma delegação de investigação em Beit Hanoun para recolher informações e depoimentos.
A Resolução foi aprovada por grande margem. Apenas seis votos contrário: Israel, Estados Unidos, e seus cúmplices de costume: Austrália, e aquelas ilhinhas das quais só se ouve falar quando cometem esses impropérios na ONU, Marshall Islands, Micronesia, Nauru, Palau. Dessa vez o governo do Canadá se absteve para não irritar sua opinião pública.
No começo dos debates, Riyad Mansour, que participa do Conselho como "Permanent Observer of Palestine,  lembrou o recidivismo malfeitor deste grupinho: "The meeting today is being held in line with the “uniting for peace” principle as a final resort to defend the principles on which the United Nations was founded, and to allow States to collectively carry out what the Security Council was incapable of carrying out. The meeting has also been called to defend the Charter principles and the rule of international law, which are the safeguards of the principles of humanity, sending the message that no State is above the law.  A serious and firm action is needed to respond to crimes, such as the massacre of civilians in Beit Hanoun, where Israeli occupying forces killed 82 Palestinians, 22 of them children.  The six-day aggression by Israelis has culminated in the shelling of a residential neighbourhood as people slept soundly, killing 19 people, 16 of them members of the same family. The Council has rightfully carried out its job of maintaining peace and security by convening a meeting, yet the same permanent member has used the veto for the thirty-first time since the 1967 occupation began. The repeated use of the veto send the wrong message to Israel that it is above international law.  It also sends the message to the Palestinian people that violence is condoned.  The principles on which the Charter was founded must now be respected.  No one is above the law.  The massacre in Beit Hanoun must be acknowledged, and the Israeli aggression must be stopped."
O nosso embaixador Ronaldo Sardenberg declarou que o Brasil deplorava as mortes de Beit Hanoun, apoiava a decisão do Conselho de Direitos Humanos e esperava que Israel investigasse do seu lado. The stalemate in the peace process had kept the whole region in a state of permanent instability.  Virtual diplomatic paralysis posed a renewed challenge to the United Nations and particularly the Security Council; unless prompt and concrete measures were adopted, the Organization might face a full-scale crisis beyond its control.  Inaction accentuated the perception of ineptitude, disse ele, além de fazer outras considerações diplomáticas, e votou a favor da Resolução, como teria votado o povo brasileiro. 

Como disse acima, a assembleia foi convocada pelo Grupo Árabe e o OIC - Movimento dos países não-alinhados - no propósito de "take the collective action needed to stop the “military madness” that targeted children in their sleep.  The redeployment from Gaza has not been sincere because conditions have worsened for the Palestinian people, with increased shellings and withholding of revenues. Humanitarian workers on the ground have described it as a humanitarian disaster.  The aggression has been expanded to include the systematic and organized destruction of the public infrastructure. Israel had imposed a “suffocating siege” on the Gaza Strip and isolated it from the world.  Through the direct orders of the Israeli Prime Minister, psychological warfare has been made part of the collective punishment, with air force jets carrying out low altitude sorties and deliberately causing sonic booms."
Israel e os Estados Unidos serviram aos embaixadores e à imprensa a mesma lengalenga e o embaixador da Síria foi direto ao assunto sem panos quentes.
(Uma das razões pelas quais Israel e os EUA não querem ver Bashar el-Assad nem pintado de ouro é sua defesa inflexível dos direitos dos palestinos e de seu próprio terreno, as colinas do Golã, invadidas por Israel em 1967 e ocupadas até hoje.)
Além de falar no direito de exercício de defesa de um povo ocupado, o embaixador sírio disse: 156 delegations have taken the floor today to defend Palestine, which Israel has just tried to prevent from speaking in the Assembly.  I hope the vote will change Israel’s position regarding cooperation with the will of the international community.  Now iss the time to strengthen the cause of peace and ask Israel to end its crimes against and punishment of the Palestinian people. The international community has voted in favour of countless resolutions calling on Israel to end its occupation of Palestinian Territory, but that has only been met with repudiation, and today, a “Hollywood-style” accusation that delegations that voted for the present text are supporting terrorism.
The distorted view of the situation is what preventes the Palestinian people from creating their own state.  Israel desperately attempts to convince everyone that the suffering of the Palestinians only began some 15 months ago, in the wake of democratic elections and Israel’s subsequent withdrawal from Gaza. But the truth is that Israel’s cruelty against the Palestinians runs deep and has been ongoing – from its military incursions, to its illegal building of a separation wall and its arrogance – all of which deserves the adoption of a resolution condemning it.
The international community desires peace above all, and when that principle becomes evident in Israel’s policies, the Assembly will not need to meet in special session. The fact that the Human Rights Council has met three times on Israeli practices in recent months proves that the situation in the Occupied Territory is weighing heavily on the international community’s conscience. We reject the Council’s failure to act on the matter last week. It is time for Israel to stop hiding behind a country that pretends to be a “super-Power”.  No country is above international law."
Pois é, em teoria.

Na prática, o comitê restrito designado pela ONU para esta missão investigativa tentou entrar na Faixa de Gaza três vezes e israel barrou sua entrada sem nenhum respeito dos acordos internacionais.
Como se sabe, Israel controla todas as idas e vindas na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, pois policia as fronteiras, a alfândega, como se a Cisjordânia e a Faixa de Gaza lhes pertencessem.
Tel Aviv obstaculou o trabalho dos representantes da ONU e não cooperou em nada.
A missão determinada nessa Resolução de novembro de 2006 só seria efetuada em maio de 2008 graças ao Arcebispo que não baixou os braços. Mas quando conseguiu entrar na Faixa com sua colega britânia, já era tarde. Desmond Tutu e Christine Chinkin conseguiram passar dois dias em Beit Hanoun, chegada no dia 27, partida no dia 29.
A conclusão oficial da investigação foi a seguinte:  "In the absence of a well-founded explanation from the Israeli military – who is in sole possession of the relevant facts – the mission must conclude that there is a possibility that the shelling of Beit Hanoun constituted a war crime."
A conclusão oficiosa chegou pela voz indignada do arcebispo sul-africano: "The right to life has been violated not just through the killings [in Beit Hanoun], but also through the lack of an adequate investigation of the killings."
A comissão da UNCHR foi incapaz de cumprir o papel que lhe fora dado e a ONU não tomou nenhuma medida concreta para cumprir o papel que seu estatuto de autoridade internacional máxima lhe confere. Provou uma vez mais sua fraqueza e sua submissão a Washington.

A Cruz Vermelha reclamou do assassinato de paramédicos ressaltando que os dois veículos atingidos estavam "clearly marked".
A investigação de Israel sobre o "acidente" que causou a morte da família Athamna e seus vizinhos e os "acidentes paralelos" foi nos moldes das investigações anteriores. A Anistia Internacional não ficou satisfeita com a dissimulção: The Israeli investigation had been seriously inadequate and failed to meet international standards.
A Liga Árabe declarou que "These massacres of children, women and civilians are unjustified and incomprehensible and unexpected. Israeli policies in the Palestinian territories have gone too far."
A União Europeia botou panos quentes: "We recognize the legitimate right to self-defense, but Israel must exercise utmost restraint... Action should not be disproportionate or in contradiction to international law. We call on Israel to end its incursion in Gaza and press Palestinian leaders to put an end to the firing of rockets on Israeli territory."
Palavras, palavras, palavras, vãs e vagas.


"The first revolutionary act is to call things by their true names, Rosa Luxemburg said. 
So how to call what happened in Beit Hanoun?
"Accident" said a pretty anchorwoman on one of the TV news programs.
"Tragedy", said her lovely colleague on another channel. 
A third one, no less attractive, wavered between "event", "mistake" and "incident".
It was indeed an accident, a tragedy, an event and an incident. But most of all it was a massacre. M-a-s-s-a-c-r-e.
The word "accident" suggests something for which no one is to blame - like being struck by lightning. A tragedy is a sad event or situation, like that of the New Orleans inhabitants after the disaster. The event in Beit Hanoun was sad indeed, but not an act of God - it was an act decided upon and carried out by human beings.
Immediately afater the facts became known, the entire choir of professional apologists, explainers-away, sorrow-expressers and pretext-inventors, a choir that is in perpetual readiness for such cases, sprang into feverish action.
"An unfortunate mistake… It can happen in the best families… The mechanism of a cannon can misfunction, people can make mistakes… Errare humanum est… We have launched tens of thousands of artillery shells, and there have only been three such accidents. (No. 1 in the Olmert-Peretz-Halutz era was in Qana, in the Second Lebanon War. No. 2 was on the Gaza sea shore, where a whole family was wiped out.) But we apologized, didn't we? What more can they demand from us?"
There were also arguments like "They can only blame themselves." As usual, it was the fault of the victims. The most creative solution came from the Deputy Minister of Defense, Ephraim Sneh: "The practical responsibility is ours, but the moral responsibility is theirs." If they launch Qassam rockets at us, what else can we do but answer with shells?
Ephraim Sneh was raised to the position of Deputy Minister just now. The appointment was a payment for agreeing to the inclusion of Avigdor Liberman in the government (in biblical Hebrew, the payment would have been called "the hire of a whore", Deut. 23,19). Now, after only a few days in office, Sneh was given the opportunity to express his thanks.
Any suggestion of equivalence between Qassams and artillery shells, an idea which has been adopted even by some of the Peaceniks, is completely false. And not only because there is no symmetry between occupier and occupied. Hundreds of Qassams launched during more than a year have killed one single Israeli. The shells, missiles and bombs have already killed many hundreds of Palestinians.
Did the shells hit the homes of people intentionally? There are only two possible answers to that.
The extreme version says: Yes. The sequence of events points in that direction. The Israeli army, one of the most modern in the world, has no answer to the Qassam, one of the most primitive of weapons. This short-range unguided rocket (named after Izz-ad-Din al-Qassam, the first Palestinian fighter, who was killed in 1935 in a battle against the British authorities of Palestine) is little more than a pipe filled with home-made explosives.
In a futile attempt to prevent the launching of Qassams, the Israeli forces invade the towns and villages of the Gaza Strip at regular intervals and institute a reign of terror. A week ago, they invaded Beit-Hanoun and killed more than 50 people, many of them women and children. The moment they left, the Palestinians started to launch as many Qassams as possible against Ashkelon, in order to prove that these incursions do not deter them.
That increased the frustration of the generals even more. Ashkelon is not a remote poverty-stricken little town like Sderot, most of whose inhabitants are of Moroccan origin. In Ashkelon there lives also an elitist population of European descent. The army chiefs, having lost their honor in Lebanon, were eager - according to this version - to teach the Palestinians a lesson, once and for all. According to the Israeli saying: If force doesn't work, use more force.
The other version holds that it was a real mistake, an unfortunate technical hitch. But the commander of an army knows very well that a certain incidence of "hitches" is unavoidable... The ammunition used by the gunners against Beit-Hanoun - the very same 155mm ammunition that was used in Kana - is known for its inaccuracy. Several factors can cause the shells to stray from their course by hundreds of meters.
He who decided to use this ammunition against a target right next to civilians knowingly exposed them to mortal danger. Therefore, there is no essential difference between the two versions.
Who is to blame? First of all, the spirit that has gained ground in the army. Recently, Gideon Levy disclosed that a battalion commander praised his soldiers for killing 12 Palestinians with the words: "We have won by 12:0!"
Guilty are, of course, the gunners and their commanders, including the battery chief. And the General in charge of the Southern Command, Yoav Gallant (sic), who radiates indifference spiked with sanctimonious platitudes. And the Deputy Chief-of-Staff. And the Chief-of-Staff, Dan Halutz, the Air-Force general who said after another such incident that he sleeps well at night after dropping a one-ton super-bomb on a residential area. And, of course, the Minister of Defense, Amir Peretz, who approved the use of artillery after forbidding it in the past - which means that he was aware of the foreseeable consequences.
The guiltiest one is the Great Apologizer: Ehud Olmert, the Prime Minister.
Olmert boasted recently that because of the clever behavior of his government "we were able to kill hundreds of terrorists, and the world has not reacted." According to Olmert, a "terrorist" is any armed Palestinian, including the tens of thousands of Palestinian policemen who carry arms by agreement with Israel. They may now be shot freely. "Terrorists" are also the women and children, who are killed in the street and in their homes. (Some say so openly: the children grow up to be terrorists, the women give birth to children who grow up to be terrorists.)
Olmert can go on with this, as he says, because the world keeps silent. Today the US even vetoed a very mild Security Council resolution aginst the event. Does this mean that the governments throughout the world - America, Europe, the Arab world - are accessories to the crime at Beit Hanoun? That can best be answered by the citizens of those countries.
The world did not pay much attention to the massacre, because it happened on US election day. Th results of the election may sadden our leaders more than the blood and tears of mothers and children in the Gaza strip, but they were glad that the election diverted attention...
Of course, in both new houses of Congress [in the USA], the pro-Israeli lobby (meaning: the supporters of the Israeli Right) has a huge influence, perhaps even more than in the last ones..."
Uri Avnery, 11/11/2006




Reservistas da IDF, forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 
"Those checkposts. . . it's the same story of undue delays. You see dozens of ambulances waiting in line to be let through.
Were there confrontations?
Yes. Especially with the more level-headed guys, I remember. It happened to everyone. There were some bad stories even back then. There was one guy who seized the cell phone of one of the Palestinians he detained because he saw him talking on it and they're not supposed to be talking on their cell phones while we run a checkpost because they might be informing the village about this and disrupt our mission. So one guy grabbed the cell phone of the guy who was talking and it just rang, it was a woman asking to speak to her Mohammad and he (the soldier) said, "He can't speak, he's dead." That was one of our guys, and, later, the company commander yelled at him that this was way out of line. There was also a story about guys getting into a (Palestinian) vehicle and driving it for some meters, and that, too, got a chilly response from the commanders.
They simply got in the car and took a spin, for fun?
Yes."


domingo, 22 de junho de 2014

Iraque espedaçado

Há acordos internacionais assinados por países europeus situados a milhares de quilômetros dos povos interessados que geram problemas temporários, intermitentes e muitas vezes crônicos, poucos ou muitos anos mais tarde da assinatura dos ditos Tratados.
A África foi vítima destas divisões aleatórias e vira e mexe as etnias, mal-colocadas em territórios, lutam dentro de uma Nação fabricada com culturas distintas e até opostas.
O Oriente Médio também é prejudicado por várias divisões entre impérios.
O primeiro Tratado que mudou a geografia dos países árabes foi o chamado Sykes-Picot, que posteriormente permitiria que a Grã-Bretanha implementasse um outro que prejudicaria os palestinos décadas a fio, até agora - o de inicitativa do ministro das relações exteriores Arthur Balfour, em 1917. Este famigerado Tratado prometeu aos judeus uma "homeland" na Palestina contra a expectativa sionista original que pleiteava a Argentina.
Quando o império otomano desmoronou em 1918, foi dividido em dois eixos. O Noroeste e o Sudoeste. Mais ou menos de Mosul no norte do Iraque passando pelo deserto sírio até a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
Mosul, ficou com os franceses. Com a demanda comercial crescente de petróleo a Inglaterra acabou "esquecendo" o Acordo e Mosul foi parar na zona britânica dentro do Estado do Iraque, antiga Mesopotâmia. Londres assegurou assim sua parte de ouro negro.
Nessa época Iraque, Palestina, Transjordânia estavam sob Mandato Britânico; a Síria e o Líbano, sob Mandato francês; a Líbia, italiano, etcétera.
Veio a Segunda Guerra e entre cobranças e alianças, os "Mandatos" europeus se dissolveram e Estados foram formados um pouco como haviam sido ocupados, indiscriminadamente.
Com exceção da Palestina, que em vez de ser regularizada recuperando sua autonomia com a partida dos britânicos, ficou apátrida e ocupada por Israel no território que deveria ser seu Estado.

O tempo passou, o império atravessou o Atlântico e os Estados Unidos saíram fomentando ditaduras na nosso Cone Sul, na Ásia, guerras, e mais tarde aventurou-se pelos países árabes criando divergências e armando indivíduos mal-intencionadas por interesses imediatos. E um dia sombrio surgiu o Al-Qaeda.
Primeiro veio Ossama Ben-Laden, que era a versão "light" criado pelos EUA e logo auto-emancipado. Ben-Laden aplicava a pena do "quem com ferro fere com ferro será ferido", mas respeitava certas fronteiras, como por exemplo, as dos países árabes. Comparado com os "novos terroristas" que polulam no Iraque e na Síria, poder-se-ia dizer que tinha até alguns princípios.
Barack Obama aplicou a vingança o executando o "aposentado" desarmado, ele virou mártir e deixou o campo aberto para mentes mais estreitas ainda. (Há, sempre há pior. Basta dar oportunidade. Talvez daqui a cinquenta anos o pragmatismo irresponsável do império estadunidense comparado com a crueldade do chinês seja até fichinha).
A nova geração que já estava galgando os degraus de comando do Al-Qaeda desabrochou, no Iraque, em uma semi-dissidência extremista chamada Islamic State in Iraq and the Levant, ISIL, ou ISIS - acrônimo confuso que usa grande parte da mídia ocidental. De lá, se exportaram para a Síria com o nome Jabhat an-Nuṣrah li-Ahl ash-Shām - Frente de Suporte para o povo sírio, encurtado para Frente Síria, dita Nusrah, um grupo para-militar que há três anos vem causando terríveis estragos na Síria, da qual vem tenta tomar cidades e regiões inteiras, até o Líbano.
Esta nova gangue ISIL-Nusrah é de arrepiar os cabelos e dar frio na barriga só de vê-los em sua indumentária preta, seus capuzes e seus olhares ameaçantes. O discurso é obtuso e os atos são de uma selvageria planificada.
Terrorismo não é a palavra adequada para essa geração selvagem. São conquistadores bárbaros. Talvez mais bárbaros do que os antagonistas dos romanos à origem deste adjetivo. O ISIL, e suas filiais sírio-libanesas, é composto dos piores salafistas de países variados, unidos só pelo obscurantismo.
Seus "soldados" vão de jovens incautos aliciados através das redes sociais, passando por militares e policiais desempregados até a bandidos, sequestradores, infratores de leis humanas e jurídicas básicas. Reunidos por um homem que decidiu ter um paísão próprio para impor-se em rei: o Islamic State in Iraq and the Levant.

Tudo começou no Iraque caótico pós-invasão/ocupação britânico-estadunidense. George W. Bush e Tony Blair forneceram a mão-de-obra armada quando demitiram todos funcionários públicos do Exército e da Polícia de Saddam Hussein. Da noite pro dia, dezenas de milhares de jovens e pais de família ficaram desempregados e sem nenhuma perspectiva de trabalho. Até aparecer os "benfeitores" do ISIS, que os empregaram já com as armas com as quais haviam ficado.
Tudo começou com atentados esporádicos nas barbas dos soldados estadunidenses cujos oficiais acabaram se cansando e aconselhando seu presidente a lavar as mãos, deixar sua Embaixada imensa continuar a espoliação, contratar empresas de "segurança", ou seja, de mercenários para varrer as cidades, e ir-se para o Afeganistão combater os Talibã - que, diga-se de passagem, são combatentes locais sem ambição de expansão. Só combatem a ocupação.
Hoje o ISIL dispõe, entre a Síria e o Iraque, de cerca de dez mil para-militares treinados, e determinados, a quê, precisamente? Ao que al-Baghdadi mandar.
Através de suas operações militares no Iraque, Síria e Líbano, pleiteiam o tal Estado que desejam modelar no extremo religioso que permita sua união nacional pela obtusidade, por sua interpretação destorcida do Alcorão, nele continuarem a modelar exércitos de um Allah sectário e de lá patrocinarem e protagonizarem um retrocesso geral nos países árabes e depois, só Deus sabe.
Forçaram a barra na Síria e Bashar el-Assad vem aguentando firme com a ajuda direta do Irã (que não quer extremistas à porta de casa) e indireta da Rússia, que não quer perder sua única base militar nos países árabes.
No Iraque encontraram oposição recalcitrante e fraca.

O Iraque estava em frangalhos quando os GIs foram embora deixando em seu lugar uma penca de mercenários estrangeiros e uma geração iraquiana jovem com futuro incerto e cheia de ódio - condimentos propícios a violência e revoltas.
Quando os jihadistas do ISIL resolveram imaginar seu país ideal (recortado de países já estabelecidos) o nome deste virou também sua legenda.
Começaram a conquista do Iraque por Fallujah, em janeiro de 2014. Cidade em que o exército estadunidense cometeu atrocidades que a população talvez não esqueça nunca - al Bagdhadi serviu-se desta memória para recrutar militantes.
O governo fraco que ficou em Bagdá deixou correr, um pouco por inconsciência outro pouco por negligência, pois estavam acostumados a deixar tudo nas mãos dos patrões em Washington.
Aí eles foram para Tikrit, e depois Mosul, a segunda cidade do Iraque em tamanho e importância econômica. De lá para Raqqa foi um pulo que deram até o país vizinho.
Lá na Síria pleiteavam dominar de Homs a Hama até Aleppo. Cidades onde cometeram atrocidades que foram então atribuídas a Assad, a cujo exército resistiram com a violência que os caracteriza por ondem passam.
Depois começaram a atacar os próprios rebeldes sírios bem-intencionados.
Desde o começo da "rebeldia" na Síria eu disse que havia forças extremistas estrangeiras infiltradas e que sua quantidade aumentava a olhos vistos. Falei quase sozinha porque os poucos jornalistas que viam isso temiam ir de encontro ao pensamento único do politicamente correto neste conflito, que era "derrubar o ditador Assad". Dizer a verdade era mal-visto.
Hoje Assad conseguiu resgatar Homs, quebrar o sítio de Aleppo e, bem que mal, segurar Hama para que não caia no precipício. E até os rebeldes sírios já querem mesmo é que ele dê conta do recado e que recupere o país pra eles.
Três anos de destruição, para quê? Para estrangeiros fanáticos tomarem tudo deles. Mas Bashar el-Assad não quer perder nem um alqueire do país que herdou do pai. Nem os "rebeldes" locais, que há meses avisaram seus chefes bem acomodados em Doha e Ankara do perigo dos infiltrados. E estes os mandaram calar-se.

No Iraque a história é outra. O governo é frágil, o exército debilizado, e os meios financeiros precários e usados mais para corrupção do que para reforçar o exército.
Em contrapartida, nos últimos anos a família real saudita vem investindo bilhões de dólares nessas gangues jihadistas que estão tentando conquistar a Síria e que conquistaram cidades importantes do Iraque.
Por incrível que pareça, são os maiores aliados dos Estados Unidos nos países árabes, a Arábia Saudita, uma das ditaduras mais inclemente e um dos maiores patrocinadores dos salafistas, junto com os outros ditadores vizinhos. Mas nada é feito oficialmente. São "doações" "pessoais" anônimas.
Enfim, doação é para obra de caridade, para organizações do bem. Este dinheiro é é patrocínio de terror (im)puro e simples.
E por quê os poderosos de Ryad fariam isso?
Porque os saudistas se consideram a fundação do poder sunita na região e mantiveram o controle da riqueza petroleira no Golfo árabe até a derrubada de Saddam Hussein por ter querido voar com as próprias asas, mudar a moeda de negociação do petróleo, e, consequentemente, provocar a queda mais rápida do império estadunidense.
Depois que foi substituído pela maioria xiita no governo de Bagdá, aliada ao Irã, os sauditas resolveram intervir para mostrar quem manda da maneira brusca que sabem - a mesma que usam contra as mulheres sauditas que ousam querer fazer coisas tão perversas quanto dirigir carro.
(Resta saber se a família real saudita consegue/guirá controlar estes possessos do Isis como controla suas concidadãs.)
Desde a tomada do Iraque que Ryad reina soberana sobre a OPEP em preço e divisa sem oposição nenhuma, já que é o maior bully do Irã, estrangulado pelas sanções de Washington. Sanções impostas por razões político-econômicas em favor da Arábia Saudita e paranóicas de Israel, não por causa de um pseudo-perigo atômico, diga-se de passagem.
Com o colapso do governo de Bagdá, o petróleo de Mosul foi parar nas mãos dos sunitas. Dinheiro para financiar o ISIL não falta, considerando os poços de petróleo já existentes e as vastas reservas inexploradas localizadas no deserto próximo de Bagdá que também se encontra sob controle dos extremistas sunitas e não do governo central.
Além do caminho mais fácil, o da pilhagem. A primeira coisa que o ISIL faz quando conquista uma cidade é esvaziar os bancos e soltar todos os presos, que são logo convertidos em "soldados". Só em Mosul roubaram mais de US$400 milhões. Portanto, dinheiro não falta mesmo. Nem mão de obra criminosa. E já dispõem de alguns tanques.

O pior que pode acontecer nesta história é Obama convencer o Irã, com promessas de amenizar ou acabar com o bloqueio que lhe impõe há anos, a recomeçar uma guerra contra o Iraque. A da década de 80 do século XX levou à morte de 1.5 milhões de xiitas e sunitas armados por estrangeiros.
Lembro que na época as potências ocidentais estavam mais do que satisfeitas com esta guerra entre Teerã e Bagdá. Além de não perderem nem um soldado, os Estados Unidos e seus aliados lucraram milhões em venda de armas, inclusive químicas, que despejaram no Iraque para Saddam Hussein usar à vontade nos iranianos.
E, mais uma vez, por incrível que pareça, na época, Israel foi um dos países que mais venderam armas para o Irã. Negócio é negócio e Tel Aviv regozijava de ver não-judeus se matando e eles enchendo os bolsos com dinheiro sujo de sangue. Mas já estão acostumados a lucrar com desgraça alheia, na Palestina.
O freguês de ante-ontem, inimigo de ontem, com a ameaça do terror verdadeiro (o sem fronteiras que é o ISIL) pode virar o amigo do momento. Pensa Washington. E Obama já apelou para Rohani que também tem horror de extremista.
Pois o fato é que os Estados Unidos e seus aliados desperdiçam adjetivos com partidos e países que antagonizam seu jugo economico-colonialista - "terroristas' para o Hizbollah e o Hamas por defenderem seus territórios legais; "extremista" para o Irã que se dá ao direito de escolher seus próprios valores democráticos - e quando aparecem organizações merecedoras dessas etiquetas, elas estão gastas.
Hoje, há duas formas e frentes de terror no mundo.
O terror implícito, de subjugação através da espoliação, destruição e humilhação diária, constante, que Israel aplica na Palestina na limpeza étnica que tem feito nas últimas décadas em nome do sionismo.
E o terror explícito, de subjugação através da força bruta, sem nuança, selvagem, que o ISIS tem aplicado na última década no Iraque, na Síria, no Líbano.
Terror não é defesa, é ataque. Terror não é reação desesperada e sim ação calculada. Terror é força, é arsenal de peso e não pedrada e estilingada.
O ISIL poderia ter sido contido quando era embrionário se essa fronteira linguística fosse reconhecida e tivesse sido respeitada e os EUA tivessem encarado o problema inerno com seriedadede. E com as devidas armas, quando os Estados Unidos ainda estava presentes oficialmente no Iraque.
(Quanto ao outro terrorismo, o de Israel, basta a intervenção legal e militar da ONU. Como se sabe.)
Uma outra intervenção militar direta doso Estados Unidos no Iraque hoje seria mais um erro crasso. Têm de desfazer o processo no qual investiram por ignorância e preparar os xiitas para defenderem seu Estado dos extremistas.
(Falando em xiita, nunca entendi porquê "xiita" virou no Ocidente adjetivo de extremista. Não deveria. Há xiitas esclarecidos como há sunitas. Hoje, os extremistas são todos sunitas. Acho que talvez "xiita" tenha virado adjetivo pejorativo por causa da propaganda anti-iraniana. Mas é um erro. O regime iraniano é conservador, tradicionalista, mas não é extremista como a Arábia Saudita, cuja família real é sunita.)  
Acontece que tanto no Iraque quanto na Líbia, a paz só era mantida por causa dos ditadores que tinham a mão pesada, infelizmente necessária. Como é na Síria.

Agora vou responder às perguntas que me fizeram sobre o Islamic State in Iraq and the Levant, ou ISIL.
Primeiro, quem são eles.
São "jihadistas" sunitas chiefiados pelo iraquiano Ibrahim Awwad Ibrahim Ali al-Badri al-Samarrai, vulgo Dr. Ibrahim; vulgo, Abu Bakr al-Baghdadi al-Husseini al-Qurashi; vulgo Abu Du'a; emir de Rawah. É tratado de doutor porque tem um doutorado em Islamismo e embora seja chamado de "emir" (príncipe, em árabe), não descende de nenhuma família real árabe.
Ele nasceu em 1971, em Samarra, cidade "nova" (833 DC) tombada pela UNESCO. Antes era um dos maiores centros urbanos da antiga Mesopotâmia, uma jóia à beira do rio Tigre. Hoje um pouco dilapidada devido à invasão de Inglaterra e Estados Unidos em 2003, aos recentes conflitos inter-religiosos e à proximidade de Bagdá, 125 quilômetros.
Baghdadi, é o "nome de guerra" do chefe do ISIS. Esta palavra não é nome e sim indicação de sua origem "de Bagdá".
Al Baghdadi é um salafista que aderiu ao Al-Qaeda logo após sua criação. Foi um "soldado exemplar" responsável do enquadramento de extremistas para-militares sírios e sauditas no Iraque.
Os estadunidenses o prenderam em 2003 no campo de detenção de Bucca, um dos mais violentos da CIA, e lá ele ficou entre torturas e interrogatórios até 2009.
Foi à sua saída que declarou a criação do ISIS e foi com este que ganhou proeminência.
Dizer que Baghdadi é um produto do tratamento que lhe foi inflingido no campo de detenção estadunidense talvez seja exagero. Ele já tinha tendência malígna. Mas dá para dizer que os "maus-tratos" serviram para aumentar seu ódio e para ensinar-lhe técnicas de tortura que lhe servem bastante em sua carreira de líder terrorista.
O rascunho do que é hoje o ISIL era chefiado pelo jordaniano Abu Mussab al-Zarqaui, executado em uma operação militar dos Estados Unidos no dia 18 de a abril de 2010.
Um mês depois, no dia 17 de maio, chegou às mãos da mídia um comunicado nomeando al Baghdadi  "emir" do movimento e o ISIS começou a tomar forma no terreno.
Sob suas ordens, os ataques aos xiitas e aos cristãos iraquianos proliferaram no Iraque e no dia 31 de outubro de 2010 o bando invadiu a catedral de Bagdá e no fim do sequestro acabou matando dois padres, seis policiais e 46 pessoas que assistiam à missa.
As operações de intimidação e os golpes sanguinários continuaram, se multiplicaram e quando Ossama Ben Laden foi executado em maio de 2011, al Baghdadi foi um dos primeiros a jurar fidelidade a seu auto-proclamado sucessor, o sunita egípcio Ayman al-Zauahiri - bem criado no Cairo, filho de professor universitário, que integrou a Irmandade Muçulmana aos 14 anos, teve uns probleminhas, mas continuou estudando, formou-se em Medicina, especializou-se em cirurgia, e um ano mais tarde, em 1979, integrou o Jihad, foi se radicalizando até parar no Afeganistão (com Ben Laden patrocinado pelos EUA para combater a então União Soviética) e de lá já saiu fiel a Ben Laden e ao Al Qaeda.
A associação de al Baghdadi e al Zauahiri durou quanto tinha de durar. Ou seja, até o aprendiz suplantar o mestre em todos os domínios malígnos.
Os atentados no Iraque e a pressão sobre a população de Monsul e alhures para a formação do tal Estado islâmico se intensificaram já em 2011 e eram preocupantes. Quando os EUA se retiraram de lá, deixaram o problema em andamento e lavaram as mãos como Pilatus.
O ISIL aproveitou a oportunidade do movimento anti-Assad na Síria para ganhar terreno. O que fez a passos largos, sob indiferença ocidental, todos mais preocupados em derrubar Assad do que acreditar no que ele dizia e o que era óbvio quando se via .
Hoje, para combater Baghdadi na Síria e no Iraque o Ocidente tem de encarar a realidade e ser objetivo.
Na Síria, têm de deixar Bashar al-Assad agir contra o Nusrah e talvez até ajudar o Exército sírio.
No Iraque, têm de preparar os xiitas para combaterem o ISIL agora, enquanto os sunitas fanáticos reforçados pelos prisioneiros comuns ainda são minoria (embora organizadíssima - bastou 800 deles para derrotarem milhares de soldados iraquianos despreparados).
Mas sobretudo, nem Estados Unidos nem OTAN deveriam intervir diretamente em nenhum dos dois países.
Na Síria, com apoio militar, Bashar dá conta do recado. Sobretudo se os ex-rebeldes nacionais ajudarem.
No Iraque, têm de devolver ao governo os meios militares que lhe foram tomados quando o país foi invadido e ocupado.
O que não se pode fazer é bobagem ditada pela conhecida miopia estadunidense. Ou seja, libertar extremistas rivais com a esperança que estes resolvam o problema em uma guerra de gangues - como o rei da Jordânia acabou de ser obrigado a fazer soltando um perigoso líder salafista, oponente a Baghdadi, mas próximo do Nusrah que está destruindo a Síria. Na próximas semanas ou meses talvez ele façam o que esperam dele, e depois talvez vire um Ben Laden. Nesses casos o tiro sai sempre pela culatra.
Este problema do ISIL/Nusrah é realmente grave. Já se fala em separação do Iraque como se fosse um fato.
Nada a ver com a emancipação da Crimeia, separação étno-cultural voluntária.
Nada a ver com a luta intestina entre o Sudeste e o Oeste da Ucrânia, em que a diplomacia, se quiser, resolve tudo em uma sentada de representantes ucranianos de ambos os lados, se os EUA deixarem.
Não, no Iraque e na Síria ameaçados pelo ISIL/Nusrah não há vez para diplomacia porque os "conquistadores" salafistas desprezam o diálogo, só conhecem a voz da violência e da crueldade até com parentes.
A despeito de tudo o que disse acima, sou visceralmente contra intervenção estrangeira em todos os conflitos intra-fronteiras.
Porém na realpolítica a não-intervenção estrangeira é uma ironia. Desde a Segunda Guerra Mundial, antes de uma guerra civil há sempre uma incitação externa e as razões são sempre financeiras. É para um estrangeiro lucrar.
Dito isto, alguns acham que a solução é separar o Iraque entre as três comunidades que parecem não se entenderem. Que talvez um Estado xiita, outro sunita, outro kurdo resolvessem o problema a curto, médio e longo prazo.
Eu acho que quem tem de decidir, são os iraquianos. Por enquanto, eles não querem ver seu país dividido nem sequestrado metro a metro pelo ISIL que quer ficar com o petróleo e o país inteiro.
Um governo de união nacional? Que união? Houve eleições e al Bagdadi nem se candidatou ao pleito. Ele quer governar na marra e não em um Estado de direito.
Aliás al Bagdadi e seu ISIL criaram asas que estão cada vez mais fortes e largas. Ao ponto de desafiarem até o Al-Qaeda.
Neste caso, o problema tem de ser resolvido por quem criou. A Inglaterra e os Estados Unidos. Se houvesse justiça para os assassinos em massa que matam com mandato, George W. Bush e Tony Blair deveriam pagar por seus crimes. Como só há justiça para os líderes warmongers de país sub-desenvolvido, quem vai ter de resolver o problema são os Estados Unidos, que chegaram em um país autoritário, mas arrumado, esculhambaram e foram embora deixando tudo bagunçado.
 

"The army is supposed to obey the elected government. This obedience is unconditional.
But the army (including land, sea and air forces) is the only potent armed force in the country. It can carry out a coup d’etat and grab power at any given moment.
In recent months alone, army commanders have carried out coups in Egypt and Thailand, and perhaps in other places, too.
So what prevents army commanders carrying out coups everywhere? Just the democratic values, on which they were raised.
Iin israel, a military coup is unthinkable.
Here is the place to repeat the old Israeli joke: the Chief of Staff assembles his senior commanders and addresses them: “Comrades, tomorrow morning at 0600 hours we take over the government.”
For a moment there is silence. Then the entire audience dissolves into hysterical laughter.
A cynic might interrupt here: “Why should the army bother with a coup? It governs Israel anyhow!”
In civics classes, we learn that Israel is a democracy. Officially: “a Jewish and democratic state”. The government decides, the army follows orders.
But, as the man said: “It ain’t necessarily so.”
... Just now, the army is involved in the annual ritual of the budget fight.
The army says it needs much more than the Finance Ministry says it is able to give. It is a question of national security, nay of national survival. Terrible dangers are mentioned. After a bitter dispute, a compromise is reached. Then, a few months later, the army comes up and demands some billions more. A new danger is looming on the horizon. More money, please.
The Finance people argue that a huge chunk of the military budget is spent on pensions. In order to keep the army young and fresh, officers are pensioned off at the ripe old age of 42 – and for the rest of their lives receive very generous pensions. This applies not only to combat officers, who spend much time in the field and neglect their families, but also to paper shifters, wallahs and technical personnel, whose job is essentially civilian. Timid suggestions to pay less from now on are angrily rejected.
When a general goes home, the army considers it its comradely duty to provide him with a suitable civilian job. The country is swimming with ex-generals and ex-colonels who hold central positions in politics, public administration, government-owned corporations and services etc. Tycoons employ them for huge salaries because of their influential connections. Many of them have founded “security”-related companies and are engaged in the world-wide import and export of arms and military equipment.
Almost every day, these ex’s appear on TV and write in newspapers as experts on political and military affairs, thus exercising enormous influence on public opinion.
Few of them are “leftists” and propagate pro-peace views. The vast majority propound opinions which range from “center-right” to the fascist right.
Why?
The same cynic may put forward a very simple explanation. War is the army's element.
The essence of the military profession is making war and preparing for war. Its entire existence is based on war-making.
It is natural for every professional person to long for an opportunity to show his or her professional proficiency. Peace rarely provides such an opportunity for military officers. War is a huge opportunity. War brings attention, promotion, life-long advancement. In war, a military officer can show his mettle and excel in ways unsuspected in peace.
(Senior officers like to declare that they hate war more than anyone else “because they have seen its ravages”. That is pure nonsense.)
Occupation is also, of course, a kind of war. It is, to quote Clausewitz, a continuation of politics by other means.
...The state of Israel was born in the middle of a long and brutal war. From day 1, its existence depended on the moral and material strength of its army. The army is the center of national life, the darling of its Jewish citizens. It is by far the most popular institution in today’s Israel.
This reminds one of the German Reich of the Kaiser, where it was said that “Der Soldate / ist der beste Mann im Staate” (“the soldier is the best man in the state”). Perhaps it was not an accident that the founder of Zionism, Theodor Herzl, was an ardent admirer of the Kaiser’s Reich.
... Every young Jewish Israeli is supposed to serve in the army. Men serve for three years – the most formative years in the life of the human male, the years of idealism, still unburdened by families, ready to sacrifice.
(In practice, almost 40% do not serve at all – both Arab citizens and Orthodox Jewish citizens are exempted, though for different reasons.)
The army is the melting pot for native-born youngsters, immigrants from Russia, Morocco, Ethiopia and many other countries. During 1100 days and nights, the army forges their common denominator and their common outlook.
They come to the army already prepared. The Israeli education system is a factory for Zionist indoctrination, from kindergarten on. These 15 years, crowned by the three army years, produce a vast majority of narrow-minded, nationalist, ethnic-centered men and women. From there the professional military officer starts his career, however far it may go, taking his ideological baggage with him.
Leaving the army at 42 and starting on a civilian career does not mean shedding these blinkers. On the contrary, army officers remain army officers even when donning civilian garb. One could say that the officers, present and past, constitute the only real party in the country.
... After 57 years of occupation, the army has become brutalized, many officers are settlers, many wear nationalist-religious knitted kippahs. The extreme right-wing religious parties make a deliberate effort to infiltrate the officers corps and succeed on a large scale.
More than 200 years ago, Count Mirabeau, a leader of the French revolution, famously said that Prussia is “not a state that has an army, but an army that has a state”.

The same can be said today about the Only Democracy in the Middle East."
Uri Avnery, 14/06/2014
BBC Hard Talk:  Are young Jews falling out with Israel?
Jovens judeus estão se afastando de Israel?

E neste momento de Copa do Mundo, recomendo o seguinte documentário da Al Jazeera com o nosso grande Sócrates: Football Rebels - Socrates and the Corinthians' Democracy
How Brazil's football legend turned every Corinthians' match into a political meeting for democracy.
http://aje.me/YrnGsZ

domingo, 15 de junho de 2014

Israel vs Palestina: História de um conflito LVI (9-10 2006)



"In every language there are some words that cannot be properly translated into any other. It seems that they express something intimately connected with the speakers of that language and rooted in their history, traditions and reality. Such words become international expressions...
For example,... the English word "gentleman" and the American word "business". Or the Japanese word "kamikaze". Or the Mexican word "mañana" and the similar Arabic "bukra" and lately the Palestinian "intifada". 
The most prominent Hebrew addition to this international lexicon is "chutzpah", a word that has no equivalent in any other language. Some English words may come close (impertinence, insolence, impudence, [vergonha], but no one conveys the full meaning of this Hebrew-Yiddish expression. It seems that it reflects something that is especially characteristic of Jewish reality, which was transferred to the State of Israel.
The president of Israel is supposed to symbolize the common denominator of all our citizens. Therefore it is proper for him to symbolize this trait, too. And indeed, it is difficult to imagine a more quintessential chutzpah than the behavior of His Excellency, President Moshe Katzav. He is the supreme symbol of Israeli chutzpah. Katzav has been accused of the sexual harassment of several women who worked for him in the President's office, as well as in his earlier public offices... The affair in which he is involved dishonors the office and, indirectly, the entire state. "Citizen Number 1" has become the butt of jokes. One thing can be said in his favor: in his chutzpah, too, he symbolizes the state, or, at least, the ruling elite.
The king of chutzpah, its very personification, is the Prime Minister, Ehud Olmert. If he had a gram of shame, the minimum of decency, he would have resigned the day after the cease-fire. There is no need for an inquiry to decide the obvious: that he is guilty of a long line of disasters that have caused the death of a thousand human beings, including almost 200 Israelis - men, women, old people and children. It can be debated of what exactly to accuse Olmert: the starting of an unnecessary and hopeless war (as I believe), or "only" the incompetent conduct of the campaign from start to finish. But any one of these is enough for a decent person to go home and wait there for the results of the inquiries. But Olmert does not even dream of doing that. He continues as if nothing has happened. In the US this is called "stonewalling". He stands there naked like the emperor in the children's story. All the promises he made only a few months ago, during the election campaign, have dissipated like smoke in the wind. He has no political plan left. He has not even the ability to carry out any plan, if he had one. He has no time to think about anything, except his political survival... He objects to the investigation of the war through the instruments prescribed by law. He tries to set up a whitewash investigation by an unquestioningly loyal group chosen by himself. He goes on using every opportunity to make another of his banal, cliché-laden speeches, which do not contain a single word of truth, or even of interest. That is chutzpah. Not chutzpah in the harmless, jocular sense often signified by this word, but a dangerous, rude and aggressive chutzpah... His personal survival overshadows everything else, from the problem of the prisoner exchange to the daily killing of Palestinians in the West Bank and Gaza....
No need to waste words on the chutzpah of Amir Peretz. It speaks for itself. He bears personal responsibility for all the blunders of the war, from the unthinking decision to start it, up to the last military decision... The chutzpah of Peretz is almost bizarre. He achieved political power on the basis of his explicit promise to carry out basic social reforms. Not only did he ignore this promise, he did the very opposite. His effort to continue now as if nothing has happened and even to present himself as a social leader is pathetic.
But even these three champions - Katzav, Olmert and Peretz - pale in comparison with Dan Halutz... From a purely military point of view, Halutz is the greatest failure in the annals of the Israeli army. From a human point of view, he justified the prophecy that he has a brilliant future in the court of The Hague. From a political point of view, his understanding equals that of a primary school pupil (if the pupil community will excuse me.)... The boastfulness of the Air force, the arrogance of an incompetent general, the brutality of a person who is able to bring tragedy to hundreds of thousands without batting an eyelid - all of these were exposed during the war. As has been published, he told the government on the sixth day of the war that from that moment on there was no possibility of achieving anything more. Said so and did not demand to stop, said so and went on with the killing and destroying, day after day, night after night....Can a person who refuses to bear the responsibility for this entire bungled campaign demand that his subordinates shoulder theirs? When chutzpah is the norm in the army - what chance is there for its rehabilitation?
I know, there are several arguments for keeping the champions of chutzpah in office. There are no obvious alternatives. The bad may be replaced by worse. Olmert's resignation may lead to new elections, in which the more extreme Right may win. His resignation may also lead to the inclusion in the government of Avigdor Liberman, compared to whom the Frenchman Le Pen and the Austrian Haider are bleeding-heart liberals. Who can guess who and what might come after Halutz? All these arguments are valid, but they must give way to one simple demand: Chutzpah must not be allowed to reign. The acceptance of personal responsibility by the directors of the government and the army is an essential feature of a healthy society. It is a simple moral imperative, like the categorical imperative of Kant, an imperative that does not allow for any compromise."
Uri Avnery,  09/09/2006

B'Tselem: Violência de colonos judeus contra os nativos palestinos

A chamada Segunda Guerra do Líbano terminou em agosto. O mês de setembro, no conflito direto entre Israel e Palestina, começou no dia 05.
Foi quando o primeiro ministro israelense Ehud Olmert resolveu dar um golpe de propaganda para tentar melhorar a imagem desgastada com os horrores da campanha fracassada. Sua impopularidade estava no auge, o sangue de centenas de pessoas em suas mãos ainda não secara. No Líbano os hospitais ainda estavam lotados e os enterros coletivos ainda eram lembrados em todas as cidades; e em Israel, muitas famílias choravam as mortes dos filhos-soldados.
Nada melhor do que um desvio de atenção para dar ao povo um vislumbre da paz que, naquela hora, almejava.
Foi por isso que Olmert anunciou que concordava em encontrar o presidente da Autoridade Nacional Palestina Mahmoud Abbas para negociar.
E para ter certeza que a Autoriadade Palestina não concordaria com sua iniciativa dissimuladora, impôs uma condição impossível: que o Hamas libertasse o soldado da IDF que a resistência capturara. E isto, sem nenhuma contrapartida. Sem que Israel soltasse nenhum dos milhares de presos políticos palestinos.
Uma proposta tão absurda que pode parecer inacreditável que os israelenses engolissem a farsa batida.
Mas por mais absurdo que fosse a mascarada, este tipo de golpe publicitário sempre funciona dentro e fora de Israel. Como dizem, "a propaganda é alma do negócio". E é a progaganda que sempre prevalesceu e prevalesce neste conflito em que a verdade não vale nada. A cumplicidade voluntária ou induzida da grande mídia, interna e externa, não falha. Veicula a impostura como notícia de bom augúrio "esquecendo" as múltiplas enrolações do passado distante e de apenas um mês atrás. E quando os palestinos rejeitam o cavalo de Tróia, não tardam a chamá-los de mal-agradecidos.
O ardil da vez era que Olmert e a mídia esqueceram de mencionar o número de palestinos presos nas masmorras israelenses naquela data precisa: 9.003; 255 menores de idade.
Mas na história desta ocupação infame, uma simples manobra de comunicação já representa uma vitória política a mais para Israel, que angaria simpatia da opinião pública, nacional e internacional, e a paz que se dane.
Os familiares do soldado em questão ousaram apelar até para o governo francês, alegando a dupla-nacionalidade do filho.
(Como se o fato de escolher servir a IDF já não significasse que sua pátria era Israel e não a França. Mas nenhum jornalista francês jamais ousaria levantar esta lebreo, pois todos morrem de medo de dizer a verdade sobre o "conflito" e o lobby sionista tachá-lo de anti-semita.)
Na época a propaganda na França foi tanta que o "coitado do rapaz" suscitou pena e campanha contra os "malvados" palestinos que o detinham. 
Os nove mil e três palestinos que se encontravam em celas israelenses - 708 deles em "prisão administrativa", o que significa sem julgamento e sem direito nenhum (não é que os outros tivessem alguma regalia, é que pelo menos as acusações contra eles haviam sido formalizadas, bem que mal).
Portanto, sem mencionar os outros 8.295 palestinos detidos, no mínimo 708 deles se encontravam nas mesmas condições que o soldado israelense. Com uma diferença. Gilad Shalit era um soldado capturado em situação de serviço militar enquanto que a maioria dos prisioneiros palestinos são sequestrados dentro de casa, ou em checkpoints internos por uma bobagem. Sem contar os meninos que vão parar atrás das grades por reagirem a pedradas contra uma barreira que os impede de ir à escola ou simplesmente por estarem com um traque no bolso da calça. 
Mas como se sabe, para os sionistas do mundo inteiro, a vida de um israelense vale mil vezes mais do que a de um palestino. Portanto, a matemática é fácil.
Também é fácil deduzir que com a nova manobra a fama do Hamas piorou e o Primeiro Ministro de Israel foi elogiado pela "boa vontade".

No dia 22 de setembro, descrente de falsas promessas e irritado com mais este golpe baixo, o Hamas declarou que não participaria de nenhum governo que reconhecesse Israel, contradizendo assim a promessa feita por Mahmoud Abbas.
Abu Mazen (Abbas), sob pressão, prometera às Nações Unidas que a futura coalição reconheceria Israel e renunciaria à violência, sem exigir contrapartida de Israel.
E por ansiar tanto por um Estado, deu abertura para a desculpa que faltava. E pior ainda, a ruptura entre o Fatah e o Hamas foi efetivada.
Pois o simples uso da palavra 'violência' já demonstrava os dois pesos e duas medidas que o Hamas abominava.
"Por que nossa resistência ao ocupante é demonizada com o termo de violência e os abusos diários, sequestros, assassinatos, exterminações coletivas praticadas pelo infrator às leis internacionais são assetizados com o termo 'operação militar'? "
É uma questão aberta exposta constantemente aos repórteres.
Eu não sei que resposta dar. Quem sabe?

Seguindo a questão dos dois pesos e duas medidas de violência, no dia 04 de outubro, na Cisjordânia, três homens mascarados assassinaram a tiros um líder do Hamas na saída da mesquita que frequentava, e escaparam.
No dia 11, na Faixa de Gaza, a IDF, de um avião visível, lançou um míssil na casa da ativista do Hamas Mariam Farhat, recém-eleita deputada na eleição de janeiro de 2006.
O atentado fracassou, mas a jurista gazauí, que morreu em março de 2013 com 64 anos e cujo funeral foi seguido por mais de quatro mil pessoas com Ismail Hanyeh (Primeiro Ministro "desapropriado" da pasta) puxando o cortejo, merece parágrafo. É uma figura controvertida, mas querida por muitos gazauís.
O nome inteiro de Umm Nidal (Mãe de Nidal) era Mariam Mohammad Yusif Farhat. Nasceu em 1948, no ano da Naqba. Teve dez filhos. Todos foram criados com raiva do ocupante e os seis homens entraram nas Brigadas al-Qassam, a ala militar do Hamas, logo que tinham idade.
Mariam era chamada de extremista. Embora o extremismo dela fosse fichinha em comparação com o do ministro das Relações Exteriores israelense Avigdor Lieberman. Ela era mais era uma versão palestina do general Ehud Barak, guardando as proporções - Mariam não dispunha de um exército à sua disposição e sim de apenas dez filhos. E lutava por pátria e dignidade e não para uma limpeza étnica disfarçada.
Uma das frases que Umm Nidal pronunciava era  "The word 'peace' does not mean the kind of peace we are experiencing. This peace is, in fact, surrender and a shameful disgrace. Peace means the liberation of all of Palestine, from the Jordan River to the Mediterranean Sea. When this is accomplished - if they want peace, we will be ready. They may live under the banner of the Islamic state. That is the future of Palestine that we are striving towards."
Três de seus filhos foram 'mártires' - como são chamados os participantes de atentados suicidas e as vítimas de assassinatos do Shabak.
Umm Nidal ( nidal significa algo como 'labuta' em árabe) era uma mãe de família comum até 2002. Nesse ano ficou famosa, quando seu filho de 19 anos, Mohammed, levou a cabo um atentado suicida na colônia israelense Atzmona, na Faixa, em plena Intifada.
Sua celebridade chegou com um vídeo que a imprensa recebeu em que ela incentivava o filho ao ataque e o reconfortava. Mohammed foi o primeiro filho que perdeu, mas este ela perdeu consciente.
No vídeo, mãe e filho apareciam de mãos dadas e ela rezava por ele. Depois da gravação o rapaz entrou na invasão judia armado de granadas e metralhadora e matou cinco pessoas antes de ser abatido por um soldado.
A declaração de Mariam na época deu no que falar: "I wish I had 100 boys like Mohammad. I'd sacrifice them for the sake of God. When I see all the Jews in Palestine killed, that will be enough for me. I wish he will kill as many as he can, so they will be scared."
Da boca pra fora. Mohammed foi seu primeiro e último filho a protagonizar atentado suicida. Ela perdeu mais dois, mas foi de outro modo. Estes foram friamente executados.
No ano seguinte ao atentado de Mohammed, insatisfeito em ter destruído a casa da família (como era de praxe após um atentado suicida) e com a punição coletiva infligida à Faixa de Gaza com bombardeios retaliativos infindáveis, a sede de sangue de Israel ainda não fora saciada. Ainda precisavam tirar mais sangue e lágrimas da família. Portanto, sem correr risco e sem risco de receber o adjetivo depreciativo de 'terrorista' que Mohammed recebeu em todos os jornais ocidentais, em fevereiro de 2003 o Shin Bet assassinou Nidal, o primogênito da família Farhat. O Serviço Secreto interno israelense (tipo um SNI da época de nossos generais) o executou com uma penca de explosivos para ter certeza de não falhar.
Em 2005 a IDF continuou o trabalho de extermínio da família em um atentado desta vez por míssil. Bem de longe, do alto, lançou a bomba no carro de Rawad que morreu despedaçado.
O quarto filho de Mariam foi preso e continua atrás das grades. Os outros dois, no Hamas.
Entre 2006 e 2010 o Shin Bet organizaria e levaria a cabo três atentados contra Mariam. Inclusive um direto, de um batalhão especial da IDF que não conseguiu passar do jardim da casa. Nem Mariam nem as filhas sofreram nada, mas Emad Akel, um dos melhores artesãos de bombas do Hamas que há um ano ela escondia no porão de casa, foi assassinado durante o assalto.
Quando foi eleita deputada ela disse que continuava de luto pela morte dos filhos, mas que "jihad comes ahead of everything, including my feelings as a mother."
Ela é conhecida na Faixa de Gaza como "Khansa da Palestina". Khansa é uma célebre poetiza árabe do Século VII. Mariam Farhat já faz parte da história palestina de construção do Estado.

No dia 20 de outubro a IDF continuou sua campanha de assassinatos desta vez visando Ismail Hanyeh, na saída de uma mesquita. Ninguém imaginaria que Olmert chegasse a tentar livrar-se do líder do recém-eleito Primeiro Ministro e número 1 do Hamas na Faixa de Gaza.
Um batalhão inteiro das forças especiais da IDF interceptou a passagem de seu carro e do de seus guarda-costas. O carro na frente do dele foi incendiado e os outros foram crivados de balas.
Ismail escapou por um triz. Alguns de seus companheiros não tiveram a mesma sorte. O Primeiro Ministro destituído por seus inimigos salvou-se porque os agressores fugiram em seguida temendo a chegada de reforços das Brigadas al-Qassan.
A emboscada ao líder do Hamas foi só o preâmbulo de uma série de ataques terrestres e aéreos que a IDF efetuaria no mês seguinte a fim de semear o terror na Faixa de Gaza e "lavar a honra" manchada pelo fracasso deste atentado.
Ehud Olmert queria mostrar que um civil podia ser e seria tão duro e impiedoso quanto os generais que o precederam no cargo de primeiro ministro. Prosseguiria na mesma linha de Ehud Barak e do general Bulldozer. A derrota da campanha militar no Líbano tinha de ser lavada com mais morte ainda para seus compatriotas deixarem de lamentá-la.
Desta vez se asseguraria que todos os mortos fossem palestinos.

Documentário da ONG israelense B'TSELEM, 10/2006.
Prisoner's children (10')

"A genocide is taking place in Gaza. This morning, 2 September, another three citizens of Gaza were killed and a whole family wounded in Beit Hanoun. This is the morning reap, before the end of day many more will be massacred. An average of eight Palestinian die daily in the Israeli attacks on the Strip. Most of them are children. Hundreds are maimed, wounded and paralyzed.
The Israeli leadership is at a loss of what to do with the Gaza Strip. It has vague ideas about the West Bank. The current government assumes that the West Bank, unlike the Strip, is an open space, at least on its eastern side. Hence if Israel, under the ingathering program of the government, annexes the parts it covets — half of the West Bank — and cleanses it of its native population, the other half would naturally lean towards Jordan, at least for a while and would not concern Israel. This is a fallacy, but nonetheless it won the enthusiastic vote of most of the Jews in the country. Such an arrangement can not work in the Gaza enclave — Egypt unlike Jordan has succeeded in persuading the Israelis, already in 1948, that the Gaza Strip for them is a liability and will never form part of Egypt. So a million and half Palestinians are stuck inside Israel — although geographically the Strip is located on the margins of the state, psychologically it lies in its midst.
The inhuman living conditions in the most dense area in the world, and one of the poorest human spaces in the northern hemisphere, disables the people who live it to reconcile with the imprisonment Israel had imposed on them ever since 1967. There were relative better periods where movement to the West Bank and into Israel for work was allowed, but these better times are gone. Harsher realities are in place ever since 1987. Some access to the outside world was allowed as long as there were Jewish settlers in the Strip, but once they were removed the Strip was hermetically closed. Ironically, most Israelis, according to recent polls, look at Gaza as an independent Palestinian state that Israel has graciously allowed to emerge. The leadership, and particularly the army, see it as a prison with the most dangerous community of inmates, which has to be eliminated one way or another.
The conventional Israeli policies of ethnic cleansing employed successfully in 1948 against half of Palestine’s population, and against hundred of thousand of Palestinians in the West Bank are not useful here. You can slowly transfer Palestinians out of the West Bank, and particular out of the Greater Jerusalem area, but you can not do it in the Gaza Strip - once you sealed it as a maximum-security prison camp.
As with the ethnic cleansing operations, the genocidal policy is not formulated in a vacuum. Ever since 1948, the Israeli army and government needed a pretext to commence such policies. The takeover of Palestine in 1948 produced the inevitable local resistance that in turn allowed the implementation of an ethnic cleansing policy, preplanned already in the 1930s. Twenty years of Israeli occupation of the West Bank produced eventually some sort of Palestinian resistance. This belated anti-occupation struggle unleashed a new cleansing policy that still is implemented today in the West Bank. The Gaza imprisonment in the summer of 2005, which was paraded as an Israeli generous withdrawal, produced the Hamas and Islamic Jiahd missile attack and one abduction case. Even before the abduction of Giald Shalit, the Israeli army bombarded indiscriminately the Strip. Ever since the abduction, the massive killing increased and became systematic. A daily business of slaying Palestinians, mainly children is now reported in the internal pages of the local press, quite often in microscopic fonts.
The chief culprits are the Israeli pilots who have a field day now that one of them is the General Chief of Staff. In the 1982 Lebanon war, the Israeli airforce issued orders to its pilots to abort mission if within 500 square meters of their target they spotted innocent civilians. Not that these orders were kept, but the pretense for internal moral consumption was there. It is called in the Israeli airforce, the “Lebanon Procedure” [Nohal Levanon]. When the pilots asked a year ago if the “Lebanon Procedure” is in tact for Gaza, the answer was no. The same answer was given to the pilots in the second Lebanon war.
The Lebanon war provided the fog for a while, covering the war crimes in the Gaza Strip. But the policies rage on even after the conclusion of the cease-fire up in the north. It seems that the frustrated and defeated Israeli army is even more determined to enlarge the killing fields in the Gaza Strip. There are no politicians who are able or willing to stop the generals. A daily killing of up to 10 civilians is going to leave few thousands dead each year. This is of course different from genociding a million people in one campaign — the only inhibition Israel is willing to undertake in the name of the Holocaust memory. But if you double the killing you raise the number to horrific proportions and more importantly you may force a mass eviction in the end of the day outside the Strip — either in the name of human aid, international intervention or the people’s own desire to escape the inferno. But if the Palestinian steadfastness is going to be the response, and there is no reason to doubt that this will the Gazan reaction then the massive killing would continue and increase.
Much depends on the international reaction. When Israel was absolved from any responsibility or accountably for the ethnic cleansing in 1948, it turned this policy into a legitimate tool for its national security agenda. If the present escalation and adaptation of genocidal policies would be tolerated by the world, it would expand and used even more drastically.
Nothing apart from pressure in the from of sanctions, boycott and divestment will stop the murdering of innocent civilians in the Gaza Strip. There is nothing we here in Israel can do against it. Brave pilots refused to partake in the operations, two journalists — out of 150 — do not cease to write about it, but this is it. In the name of the Holocaust memory, let us hope the world will not allow the genocide of Gaza to continue".
Ilan Pappe is senior lecturer in the University of Haifa Department of political Science and Chair of the Emil Touma Institute for Palestinian Studies in Haifa. His books include among others The Making of the Arab-Israeli Conflict (London and New York 1992), The Israel/Palestine Question (London and New York 1999), A History of Modern Palestine (Cambridge 2003), The Modern Middle East (London and New York 2005) and forthcoming, Ethnic Cleansing of Palestine (2006).

Alternative Focus: Wall of Shame

"Is it possible fo force a whole people to submit to foreign occupation by starving it?
That is, certainly, an interesting question. So interesting, indeed, that the governments of Israel and the United States, in close cooperation with Europe, are now engaged in a rigorous scientific experiment in order to obtain a defitinive answer.
The laboratory for the experiment is the Gaza Strip, and the guinea pigs are the million and a quarter Palestinians living there.
In order to meet the required scientific standards, it was necessary first of all to prepare the laboratory.
That was done in the following way: First, Ariel Sharon uprooted the Israeli settlements that were stuck there. After all, you can't conduct a proper experiment with pets roaming around the laboratory. It was done with "determination and sensitivity", tears flowed like water, the soldiers kissed and embraced the evicted settlers, and again it was shown that the Israeli army is the most-most in the world.
With the laboratory cleaned, the next phase could begin: all entrances and exits were hermetically sealed, in order to eliminate disturbing influences from the world outside. That was done without difficulty. Successive Israeli governments have prevented the building of a harbor in Gaza, and the Israeli navy sees to it that no ship approaches the shore. The splendid international airport, built during the Oslo days, was bombed and shut down. The entire Strip was closed off by a highly effective fence, and only a few crossings remained, all but one controlled by the Israeli army.
There remained a sole connection with the outside world: the Rafah border crossing to Egypt. It could not just be sealed off, because that would have exposed the Egyptian regime as a collaborator with Israel. A sophisticated solution was found: to all appearances the Israeli army left the crossing and turned it over to an international supervision team. Its members are nice guys, full of good intentions, but in practice they are totally dependent on the Israeli army, which oversees the crossing from a nearby control room. The international supervisors live in an Israeli kibbutz and can reach the crossing only with Israeli consent.
So everything was ready for the experiment.
The signal for its beginning was given after the Palestinians had held spotlessly democratic elections, under the supervision of former President Jimmy Carter. George Bush was enthusiastic: his vision of bringing democracy to the Middle East was coming true.
But the Palestinians flunked the test. Instead of electing "good Arabs", devotees of the United States, they voted for very bad Arabs, devotees of Allah. Bush felt insulted. But the Israeli government was ecstatic: after the Hamas victory, the Americans and Europeans were ready to take part in the experiment. It could start:
The United States and the European Union announced the stoppage of all donations to the Palestinian Authority, since it was "controlled by terrorists". Simultaneously, the Israeli government cut off the flow of money.
To understand the significance of this: according to the "Paris Protocol" (the economic annex of the Oslo agreement) the Palestinian economy is part of the Israeli customs system. This means that Israel collects the duties for all the goods that pass through Israel to the Palestinian territories - actually, there is no other route. After deducting a fat commission, Israel is obligated to turn the money over to the Palestinian Authority.
When the Israeli government refuses to pass on this money, which belongs to the Palestinians, it is, simply put, robbery in broad daylight. But when one robs "terrorists", who is going to complain?
The Palestinian Authority - both in the West Bank and the Gaza Strip - needs this money like air for breathing. This fact also requires some explanation: in the 19 years when Jordan occupied the West Bank and Egypt the Gaza Strip, from 1948 to 1967, not a single important factory was built there. The Jordanians wanted all economic activity to take place in Jordan proper, east of the river, and the Egyptians neglected the strip altogether.
Then came the Israeli occupation, and the situation became even worse. The occupied territories became a captive market for Israeli industry, and the military government prevented the establishment of any enterprise that could conceivably compete with an Israeli one.
The Palestinian workers were compelled to work in Israel for hunger wages (by Israeli standards). From these, the Israeli government deducted all the social payments levied on Israeli workers, without the Palestinian workers enjoying any social benefits. This way the government robbed these exploited workers of tens of billions of dollars, which disappeared somehow in the bottomless barrel of the government.
When the intifada broke out, the Israeli captains of industry and agriculture discovered that it was possible to get along without the Palestinian workers. Indeed, it was even more profitable. Workers brought in from Thailand, Romania and other poor countries were ready to work for even lower wages and in conditions bordering on slavery. The Palestinian workers lost their jobs.
That was the situation at the beginning of the experiment: the Palestinian infrastructure destroyed, practically no means of production, no work for the workers. All in all, an ideal setting for the great "experiment in hunger".
The implementation started, as mentioned, with the stoppage of payments.
The passage between Gaza and Egypt was closed in practice. Once every few days or weeks it was opened for some hours, for appearances' sake, so that some of the sick and dead or dying could get home or reach Egyptian hospitals.
The crossings between the Strip and Israel were closed "for urgent security reasons". Always, at the right moment, "warnings of an imminent terrorist attack" appeared. Palestinian agricultural products destined for export rot at the crossing. Medicines and foodstuffs cannot get in, except for short periods from time to time, also for appearances, whenever somebody important abroad voices some protest. Then comes another "urgent security warning" and the situation is back to normal.
To round off the picture, the Israeli Air Force bombed the only power station in the Strip, so that for a part of the day there is no electricity, and the water supply (which depends on electric pumps) stops also. Even on the hottest days, with temperatures of over 30 degrees centigrade in the shade, there is no electricity for refrigerators, air conditioning, the water supply or other needs.
In the West Bank, a territory much larger than the Gaza Strip (which makes up only 6% of the occupied Palestinian territories but holds 40% of the inhabitants), the situation is not quite so desperate. But in the Strip, more than half of the population lives beneath the Palestinian "poverty line", which lies of course very, very far below the Israeli "poverty line". Many Gaza residents can only dream of being considered poor in the nearby Israeli town of Sderot.
What are the governments of Israel and the US trying to tell the Palestinians? The message is clear: You will reach the brink of hunger, and even beyond, if you do not surrender. You must remove the Hamas government and elect candidates approved by Israel and the US. And, most importantly: you must be satisfied with a Palestinian state consisting of several enclaves, each of which will be utterly dependent on the tender mercies of Israel.
At the moment, the directors of the scientific experiment are pondering a puzzling question: how on earth do the Palestinians still hold out, in spite of everything? According to all the rules, they should have been broken long ago!
Indeed, there are some encouraging signs. The general atmosphere of frustration and desperation creates tension between Hamas and Fatah. Here and there clashes have broken out, people were killed and wounded, but in each case the deterioration was halted before it became a civil war. The thousands of hidden Israeli collaborators are also helping to stir things up. But contrary to all expectations, the resistance did not evaporate. Even the captured Israeli soldier has not been released.
One of the explanations has to do with the structure of Palestinian society. The Hamulah (extended family) plays a central role there. As long as one person in the family is working, the relatives, too, do not die of hunger, even if there is widespread malnutrition. Everyone who has any income shares it with all his brothers and sisters, parents, grandparents, cousins and their children. That is a primitive system, but quite effective in such circumstances. It seems that the planners of the experiment did not take this into account.
In order to quicken the process, the whole might of the Israeli army is now being used again, as from this week. For three months the army was busy with the Second Lebanon War. It became apparent that the army, which for the last 39 years has been employed mainly as a colonial police force, does not function very well when suddenly confronted with a trained and armed opponent that can fight back. Hizbullah used deadly anti-tank weapons against the armored forces, and rockets rained down on Northern Israel. The army has long ago forgotten how to deal with such an enemy. And the campaign did not end well.
Now the army returns to the war it knows. The Palestinians in the Strip do not (yet) have effective anti-tank weapons, and the Qassam rockets cause only limited damage. The army can again use tanks against the population without hindrance. The Air Force, which in Lebanon was afraid to send in helicopters to remove the wounded, can now fire missiles at the houses of "wanted persons", their families and neighbors, at leisure. If in the last three months "only" 100 Palestinians were killed per month, we are now witnessing a dramatic rise in the number of Palestinians killed and wounded.
How can a population that is hit by hunger, lacking medicaments and equipment for its primitive hospitals and exposed to attacks on land, from sea and from the air, hold out? Will it break? Will it go down on its knees and beg for mercy? Or will it find inhuman strength and stand the test?
In short: What and how much is needed to get a population to surrender?
All the scientists taking part in the experiment - Ehud Olmert and Condoleezza Rice, Amir Peretz and Angela Merkel, Dan Halutz and George Bush, not to mention Nobel Peace Price laureate Shimon Peres - are bent over the microscopes and waiting for an answer, which undoubtedly will be an important contribution to political science.
I hope the Nobel Committee is watching."
Uri Avnery. 14/10/2006

Reservista da IDF, forças israelenses de ocupação,
Shovrim Shtika - Breaking the Silence 

US Campaign to End the Israeli Occupation : The .... Professor Jonathan Scott draws parallels between the conditions of Palestinians under occupation.