domingo, 25 de agosto de 2013

Israel vs Palestina: História de um conflito XXXVIII Bis Rachel, Tom, James (2003)


O escritor português nobelizado José Saramago foi crucificado anos atrás por causa das declarações indignadas que fez sobre a ocupação da Palestina ao retornar da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
É claro que as críticas vieram de pessoas que ainda não conseguem ver que grande parte dos judeus que emigraram para o Oriente Médio viraram algozes dos nativos. Ou/e de pessoas que nunca puseram os pés nos territórios ocupados e não querem enxergar o que está na cara.
Na época ouvia colegas brasileiros criticarem Saramago, engolia em seco, pensava que ignorância é mesmo cega e só limitável pelo conhecimento, pensava. Tentava explicar o porquê de concordar com Saramago e no final deixava a pessoa de lado porque, perdoe o clichê, o pior cego é o que não quer ver, mesmo. A vida me ensinou a calar a boca socialmente e fazer o meu trabalho em vez de polemicar. Tem mais utilidade.
Mas não baixo os braços.
Pois como dizia outro homem de letras, Vaclav Havel - escritor-poeta-dramaturgo tcheco perseguido, maltratado, resistente durante o período negro da ditadura stalinista na então Tchecoslováquia: "Até um ato puramente moral que não tenha nenhuma esperança de efeito político imediato e visível pode, gradual e indiretamente, com o tempo, ganhar em importância política." E servir a Justiça.
O tempo e a história provaram que Vaclac estava certo. O muro de Berlin caiu e ele foi eleito presidente da República Tcheca que é hoje uma democracia.
É claro que todos sofrem neste conflito entre Israel e a Palestina. Isto é indiscutível. Porém, a vítima é o que sofre a ocupação, o arbítrio, que é humilhado e despojado e não o ocupante que pode (e deve) ir embora pra casa do outro lado da Linha Verde.
O ocupante é fora-da-lei, contra a Organização das Nações Unidas que foi criada após a Segunda Guerra Mundial justamente para proteger o mundo de limpeza étnica e iniquidade de Estado sobre Estado.
Quer queira quer não, o infrator é o que infringe as leis que regem a justiça entre os povos. A razão está do lado do que o Direito Internacional apoia. Direito que tem de vigorar com imparcialidade em toda circunstância quaisquer que sejam os beligerantes.
Se não, tem de ser extinto de uma vez por todas e as Nações desunidas se submeterem ao jugo da força aterrorizante do país mais armado do planeta, sem piscar nem mexer um dedo. Aí ficaremos todos aos EUA dará.
Mas isto é roteiro de filme hollywoodiano de catástrofe máxima. Ainda não chegamos a este ponto. Enquanto tiver Justos na Terra ela tem chance de ser humana.
Justos como os que lutam por causas universais além das próprias.      
Na Cisjordânia e na Faixa de Gaza há vários estrangeiros assim, que fazem trabalho anônimo em prol dos Direitos Humanos e da justiça; um labor de formiga de conscientes cidadãos do mundo que querem fazer algo pela humanidade e por sua própria evolução humana.
Uns lá estão a trabalho engajado, outros de passagem, e muitos agregados ao ISM (International Solidarity Movement), ONG que defende a causa da Justiça na Palestina.
No capítulo anterior da história do conflito Israel vs Palestina, terminamos 2003 com Rachel. Como fico emocionada com estes jovens e menos jovens que se opõem aos soldados da IDF, aos bulldozers armados, à opressão quotidiana do muro e da violência dos colonos judeus contra os palestinos em seus territórios ocupados civil e militarmente pelos israelenses, resolvi homenagear todos eles acedendo aos pedidos de lembrar os que tombaram durante a Intifada no ano que concluí na semana passada.
Rachel Corrie, Tom Hurndal e James Miller faziam parte desse grupo de Justos e ficaram para a história do conflito porque, além de serem seres mais humanos do que o normal, suas vidas foram encurtadas por um caterpillar armado ou uma bala de sniper bem mirada.
São dignos de respeito e respeitados por quem teve o privilégio de conhecê-los e pelos que valorizam atos morais mais do que moralismo discursivo e militância de bar.
Durante a Segunda Intifada, o ISM perdeu dois ativistas e o mundo perdeu três seres que honram o gênero humano.
ISM reune pacifistas israelenses, palestinos e estrangeiros que trabalham pela libertação da Palestina. Utilizam métodos não-violentos de resistência e de ações diretas de afrontamento às forças ilegais de ocupação na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
Apoiam o direito de resistência à ocupação - previsto no Direito Internacional; reivindicam o fim imediato da ocupação, o respeito e a aplicação das resoluções da ONU e intervenção internacional imediata a fim de proteger o povo palestino e exigir que Israel respeite as leis internacionais. http://palsolidarity.org/join/
O blog de hoje é em homenagem a James, Juliano, Rachel, Tom, Vittorio, a todos os ativistas e idealistas ativos dentro e fora da Palestina, e a José Saramago que foi injusta e malevolentemennte difamado.

"A man's moral conscience is the curse he has to accept from the gods in order to gain from them the right to dream."
William Faulkner

Aliás, já em 2002 a IDF matara um funcionário das Nações Unidas.
Iain Hook nasceu na Inglaterra em 1948, era casado, tinha dois filhos e trabalhava na UNRWA, Agência da ONU encarregada de refugiados.
Em outubro foi enviado a Jenin, na Cisjordânia,  como diretor do projeto de reconstrução de campo de refugiados para treze mil palestinos cujas casas foram destruídas na Operação Defensive Shield, de Ariel Sharon.
Iain foi assassinado por um atirador especial da IDF no dia 22 de novembro.
Após investigação, o veredito da justiça da Inglaterra foi de assassinato desleal. O país submeteu o caso à ONU que estabeleceu uma Resolução condenando Israel, esta foi vetada pelos Estados Unidos e o crime ficou impune.

"Perfection of moral virtue does not wholly take away the passions, but regulates them."
São Thomas de Aquino

Em 2003 a primeira vítima da IDF foi Rachel, a primeira ativista do ISM a ser friamente assassinada.
Rachel Corrie nasceu em Olympia, no estado de Washington, nos Estados Unidos, em uma família normal de classe média.
Entrou na Universidade, trabalhou em uma ONG de ajuda a crianças com problemas mentais, e de ato em ato desinteressado, acabou aderindo ao ISM para tentar fazer algo para mudar o status quo que Israel impusera nos terrirórios ocupados.
Primeiro, montou um projeto de intercâmbio solidário entre as crianças de Olympia e de Rafah e no ano de sua formatura propôs um programa de estudo independente que compreendia pesquisa de campo.
Viajou em janeiro de 2003 para a Palestina, seguiu um curso de dois dias no ISM na Cisjordânia, foi para Rafah e lá descobriu o quanto era privilegiada e quão aquém da imaginação era o horror da situação em que os palestinos se encontram.
Eis um extrato de email enviado aos pais. 
"Faz duas semanas e uma hora que estou na Palestina e continuo com poucas palavras para descrever o que vejo. É mais difícil ainda pensar no que está acontecendo aqui quando me sento para escrever para os Estados Unidos - algo como um portal virtual para o luxo.
Não sei se muitas das crianças aqui já viveram sem rombos de bombas nas paredes e torres de um exército ocupante os vigiando constantemente. Acho, sem certeza, que nem a criança menorzinha entende que a vida não é assim em todo lugar.
Dois dias antes da minha chegada um menininho de oito anos foi morto por um soldado israelense e muitos meninos murmuram o nome dele, "Ali", quando me vêem ou apontam os cartazes nas paredes.
Eles gostam de praticar o árabe comigo e me perguntam Kaif Sharon? Kaif Bush? e eu respondo Bush majnun Sharon majnun (Como vai Bush, Sharon? Bush Sharon são loucos) e alguns adultos me corrigem: Bush mish Majnun... (Bush é um homem de negócios). Hoje tentei dizer Bush é uma ferramenta.
Os meninos de oito anos aqui sabem mais da estrutura do poder mundial do que eu sabia até poucos anos atrás - no tocante a Israel.
De qualquer jeito, acho que nenhuma leitura, conferência, documentário e relatos poderiam ter me preparado para a realidade. Não dá para imaginar, sem ter visto, e mesmo assim ainda não é a realidade: o que aconteceria com a IDF se atirasse em um cidadão dos EUA desaramado, e o fato de eu ter dinheiro para comprar água quando os soldados destroem os poços, e, é claro, tenho a opção de ir embora. Ninguém na minha família foi bombardeado e ninguém é visado de uma guarita na rua principal da minha cidade.
Tenho casa. Tenho direito de ver o mar. É difícil me prenderem durante meses e anos sem julgamento, já que sou cidadã estadunidense. Quando saio para a escola tenho certeza de não encontrar soldados armados até os dentes em um checkpoint com o poder de decidir se posso ou não seguir em frente e se puder, se vou poder ou não voltar para casa depois.
É revoltante chegar e entrar breve e incompletamente no mundo destas crianças, e me pergunto como seria para eles, chegar no meu mundo. Eles sabem que não é comum nos Estados Unidos os pais serem baleados e sabem que de vez em quando vê-se o mar, sobretudo quando está do lado. Mas quando se vive em um lugar tranquilo em que nem se cogita no valor da água e ela não é roubada por bulldozers durante a noite, e quando se passa uma noite sem se preocupar se você não vai acordar com soldados invadindo sua casa ou as paredes sendo derrubadas, e quando se conhece pessoas que perderam tudo - quando se vive a realidade de um mundo rodeado de assassinos, tanques, colonos armados e um muro gigante de metal, pergunto-me se dá para perdoar o mundo pelos anos de infância gastos existindo - apenas existindo - resistindo ao constante estragulamento da quarta potência militar do planeta apoiada pela maior potência mundial - em sua tentativa de apagá-lo de sua casa.
Isto é algo que me pergunto sobre estas crianças.
Pergunto-me o que aconteceria se eles realmente soubessem.
Estou em Rafah, uma cidade de 140 mil pessoas, 60% das quais são refugiados - muitos pela segunda ou terceira vez de êxodo forçado.
Rafah já existia antes de 1948, mas a maioria dos habitantes atuais são descendentes de famílias relocalizadas aqui de suas casas na Palestina - hoje Israel. Rafah foi cortada na metade quando o Sinai foi devolvido ao Egito. O exército israelense está construindo um muro de 14 metros de altura entre Rafah e o Egito, construindo uma no-mans land no lugar de residências que se encontram na fronteira. Seiscentas casas já foram destruídas pelos bulldozers e o número de casas parcialmente destruídas é maior ainda.
Além da presença constante de tanques nas fronteiras, tem tantas guaritas que perdi a conta. Não existe enhum lugar aqui sem guaritas com soldados vigiando seus passos. E é claro que não tem nenhum lugar inacessível aos helicópteros apache ou às câmeras de zepelins invisíveis cujo barulho se escuta durante horas em cima da cidade.
Espero que vocês venham aqui. Meu grupo internacional é de seis pessoas. Nossa presença foi solicitada nos bairro Yibna, Tel El Sultan, Hi Salam, Block J, Zorob, Block O e Brasil. Eles precisam também de presença noturna constante em um poço perto de Rafah para que a IDF não o bombardeie, já que acabaram de destruir duas fontes de água em Rafah. Fiquei sabendo que a cisterna que a IDF destruiu na semana passada fornecia a metade da água que a população usava. Depois das dez horas da noite é muito difícil sair na rua porque os soldados israelenses atira em qualquer um. Muitas comunidades solicitram presença internacional para formar escudos que impeçam a demolição de mais casas. Somos pouco demais.
Os palestinos seguem a mídia internacional e me disseram que está tendo marchas de protest nos Estados Unidos e na Inglaterra. Então obrigada por não me fazer sentir uma completa Polyanna quando tento dizer às pessoas aqui que tenho muitos compatriotas que não concordam com a política governamental e que estamos aprendendo, com exemplos estrangeiros, a resistir."
Foi um dos bulldozers que Rachel condenava que a esmagou no dia 16 de março de 2003.
Foi seu caso que foi julgado após uma longa campanha feita pela família e o soldado foi absolvido "pelo acidente" que os ocidentais presentes garantiam ter sido proposital.  
"I feel like I'm witnessing the systematic destruction of a people's ability to survive ... Sometimes I sit down to dinner with people and I realize there is a massive military machine surrounding us, trying to kill the people I'm having dinner with," disse Rachel, dois dias antes de ser esmagada.

"It is curious that physical courage should be so common in the world and moral courage so rare."
Mark Twain

O assassinato de Rachel não foi dissuasivo, e sim um motivo para outros jovens estrangeiros abraçarem a causa palestina.
Em abril do mesmo ano 2003 a IDF fez outra vítima, o inglês Tom Hurndall, de 21 anos.
Tom era estudante de fotografia, daqueles jovens afoitos que abraçam o idealismo crítico de Kant e o idealismo absoluto de Hegel com sofreguidão e não discansam enquanto não tiverem posto ambos em prática e em profusão.
Os jornalistas cansados de guerra, céticos, empedernidos, costumam tratar com condescendência estes jovens quando cruzam caminho - os que ainda acreditam que dá para mudar o mundo costumam ajudá-los o quanto possível.
Seu primeiro ato militante foi em Bagdá, onde junto com dezenas de outros cidadãos ocidentais anônimos, transformou-se em escudo humano contra o bombardeio de Inglaterra e Estados Unidos. Em vão.
De lá para a Palestina foi um pulo compreensível em sua trajetória idealista.
Chegou como voluntário do ISM e o choque com a realidade quotidiana dos palestinos foi brutal.
Foi para Rafah e lá seguiu os passos de Rachel, tentando evitar demolição de casas e outras arbitrario-iniquidades da IDF e dos colonos.
Logo conquistou os adultos e a meninada gazauí com sua alegria e determinação de não ser cúmplice de Israel em nada.
No dia 11 de abril em que foi baleado, ele estava andando na rua com um grupo do ISM, em Rafah, vestido com o colete laranja fluorescente dos ativistas estrangeiros, facilmente identificável de longe, quando franco-atiradores da IDF abriram fogo contra os moradores.
Tom viu que três crianças de 4 a 7 anos ficaram paralisadas de medo e voltou para salvá-las. Pôs o menino a salvo e foi buscar as duas menininhas. Estava claramente desarmado e usando o colete de cor espalhafatosa inconfundível dos ativistas - facilmente identificável à distância até por miopíssimos. Quando estendeu os braços para pegá-las, levou um tiro na cabeça.
Seus companheiros prestaram socorro imediato, mas a ambulância teve de esperar duas horas na barragem antes que ele fosse levado para o hospital em Be'er Sheva, de onde foi transportado para a Inglaterra. Ficou em estado de coma até os aparelhos serem desligados nove meses mais tarde.
O Tribunal britânico declarou o assassinato ilegal, mas em Israel, após meses de finta e trâmites surreais, o tribunal militar condenou o soldado por obstrução à justiça, ou seja, por ter mentido sobre os fatos e por morte acidental. A sentença foi de onze anos e meio de prisão. O assassino foi solto em 2010 por "bom comportamento", sem servir nem metade da pena.
 Um dia, Tom escreveu em seu diário:
"Acordei por volta das oito horas em Jerusalém e saímos às dez horas. Desde então, já fui atacado com gás, bala, perseguido por soldados, granadas foram jogadas do meu lado e fui atingido por estilhaços... quando nos aproximamos da área foi estranho, com as balas voando, senti um frio na barriga, mas foi só. Tinha certeza que estávamos sendo vigiados, seguidos, e que minha vida dependia da decisão de um soldado ou de um colono puxar ou não o gatilho..."

"The darkest places in hell are reserved for those who maintain their neutrality in times of moral crisis".
Dante Alighieri

A terceira vítima estrangeira do ano 2003 fatídico foi o produtor-documentarista gaulês James Miller, várias vezes premiado inclusive com o Emy nos Estados Unidos.
James também foi vítima de tiro mortal de outro sniper da IDF, no dia 02 de maio, em Rafah.
A investigação britânica concluiu em assassinato ilegal.
O Tribunal israelense absolveu o assassino argumentando que não havia provas de quem tinha sido responsável pelo crime. Os advogados ingleses contra-argumentaram com provas, mas as autoridades israelenses ignoraram os apelos.
James tinha 34 anos e estava em Rafah trabalhando em um documentário (abaixo) que passou na HBO mesmo sem ter sido terminado.

"Moral excellence comes about as a result of habit. We become just by doing just acts; temperate by doing temperate acts, brave by doing brave acts."
Aristóteles

POST SCRIPTUM:
Por causa dos assassinatos citados acima, mais o de Vittorio Arrigoni e Juliano Mer-Khamis, os ativistas estrangeiros são menos visados e não correm nem um milésimo do perigo que corre um palestino no dia a dia. Atualmente os soldados andam correndo dos coletes laranja fluorescentes porque não querem problemas internacionais. Pois embora a justiça israelense só puxe as orelhas dos assassinos que viram herois para os extremistas sionistas, os assassinatos geram má publicidade que os persegue a vida inteira. Querendo ou não, matar não é assim tão fácil como se pensa; sobretudo quando o assassino é apontado com o dedo; como acontece quando um soldado mata um estrangeiro.
Vittorio: http://mariangelaberquo.blogspot.fr/2011/04/vittorio-arrigoni-o-martir-que-faltava.html
Juiano: http://mariangelaberquo.blogspot.fr/2012/12/teatro-da-liberdade-de-jenin-lava-alma.html

"The hope of a secure and livable world lies with disciplined nonconformists who are dedicated to justice, peace and brotherhood.
Injustice anywhere is a threat to justice everywhere."
Martin Luther King

Documentário: Rachel, an American Conscience

Documentário Journeyman: Dying for Palestine (Tom Hurndall)

Documentário de James Miller: Death in Gaza

Livro : The Only House Left Standing - The Middle East Journals of Tom Hurndall
De Tom Hurndall e Robert Fisk. Editora Trolley Books
          Filme do Channel 4 britânico (trailer): 
The Shooting of Thomas Hurndall 8)
Direção de Rowan Joffe, com Kerry Fox, Stephen Dillane, Bader Alami, Ziad Backry, Mark Bazeley.  


domingo, 18 de agosto de 2013

Iraque, Síria, Egito, a mesma sina?

O cartoon ao lado está bombando nas redes sociais do Egito. Que, diga-se de passagem, está vivendo o pior momento de sua história contemporânea.
O filósofo francês Henri Bergson dizia que O olho enxerga o que a mente está preparada para entender. Talvez daí venham os erros de projeção analítica da imprensa e da diplomacia estrangeira em relação ao Egito, e de forma geral, aos eventos mal-antecipados inclusive localmente.
Eu também erro porque sou humana. Mas, modéstia às favas, erro menos do que a maioria. Pois, além de ter estudado pra danar, sou picuinha, tento sempre entender o que não vejo. Procuro sempre o leão invisível na fotografia mas que está lá, sei, agachado no mato pronto para o ataque ao menor sinal de ameaça ou quando quer e precisa alimentar-se.
Assim é a natureza. Assim é a sociedade em que vivemos.
Acerto a maioria das minhas análises por causa disso. Desta teimosia que me marginaliza no meio dos que veem o que está na cara e negligenciam o que está escondido - ora por comodismo, ora por partidarismo, ora por ignorância histórica.
Ora também porque a tendência natural de um analista é "prever" o que lhe parece mais adequado e melhor para o lugar, para as pessoas envolvidas e as possibilidades do momento histórico.
O problema é que os protagonistas da história em curso nem sempre ou raramente têm o bom senso dos que estão de fora.
O sucesso do cartoon acima é porque, de repente, a população inteira que hoje detesta o primo-irmão-vizinho que pensa diferente - Irmandade Muçulmana e oponentes - só concorda em um ponto. Estão todos convencidos que as potências ocidentais, sobretudo EUA, Inglaterra e Israel, estão ajudando o adversário do momento.
A sociedade egípcia está dividida, famílias partidas, amizades rompidas.
A "diplomacia" desses países acima erraram tanto em suas declarações e ações, que conseguiram alienar gregos e troianos. Hoje, no Egito, os únicos amigos destes países são os militares que precisam deles.
Nunca se viu no Egito tanta xenofobia, tamanha raiva dos estrangeiros, ocidentais, e até dos refugiados palestinos que lá vivem há tempos.
Os jornalistas, como sempre, pagam o pato pelo mal-entendido. Talvez porque, no fundo, a culpa seja nossa de dar informações baseadas no que nossa mente está querendo aceitar e não no fato como ele (não) se apresenta.
Foi o que aconteceu em relação ao Iraque, Síria, e agora Egito.
Com o Iraque, a antipatia geral por Saddam Hussein era tanta que a imprensa preferiu engolir as mentiras das armas químicas oferecidas por Tony Blair e George W. Bush do que questioná-la e procurar a verdade em Bagdá, na fonte. Combati a invasão, disse que duvidava da existência de armas químicas, e que o Iraque não estava maduro o suficiente para "perder" Saddam Hussein. Os fatos provaram que eu  estava certa do começo ao fim. Inclusive na desordem sectária incontrolável que seguiria e persiste.
Com a Síria, a antipatia pelos Assad pai e filho também embaçou o julgamento da grande maioria e continua embaçando o de muitos. Quando disse há dois anos que a revolta não era popular, que havia extremistas estrangeiros demais infiltrados entre os "rebeldes", que a Síria estava caminhando para um desastre, os "humanistas" me olhavam ressabiados. Era como se eu tivesse virado a casaca das causas humanitárias e virado direitista. O tempo e o óbvio mostraram que eu estava certa. Ruim com Assad, pior em ele. Espero que os ocidentais caiam na real e incitem os "rebeldes" divididíssimos pela sede de poder a admitir o óbvio e deixá-lo fazer as reformas que promete.
Com o Egito foi um pouco o mesmo. A reticência de reconhecimento Ocidental (leia-se EUA) do fim de Hosni Mubarak facilitou a vitória da Irmandade Muçulmana nas eleições presidenciais.
Mas a culpa não é apenas dos Estados Unidos. Não diretamente, é claro.
No caso do Egito, todos os protagonistas oficiais se super-estimaram.
Durante os primeiros meses após a derrubada de Mubarak foram os militares.
Fizeram tudo para marginalizar os democratas, a juventude revolucionária que exigia mudanças imediatas. E colheram a radicalização que semearam.
Depois foi o presidente eleito Mohamed Morsi e a Irmandade Muçulmana que ele representava. Ignorantes do processo democrático por jamais o terem experimentado, interpretaram uma vitória eleitoral apertada como um mandato para reinarem solitários. Deram murro em ponta de faca, Morsi achou que mantinha os generais no laço, e deu com os burros n'água.
Em seguida os militares voltaram a errar quando deram o golpe no dia 03 de julho e quando procederam ao massacre do dia 14 de agosto. Em vez de engajar um diálogo, apostaram e continuam apostando na eliminação permanente da Irmandade Muçulmana, como se ainda fossem capazes, e da oposição que não lhes for favorável.
Só para lembrar, a Irmandade Muçulmana foi dissolvida em 1954, mas registrou-se como ONG em março em resposta a contestação jurídica de sua legalidade. Foi fundada em 1928 e tem uma representação política registrada como Freedom and Justice Party, que elegeu Morsi.
A nova ideia do primeiro ministro "interino" Hazem el-Beblawi de dissolver a Irmandade Muçulmana como fizera Hosni Mubarak é, no mínimo, um tiro no escuro. E o que vão fazer com os milhares de simpatizantes cujas asas cresceram durante o governo Morsi e dos revoltados com os mortos?
Os governos ocidentais também querem livrar-se dela, da Irmandade Muçulmana, e por isso a mídia só ouviu e transmitiu de imediato a "queda" de Morsi em vez de "golpe" contra o Presidente eleito.
Eu fui um dos poucos jornalistas a dar nome aos bois de imediato. Por que os demais se calaram e repetiram a lenga lenga de Washington?
Voltando à Irmandade Muçulmana, o paradoxo de sua diabolização no Egito é que é o mesmo partido que os mesmos ocidentais apoiam na Síria contra Bashar el-Assad. Não por achá-la democrática e viável, é claro, mas por miopia. Pelo imdediatismo corrosivo que caracteriza a diplomacia e a "Inteligência" gringa.
Primeiro, tirar o inimigo de Israel de Damasco. Depois, lidar com os estragos causados pelos novos donos do poder que foram apoiados.
Não se há de esquecer que o pai de Bashar, Hafez el-Assad, expulsou a Irmandade do país há mais de três décadas e a "revolta" que começou há dois anos foi justamente desta organização que queria recuperar os direitos que o Partido Ba'ath lhes retirara. A derrubada de Assad era vontade polítco-democática de uma minoria de jovens. A vontade da maioria dos rebeldes é tomar o poder pura e simplesmente para fazer, certamente, o mesmo que Assad. E se forem/fossem os religiosos, de maneira ainda mais sectária.
Trocando em miúdos, a situação no Egito está como estava na semana do golpe. (Des)controlada pelo general Abdul-Fattah al-Sisi junto com sua cúpula de generais e policiais da era de Hosni Mubarak.
Quando Mohamed el-Baradei, Prêmio Nobel por sua atuação exemplar na International Atomic Energy Authority, aceitou o cargo no governo transitório recém-formado por Sissi, perguntei-me quanto tempo conseguiria ficar e como ele, tão lúcido, embarcara nessa história turva. Como era de se esperar, Baradei não durou muito. Demitiu-se logo que caiu na real. O General dos generais, Sisi, substituiu os governadores eleitos das principais, e até menos importantes, províncias para nomear para os cargos governadores "biônicos". Dez generais de reserva reativados e dois responsáveis pela polícia da era Mubarak. Diante disso, até cego enxerga o significado.
Se isto não for ditadura, alguém tem de me explicar quando a nomenclatura de autoritarismo foi mudada.
Quem conhece um pouquinho da história do Egito, sabe que o Exército só deixa correr águas em seu manancial, que caiam em sua represa e fiquem lá, bem guardadas. Sabe também que a ideologia que reina no meio dos oficiais do Cairo é a formatada nas escolas militares que eles frequentaram. Acho que não preciso dizer onde estão localizadas.
Nas intervenções armadas dos últimos dias, os soldados assistiam de camarote os policiais fazerem o trabalho sujo de atirar nos simpatizantes da Irmandade Muçulmana. Simpatizantes que, diga-se de passagem, embora estejam caindo aos montes sob as balas da polícia, também não estão com as mãos limpas. Vê-se alguns armados e atirando à vontade.
E para concluir, o general Sisi está cometendo um erro enorme reprimindo com tal violência. Não apenas pelas vidas que está tirando e o sofrimento que está causando, mas por uma razão política que não pode ser negligenciada. Cada homem que cai sob a bala da polícia vira um mártir a mais na lista da Irmandade Muçulmana.
Aliás, talvez um dia sem mortos até deixe os líderes da Irmandade Muçulmana decepcionados. Pois lhes faltaria munição para se vitimizarem.
Quanto mais cedo a repressão parar, menos gente engrossará as passeatas e mais depressa poder-se-á resolver a revolta com diálogo.
Com a restituição da democracia seria mais rápido.
Porém, com democracia ou ditadura, banir a Irmandade Muçulmana seria um erro. Não precisa ser grande agente secreto de um grande Serviço de Inteligência para saber que o inimigo clandestino é muito mais perigoso do que o visível.

"Poor Egypt.
HOW DID this come about? How did a glorious revolution turn into this disgusting spectacle?
How did the millions of happy people, who had liberated themselves from a brutal dictatorship, who had breathed the first heady whiffs of liberty, who had turned Liberation Square (that’s what Tahrir means) into a beacon of hope for all mankind, slide into this dismal situation?
In the beginning, it seemed that they did all the right things. It was easy to embrace the Arab Spring. They reached out to each other, secular and religious stood together and dared the forces of the aging dictator. The army seemed to support and protect them.
But the fatal faults were already obvious, as we pointed out at the time. Faults that were not particularly Egyptian. They were common to all the recent popular movements for democracy, liberty and social justice throughout the world, including Israel.
These are the faults of a generation brought up on the “social media”, the immediacy of the internet, the effortlessness of instant mass communication. These fostered a sense of empowerment without effort, of the ability to change things without the arduous process of mass-organization, political power-building, of ideology, of leadership, of parties. A happy and anarchistic attitude that, alas, cannot stand up against real power.
When democracy came for a glorious moment and fair elections were in the offing, this whole amorphous mass of young people were faced with a force that had all they themselves lacked: organization, discipline, ideology, leadership, experience, cohesion.
The Muslim Brotherhood."
Uri Avnery

Post Scriptum BRASIL/PALESTINA:
Tarso Genro, governador do Rio Grande do Sul, envergonha o Brasil com seus negócios milionários com Israel. Contratos de armas e em outras áreas, como mostra o cartoon ao lado. O que será que ele ganha nessa jogada de apoio à limpeza étnica da Palestina?
Aliás, o Rio Grande do Sul é um dos estados brasileiros mais "próximos" de Israel. O que é uma surpresa, já que os gauchos primam pela consciência.
Dê uma lida no artigo abaixo e veja quão amoral é este político gaucho.
"Tarso Genro, governor of Rio Grande do Sol in Brazil, concluded a deal to develop a huge Israeli military technology center in Porto Alegre over the past few weeks. One day before signing the contract with the arms company Elbit, Genro was in the occupied West Bank, where he witnessed first-hand the oppression on which Israel’s weapons industry thrives.
Perhaps even more painful than the signing of the deal itself are the arguments he later gave to “defend” his action. It was very sad to see Genro stating — in an interview with the Brazilian publication Opera Mundi — that international law and human rights are not criteria for international commercial relations.
Confronted with Elbit’s track record of violations of human rights and international law, Genro argued that “It is not possible to decide on technological options, at [the] national or regional level, based on this criteria.” He added that “Ethics in global commercial relations is defined by national interests” (“Despite cricisim, Tarso Genro signs agreement with Israeli military,” 29 April 2013 [português]).
This argument flies in the face of the Brazilian constitution, which affirms the prevalence of human rights in international relations. It is also legally wrong. A vast body of legal analysis, UN guidelines and resolutions underscore that state and state institutions are obliged to respect and ensure respect for international law.
Elbit is profiting from the construction of Israel’s settlements and its wall in the West Bank, both of which are considered war crimes. Because of this involvement in violations of international law, Elbit is subject to a global campaign to stop contracts and investments in it.
In his interview with Opera Mundi, Genro defended the deal as an issue of national interest. The same argument was brought forward in the 1970s and early ’80s by the apartheid regime in South Africa and its allies in the UK and the US. Margaret Thatcher did not want to force UK companies to give up on the profits reaped from apartheid. Yet, by the 1990s, the global boycott movement had cost these companies a high economic price and US companies are still being sued for reparations in US courts."
Jamal Juna, coordenador da ONG palestina Stop the Wall.

domingo, 11 de agosto de 2013

Israel vs Palestina: História de um conflito XXXVIII (12-2003)


A Iniciativa de Genebra foi lançada oficialmente no dia 1° de dezembro de 2003.
(continua atuante e ativa)
Foi estabelecida como estatuto modelo, permanente, entre o Estado de Israel e o Estado da Palestina.
O Acordo tinha a ambição de apresentar uma solução compreensível e inequívoca para as questões vitais ao fim do conflito.
Seus criadores pretendiam, pretendem ainda, que a adoção e implementação de suas propostas solucionassem o conflito histórico. Com renúncias de ambas as partes a fim de cada um realizar sua visão nacional de maneira pacífica.
Para não correr o risco de trair o Acordo de Princípios, eis abaixo o sumário deste na íntegra:
End of conflict. End of all claims.
Mutual recognition of Israeli and Palestinian right to two separate states.
A final, agreed upon border.
A comprehensive solution to the refugee problem.
Large settlement blocks and most of the settlers are annexed to Israel, as part of a 1:1 land swap.
Recognition of the Jewish neighborhoods in Jerusalem as the Israeli capital and recognition of the Arab neighborhoods of Jerusalem as the Palestinian capital.
A demilitarized Palestinian state.
A comprehensive and complete Palestinian commitment to fighting terrorism and incitement.
An international verification group to oversee implementation.


O reconhecimento mútuo dos dois Estados e a soberania de ambos era um ponto crucial, e discordante.
Em compensação pela integração a Israel dos blocos de invasões judias na Cisjordânia, a Faixa de Gaza seria um pouco estendida, como mostra o mapa ao lado.
(Hoje, as invasões quaduplicaram na Cisjordânia. Em tamanho e número de habitantes e a perda de território palestino é um fato irrefutável, porém, reversível, como foi o caso da Faixa de Gaza.)


No tocante às fronteiras entre os dois Estados, a Iniciativa propunha/õe o seguinte, na íntegra:
The border marked on a detailed map is final and indisputable.
According to the accord and maps, the extended borders of the State of Israel will include Jewish settlements currently beyond the Green Line, Jewish neighborhoods in East Jerusalem, and territories with significance for security surrounding Ben Gurion International Airport. These territories will be annexed to Israel on agreement and will become inseparable from it.
In return to the annexation of land beyond the 1967 border, Israel will hand over alternative land to the Palestinian, based on a 1:1 ratio. The lands annexed to the Palestinian State will be of equal quality and quantity.

Quanto a Jerusalém, a Iniciativa fez a seguinte proposta, também na íntegra:
The parties shall have their mutually recognized capitals in the areas of Jerusalem under their respective sovereignty.
The Jewish neighborhoods of Jerusalem will be under Israeli sovereignty, and the Arab neighborhoods of Jerusalem will be under Palestinian sovereignty.
The parties will commit to safeguarding the character, holiness, and freedom of worship in the city.
The parties view the Old City as one whole enjoying a unique character. Movement within the Old City shall be free and unimpeded subject to the provisions of this article and rules and regulations pertaining to the various holy sites.
There shall be no digging, excavation, or construction on al-Haram al-Sharif / the Temple Mount, unless approved by the two parties.
A visible color-coding scheme shall be used in the Old City to denote the sovereign areas of the respective Parties.
Palestinian Jerusalemites who currently are permanent residents of Israel shall lose this status upon the transfer of authority to Palestine of those areas in which they reside.

Um grupo de implementação e supervisão (Implementation and Verification Group - IVG) seria estabelecido a fim de facilitar, assistir, garantir, monitorar e resolver disputas relacionadas à execução do Acordo.
Este IVG previa a constituição de uma Força Multinacional (Multinational Force - MF) que garantisse a segurança de ambos Estados. Para este fim, a MF seria instalada no Estado da Palestina.
Na época, o Acordo não definia bem a questão dos milhões de refugiados forçados ao êxodo durante a Naqba.
(Hoje, propõe a compensação financeira dos refugiados pelos bens confiscados por Israel durante a Naqba e os seguintes direitos: de retorno ao Estado da Palestina; de ficar no país em que residem, mas sem serem apátridas nem párias da sociedade local; ou ir para um terceiro país de sua escolha, inclusive o que é hoje Estado de Israel. Contanto que o país aceite recebê-los.
O último ponto do Acordo aborda a questão da segurança.
Diz que Israel e Palestina teriam de reconhecer e respeitar o direito do outro de viver em paz dentro das fronteiras reconhecidas. Livres da ameaça de guerra, ataques militares, terroristas e violência - sem precisar se apenas física ou também moral, que Israel aplica/va com igual ou maior frequência).
(Também não menciona ocupação civil e militar, pois parte do princípio que este problema das invasões civis seria solucionado)
Os dois Estados soberanos evitariam a formação de forças irregulares ou bandos armados, e combateriam a incitação e a prática de terrorismo - sem precisar a índole).
Para completar e para que Israel aceitasse (aceite) o Acordo de Paz, a Iniciativa excluía a possibilidade do Estado da Palestina possuir Exército nacional ou qualquer força de defesa. Apenas uma polícia local para implementar o Acordo e manter a lei.

Ao mesmo tempo que, em Genebra, pacifistas estrangeiros, israelenses e palestinos se reuniam para inaugurar um Plano de paz, em Ramallah e em al-Beirah, na Cisjordânia, a IDF terminava uma nova incursão militar.
No domingo, na campanha de assassinatos, um membro do Hamas foi executado.
A investida começou na segunda-feira de madrugada, como sempre. Para pegar as famílias dormindo ou desprevenidas. Desta vez mataram três pessoas, prenderam dezenas e explodiram um edifício.
Nesse ínterim, na fronteira com o Egito, centenas de refugiados se manifestavam contra a Iniciativa de Genebra. Para os refugiados, o Acordo lhes negava o retorno ao lar, já que este dependia da autorização de Israel.
Junto com a questão de Jerusalém, a dos refugiados sempre foi a mais controvertida em todas as negociações. Inclusive a de Oslo. E continuaria.
O dia 1° de dezembro foi prolífico em acontecimentos. Foi também o Dia Internacional de Solidariedade com o povo palestino.
Foi celebrado na ONU pelo Secretário Geral Kofi Annan e representantes de várias organizações de apoio ao povo palestino. Phyllis Bennis, co-presidente do International Coordinating Network on Palestine, foi a primeira a falar em nome de todos.
Phyllis chamou atenção para o fracasso da comunidade internacional de terminar a ocupação, dizendo que "While the cruel illusions of the so-called Road Map has collapsed, the United Nations continues to be denied the central diplomatic role, mandated to it by the Charter, in favour of the false multilateralism of the United States-dominated Quartet. Yet, as civil society around the world recognized, the United Nations has the responsibility to protect those languishing under military occupation, to restore the human rights of those illegally denied them, and to defend those unable to protect themselves."
Depois foi a vez de Hans Koechler, presidente da International Progress Organization, reiterar o compromisso de sua organização "to a peaceful settlement of the Israeli-Palestinian conflict on the basis of international law, in particular the Palestinian people's inalienable right to self-determination." Insistindo "on the need for the evacuation of all Jewish settlements in occupied Palestine and for the dispatch of United Nations monitors and peacekeeping troops to the occupied territories."
Pois é, tropas da ONU na Linha Verde, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza resolveriam o problema na hora. Porém, Ariel Sharon queria ver o diabo mas não queria ver capacetes azuis da ONU entravando sua limpeza étnica. E os Estados Unidos fechavam os olhos à barbaridade e votavam contra todas as Resoluções concretas solicitadas pelos palestinos para manter a ordem.
Tropas da ONU teriam (resolveriam ainda) resolvido o conflito, então de 55 anos, no máximo, em 55 dias. Mas não. 

Dezembro continuou sem soldados onusianos. 
E nos dias que seguiram a cerimônia, a IDF continuou a agir.
Um soldado israelense matou um adolescente de 15 anos, Jihad al-Akhrass (foto ao lado), que estava parado na fronteira de Rafah com o Egito esperando a volta de parentes. Foi morto com seis balas na cabeça e no peito. Outros soldados mataram mais dois adolescentes em outros incidentes na Faixa de Gaza do mesmo gênero.
Depois a IDF procedeu a uma nova investida em Rafah com apoio de Apaches. O objetivo desta operação "relâmpago" no sul da Faixa de Gaza, era, segundo o porta-voz militar, capturar líderes do Hamas e do Jihad Islâmico. O resultado foi cinco palestinos mortos. 
Ramallah também fora visada. Um aviso a Yasser Arafat e a Ahmed Qorei para que se comportassem. 
Uma semana depois a IDF matou cerca de sete palestinos nos territórios ocupados, inclusive um menino de 13 anos e um adolescente. Um senhor morreu por falta de socorro médico, interditado nas barreiras israelenses. 
No processo de manter a população aterrorizada com operações intermitentes, a IDF voltou a invadir Nablus com veículos militares leves e pesados, e no ar, Apaches apoiano o assalto. 
Neste tipo de operação, os soldados vão de casa em casa invadindo a privacidade da família, vasculhando, depredando em sua passagem, às vezes surrupiando algo, e dando tiros esporádicos para demonstrar, a quem duvidar e resistir, quem está no comando.
Vários feridos foram deixados para trás para os familiares cuidarem. Ambulâncias são sistematicamente retidas nas barreiras, por horas, ou simplesmente mandados de volta.
O campo de refugiados de Balata, na Cisjordânia, também recebeu a visita dos tanques da IDF. Os habitantes se defenderam com pedradas. Quatro pessoas foram mortas, incluindo um idoso e duas crianças.
O mês de dezembro de 2003 terminou com mais mortes palestinas e o primeiro ministro palestino Ahmed Qorei dizendo que faria apelo à Arábia Saudita para que fosse ao socorro do Road Map, enfim, de um plano que paz que parasse o terror e a carnifica.
Isto porque estava preocupado com o Hamas que estava perdendo paciência contando os mortos e feridos na Faixa de Gaza.
A Brigada Qassan, ala militar do Hamas, resolveu tomar a dianteira e lançar seus foguetes obsoletos. Lançou seis em colônias judias na Faixa - 4 em Dogit e 2 em Uz. Mal chegaram ao solo, mas o susto bastou para irritar Ariel Sharon com a ousadia do ataque. 
No último dia do ano de 2003, o troco chegou com a sofisticação bélica dos Apaches da IDF. Bombardearam um carro que transportava militantes do Hamas. Deixaram onze feridos mais ou menos graves.
Aliás, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza os feridos eram tantos que ninguém contava mais. Quanto aos mortos no conflito, o número oficial de palestinos enterrados era de 590. E 201 israelenses.

Durante a Intifada, a IDF usou e abusou dos meninos, usados como escudos humanos. A comprovada pelo Daily Mirror (ao lado) foi apenas um das dezenas de escudos do gênero.
E além deste crime horrendo e das perdas de vidas citadas acima, de ocupantes e ocupados, opressores e oprimidos, o conflito, ou melhor, a IDF, tirou a vida de mais três estrangeiros em 2003.
O documentarista inglês James Miller foi assassinado porque estava filmando a Intifada.
O fotógrafo inglês Tom Hurndall e a ativista estadunidense Rachel Corrie foram assassinados salvando moradias e vidas.
Em homenagem aos três, a Vittorio Arrigoni, a Juliano Mer-Khamis e a todos os humanistas estrangeiros voluntários do International Solidarity Movement na Palestina, dê uma olhada no documentário abaixo.


Documentário: Rachel an American Conscience
"I’ve been here for about a month and half now and this is definitely the most difficult situation that I have ever seen. In the time that I have been here, children have been shot and killed. On the 30th of January, the Israeli military bulldozed the two largest water wells, destroying over half of Rafah’s water supply. Ever few days, if not everyday, houses are demolished here.. so I feel like what I am witnessing here is a very systematic destruction of peoples’ ability to survive and that is incredibly horrifying."
Yahya Barakat, who teaches at Al-Quds University, told The Washington Report that he began work on the documentary the instant he learned that Corrie had been crushed to death by an Israeli-driven Caterpillar bulldozer.
This documentary offers rare footage of Rachel talking to a camera and describing Israeli human rights violations against a Palestinian civilian population. The film opens with grim images of dinosaur-like Caterpillar bulldozers turning urban Rafah into a garbage pile of destroyed buildings. It continues with interviews of Rachel’s fellow International Solidarity Movement volunteers, and concludes with comments from her parents"


domingo, 4 de agosto de 2013

Peace Talks ou intox de Tel Aviv e Washington?



Vinte anos após os Acordos de Oslo, a notícia internacional da semana foi a retomada das negociações entre Israel e Palestina em Washington.
Peace Talks, no jargão internacional informal da mídia, dos intermediários e dos interessados.
Daí o título do blog de hoje: Peace Talks ou intox(icação, ou seja, conversa fiada de cartas marcadas)?
Nesta trama intermitente dos Estados Unidos dois tipos de analistas mostram a cara. Os que demonstram esperança cautelosa e os céticos que já viram este filme varias vezes com o mesmo prólogo "bem intencionado" até o fim enroscado.
Eu faço parte do segundo grupo que conhece de cor e decorado o desenrolar e o fim da história que termina sempre com os EUA puxando o tapete dos palestinos da primeira à última hora.
Infelizmente, Binyamin Netanyahu é um dos dirigentes mais falso que Israel já teve. Nem Ehud Barak chega aos pés dele.
  
Meu ceticismo vem desde a primeira visita de John Kerry ao Oriente Médio.
Pisava em ovos nas conversas com o governo israelense, dominado majoritariamente por sionistas extremistas exaltados. Evitou nas reuniões os assuntos "melindrosos" que quer queira quer não são o cerne do conflito. Sabia que Netanyahu e seus ministros são pró-ocupação civil e militar da Palestina e tapou o sol com a peneira evitando controvérsia.  em vez de abordar o fundo do problema que só tem um nome: ocupação ilegal de terra alheia e suas consequências nocivas.
Nas capitais árabes e em Ramallah, foi o inverso.  Kerry pressionou como pôde, fez promessas que não cumprirá (a não ser que os EUA ousem dizer a Netanyahu: Basta!) e distribuiu ameaças veladas.
Suas propostas eram tão frágeis e vagas que só conseguiu que Abu Mazem concordasse em mandar alguém a Washington quando acenou com a libertação de 104 prisioneiros - três por cento irrisórios, considerando o número total de presos políticos palestinos que Israel detém há anos e os que continuam sequestrando aleatoriamente. Inclusive menores.

Meu ceticismo vem também do fato que negociar sem a presença de um representante do Hamas é perda de tempo. Sobretudo nas condições atuais. Um enviado de Khaled Meshaal teria e tem de estar presente.
 Além disso, há coisas erradas aos montes. Começando pelo elenco do filme.
Primeiro, a chefe da delegação israelense,  Tzipi Livni, filha de um imigrante polonês que foi um dos dirigentes do Irgum (grupo para-militar sionista que em 1948 foi ativo no massacre dos palestinos). É verdade que em terra de cego, quem tem um olho é rei, o que transposto ao governo israelense, entre todos os extremistas sionistas do governo, ela aparece como a mais moderada.  Porém, esta advogada, hoje Ministra da Justiça, não deixa de ser a mesma pessoa que disse há poucos anos que  "I am a lawyer… But I am against law - international law in particular. Law in general."
E é a mesma pessoa que está "negociando" porque "restarting negotiations would stop the snowball rolling towards us at the UN and in general". São suas próprias palavras, ditas em 2011.
(Sem contar que ela estava no governo em 1998/1999 durante o bombardeio de Gaza.)
Israel acedeu à demanda dos EUA porque está com a corda no pescoço, seu primeiro ministro Binyamin Netanyahu é persona non grata em todos os países ocidentais (orientais, nem se fala), a economia israelense está sendo aos poucos asfixiada pelo boicote crescente... aí, viram a saída de sempre que os EUA lhes oferecem com um tapinha nas costas: Peace Talks pro-forma para melhorarem a imagem no exterior e cedo ou tarde inventarem que se retiraram porque os palestinos demonstram má-vontade.
Este filme é manjado. Repeteco do passado, quando Israel se encontrava encostado na parede e para prosseguir a ocupação tinha de dar uma paradinha estratégica antes de dar o pulo do gato e continuar a fazer só o que lhe interessava.
Pois a posição de Israel quanto à ocupação, expansão e limpeza étnica continua a mesma e obstacula a luta intrínseca à Palestina pela liberdade, soberania e retorno dos refugiados.
Segundo, o do chefe da delegação palestina. Faz mais de vinte anos que Sa'eb Erekat senta-se às mesas de negociações do lado palestino. Desde a Conferência de Madri, em 1991. Ele nasceu em Jericó, na Cisjordânia, e formou-se em Ciências Políticas nos EUA. Tem um doutorado e foi professor da Universidade An-Najah de Nablus, na Cisjordânia.
Foi companheiro de Yasser Arafat e após sua morte foi se moderando até ser acusado de conchavo com os negociadores estadunidenses.
Recebeu as revelações como um balde de água fria e dizem que serviu-lhe de lição. Porém, seu nome foi quase imposto por Israel e os Estados Unidos.
Aliás, há um diálogo entre a israelense e o palestino, gravado em maio de 2008, que é uma pérola de bastidores. Erekat: "Short of your jet fighters in my sky and your army on my territory, can I choose where I secure external defence?"
Livni: "No. In order to create your state you have to agree in advance with Israel – you choose not to have the right of choice afterwards."
Mas o maior erro do elenco não está nos protagonistas israelenses e palestinos. Está no detentor do papel principal do filme, o "enviado especial" dos Estados Unidos.
Pois a partir de agora, Kerry passa o bastão para Martin Indyk.
Quem é ele mesmo? Alguém imparcial e de competência comprovada em questões internacionais melindrosas como George Mitchell?
Não. Indyk está a anos luz do senso de justiça e imparcialidade de Mitchell.
Quem é mesmo este cara, além de ser ex-morador de um kibutz e o único estrangeiro naturalizado estadunidense a ocupar o cargo de embaixador?
Bem, Indyk é lobista israelense em Washington desde a década de oitenta. Foi vice-diretor de pesquisa do AIPAC, o lobby sionista mais poderoso dos Estados Unidos e grande patrocinador de ódio e preconceito dentro da comunidade judia e seus amigos.
Foi embaixador dos EUA em Tel Aviv de 1995 a 1997 e de 2000 a 2001, deixando lembranças indeléveis de seu apoio "velado" a Israel durante estes anos em que serviu Washington e Tel Aviv com devoção canina.
É neste homem que os palestinos têm de confiar?
Um pouco de bom senso na Casa Branca facilitaria o entendimento e evitaria mais esta perda de tempo.  
A não ser que Obama queira deixar claro aos israelenses que os interesses dos extremistas sionistas serão defendidos a unhas e dentes. Danem-se os palestinos! Como sempre.
Aliás, Richard Falk, enviado da ONU aos Territórios Ocupados, abriu o jogo: "Does it not seem strange for the United States, the convening party and the unconditional supporter of Israel, to rely exclusively for diplomatic guidance in this concerted effort to revive the peace talks on persons with such strong and unmistakable pro-Israeli credentials?
What is stranger, still, is that the media never bothers to observe this peculiarity of a negotiating framework in which the side with massive advantages in hard and soft power, as well as great diplomatic leverage, needs to be further strengthened by having the mediating third-party so clearly in its corner. Is this numbness or bias? Are we so used to a biased framework that it is taken for granted, or is it overlooked because it might spoil the PR effect if mentioned out loud?"
Falando nisso, mesmo que Israel concordasse em desmantelar as invasões civis que proliferam na Cisjordânia, a mera definição de Israel como Estado Judeu excluiria 20% da população israelense.
Vinte por cento que correspondem aos 1.413.500 palestinos que conseguiram sobreviver à Naqba e continuaram do lado ocidental da Linha Verde. São cidadãos de Israel muçulmanos e cristãos. Cidadãos de segundo classe, mas com carteira de identidade e lavagem cerebral desde a escola primária.  São os únicos cidadãos israelenses dispensados do serviço militar obrigatório. Por razões óbvias.
O que será deles em um Estado Judeu? E o que será dos refugiados palestinos que ainda carregam consigo as chaves de casa, confiscada quando o Estado de Israel foi unilateralmente criado?
Não sei o que é pior nesta história. Talvez o mais perigoso é que os israelenses consigam o que querem e o futuro da Palestina seja negro como predisse em 1998 o grande Edward Said, o refugiado palestino mais célebre: "Most important, a state declared on the autonomous territories would definitively divide the Palestinian population and its cause more or less forever. Residents of Jerusalem, now annexed by Israel, can play no part, nor be, in the state. An equally undeserving fate awaits Palestinian citizens of Israel, who would also be excluded, as would Palestinians in the Diaspora, whose theoretical right of return would practically be annulled."
Contudo, o leão invisível desta safra Peace Talks 2013 patrocinada pelos EUA, inclusive no caso da solução de Direito dos dois Estados,  que ela só está acontecendo para proteger Israel do que Tel Aviv vê como a maior ameaça aos seus proje
tos de limpeza étnica: responsabilidade.
O processo de paz encabeçado pelos Estados Unidos isenta os israelenses de responsabilidade na raiz do processo legal. A raiz da legalidade no mundo civilizado é a ONU, as leis internacionais e os fóruns internacionais que há anos se esforçam para resolver o conflito de maneira justa e equilibrada. Dentre estes, a Iniciativa de Genebra.
A exclusão da ONU em si é bastante temerária. Mesmo com suas falhas e com a fraqueza de seu atual Secretário, as Nações Unidas são o que são: 193 nações dos cinco continentes, unidas para resolver problemas e encontrar soluções justas, equitáveis, sem recurso de armas. Foi para isto que foi criada após a Segunda Guerra Mundial.
A iniciativa do maior aliado (talvez o único) de Israel de constituir-se juiz, promotor e advogado de um conflito em que uma das partes é sua afilhada é, por definição, mais do que fadada ao fracasso.
Às vezes acho que os estadunidenses ignoram que a Palestina tem o maior índice de universitários do mundo (90% da população - apesar de todas as dificuldades) e que são bastante cultos e inteleligentes. Não apenas os dirigentes do Fatah e do Hamas são todos altamente intelectualizados. Entre os palestinos o estudo é uma questão de honra. Daí o esforço dos israelenses de com as barragens impedirem o acesso às escolas e universidades.
Além de estudo, têm uma cultura mais vasta do que a da maioria absoluta dos estadunidenses e de muitos israelenses.
Aviso aos navegantes dos Peace Talks: os palestinos são apátridas, mas pensam.
Este partidarismo cego, irresponsável e injusto seria uma canseira se não causasse tanto prejuízo material, moral e físico a um povo inteiro.
Minam sistematicamente as vitórias palestinas de reconhecimento nas instâncias internacionais que contam - UNESCO e ONU - e ainda ousam dar uma de bonzinhos.
Vale lembrar os distraídos que toda vez que a Palestina conseguiu reconhecimento em um órgão internacional eminente, os Estados Unidos, junto com Israel, lançaram aos brados acusações de "harm" do processo de paz.
Como se a única via aceitável é a que dá vantagem a seu afilhado.
Ao ponto de exigir como condição sine qua non às negociações atuais que a Autoridade Palestina desista de acionar a Corte Internacional de Justiça para obrigar Israel a respeitar as leis que infringe à vontade no processo de ocupação.
Israel já começa as negociações ganhando, no mínimo, tempo.
Com este compromisso, Obama amarra as mãos de Mahmoud Abbas e ganha no mínimo nove meses.
Enfim, se os palestinos aguentarem tanto tempo.
Em Tel Aviv, esperam, ou melhor, contam que este novo capítulo da novela Peace Talks esvazie o movimento de boicote que Isarel vem sofrendo inexoravelmente.
Prova disso foi Shimon Peres que aproveitou a deixa de Washington para "pedir" para a União Europeia voltar atrás em relação à medida de boicote recém-tomada contra todo e qualquer intercâmbio que envolva as colônias judias na Cisjordânia.
Tudo premeditado nos mínimos detalhes.
Tzipi Livni nos EUA e Shimon Peres na Europa. Ataque nas duas frentes de combate. Este Peres é mesmo o rei do disfarce.
Um jornalista israelense disse o que todos sabem, que para Israel, estas negociações são "preferable over the current anti-Israel incitement campaign being conducted in supermarkets across Europe".
É impressionante o quanto os Estados Unidos e Israel subestimam o resto do mundo. O quanto subestimam os cidadãos do mundo que enxergam e raciocinam e que não se deixam iludir por miragens maquiavélicas.
O boicote continua ativo em todos os mercados do mundo.
Concluindo, Peace Talks 2013 protege Israel da descolonoização obrigatória e viável, apesar dos 500 mil judeus "assentados" em terras alheias na Cisjordânia.
Os israelenses criaram o problema. Agora têm de resolê-lo desocupando como fizeram na Faixa de Gaza. Nem que seja na marra.
Ou então aceitar a proposta dos palestinos. O judeu que quiser ficar no lado oriental da Linha Verde será cidadão do Estado da Palestina. Com carteira de identidade e submetido às leis nacionais. Como os palestinos que vivem do lado ocidental da Linha Verde.
O que já é uma concessão inestimável.
E seria justa, se a solução dos dois Estados proposta pelos EUA, que visa proteger Israel como um Estado etnocrático judeu na maioria história palestina, vingar ou vingasse.
Mas o que Washington e Tel Aviv desejam é Jérusalem inteira para os judeus sionistas e uma fraca autoridade palestina em Ramallah a fim de salvar as aparências.
Ou seja, tudo do mesmo jeito.
Isto está explícito nos pronunciamentos de vários membros do governo, inclusive de Livni, que disse em junho deste ano que "the only way to preserve Israel" - como Estado judeu - "is through the political process".
É por isso que mais de 120 judeus estadunidenses influentes  escreveram para Netanyahu recentemente pedindo que prosseguisse a negociação dos dois Estados.
Vão sentar nas mesas de negociação não para que a justiça prevalesça e sim para manter seu status quo ilegal legalmente.
Há quem diga que quaisquer Peace Talks são melhores do que nenhum diálogo porque obriga as duas partes a sentarem e trabalharem para encontrar uma solução.
Quanto a mim, acho que este argumento não passa de um truismo simplista.
É claro que haverá alguma conversa em algum ponto, e submetida às relações de poder desequilibrado envolvidas.
Eu não vejo razão nenhuma para acolher com entusiasmo em vez de ceticismo e suspeita, negociações em que uma das partes é tão claramente protegida e beneficiada logo de início.
Peace Talks EUA 2013 não é a única solução, não é a certa, não é a justa e nem pode ser a defintiva, embora Barack Obama esteja obcecado em deixar o feito da "Paz no Oriente Médio" em seu currículo.
Para isto ele teria de ser uma pessoa que tenta ser, mas não é: sem preconceito, sem apriori, imparcial, magnânime e justo.
A única solução possível tem de vir das Nações Unidas junto com a Iniciativa de Genebra e o Tribunal Internacional de Justiça.
O resto é tapinha nas costas de Binyamin Netanyahu e seus cupinchas e tapa nas mãos e na cara de Abu Mazen e de Khaled Meshaal. Enfim, de todos os palestinos na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e na diáspora.


"It became clear that Kerry did not have a serious project or vision toward the Arab-Israeli conflict. We in Hamas don't place our hopes or bets on the White House or any international capital. It is true that we have followed Kerry's announcements, including his statements and calls to renew negotiations. We saw how he chose to put pressure on the Palestinian presidency and some Arab parties, without going to the root of the problem — the Israeli occupation — and putting pressure on its leaders. It was the latter that killed the so-called peace process, and still refuses to recognize Palestinian national rights. 
Kerry arrived in the region already knowing that he was faced with an incredibly right-wing Israeli government; a government of settlers. Thus, he avoided any confrontation with the government and put forward ideas of economic peace and investment projects in the West Bank, without addressing the real crux of the conflict, which is the occupation. 
This choice was a mistake on the part of the US administration, and therefore they will fail in these endeavors as they have failed in the past. We are convinced that the future of the Palestinian cause and achieving our people's rights — first and foremost freedom and liberation from the occupation — will be made here on [our] land. This will be achieved via the options we have and the trump cards we possess, most notably the resistance in all its forms. While we will remain open to the regional and international situation and will take advantage of all opportunities, we have not and will not beg anyone. 
Here I must say something clear: the wheel of history and the people's march toward freedom and liberation cannot be stopped by anyone, no matter how great his power. 
Gaza has been absent from the efforts of the US administration, because these efforts are not aimed at a just solution to the issue or an end to the suffering of the Palestinian people. These efforts are limited to crisis management, buying time, and maintaining the "peace process" without genuine peace."
Khaled Meshaal, líder do Hamas em entrevista ao Monitor.
"The negotiations due to open in Washington, after all the efforts of Secretary of State Kerry, will stand or fall primarily with one issue: an agreement that the Green Line, the internationally recognized borders of Israel as they were on June 4, 1967, will be the basis for the permanent border between the existing State of Israel and the State of Palestine which will come into existence at its side" says Gush Shalom, the Israeli Peace Bloc.
"If this is agreed on, we have a breakthrough to a peace agreement with the Palestinians and with the entire Arab world. It would be possible then to hold detailed negotiations of demarking the precise boundary line and define small, reciprocal swaps of territory. Also other issues such as Jerusalem and refugees, highly emotional for both sides, can be solved once it is defined where the two parties stand on the ground and what will be the border between the two states.
On the other hand, if there no agreement on the 1967 borders as the basis for an agreement - and clearly the Government of Israel in its current composition is not likely to agree to provide such an agreement - then negotiations are foredoomed to failure. In that case, the Washington talks will be remembered as a passing episode, followed by escalating violence on the ground and an increasing international isolation for Israel. Decision makers couldn’t disclaim responsibility."
GUSH SHALOM, ONG israelense pela Paz.
"The simplest solution was that provided by Charles de Gaulle. After signing the peace agreement that put an end to the occupation of Algeria after a hundred years, he announced that the French army would leave the country on a certain date. He told the more than a million settlers, many of them fourth or fifth generation: If you want to leave, leave. If you want to stay, stay. The result was a last minute frantic mass exodus of historic dimensions.
I can’t imagine an Israeli leader bold enough to follow that prescription. Even Ariel Sharon, a brutal person without compassion, didn’t dare to.
Of course, the Israeli government could tell these settlers: “If you can make arrangements with the Palestinian government so you can stay there, as Palestinian citizens (or even as Israeli citizens), by all means do so. ”
Some naïve Israelis say: ”Why not? There are a million and a half Arab citizens in Israel. Why can’t there be some hundreds of thousands of Israeli Jews in Palestine?”
Unlikely. The Arabs in Israel live on their own land, where they have lived for centuries. The settlers live on “expropriated” land, and they have justly earned the hatred of their neighbors. I don’t see how a Palestinian government could allow it.
There remains the hard core of the hard core. Those who will not budge without violence. They will have to be removed forcibly by a strong government supported by the bulk of public opinion, expressed through the referendum."
Uri Avnery, jornalista pacifista e ex-parlamentar israelense.




CRONOLOGIA de negociações e acontecimentos de relevância nos últimos vinte anos:

1991: Conferência de Madri, convocada pela Rússia e os Estados Unidos a fim de livrar Israel da Intifada. O movimento de revolta dos palestinos nos territórios ocupados surpreendera Israel em 1987 e vinha lhe causando danos enormes. Inclusive econômicos.  
Israel foi convidado para um face a face com Jordânia, Libano e Síria e representantes palestinos no mês de outubro.
A OLP (Organização para a Libertação da Palestina) liderada por Yasser Arafat (Abu Ammar) foi excluída.
A intenção de descartar a Organização considerada então "terrorista" e humilhar seu líder foi infrutífera.
O chefe da delegação palestina Sa'eb Erakat chegou com um keffiyeh (o "lenço" preto e branco tradicional na Palestina) nos ombros e esteve em contato constante com seu líder que ditava as ordens da Tunísia.
A OLP era o movimento catalizador das forças de resistência palestina e nada podia ser decidido sem seu acordo. Sabia-se disso, mas Israel e os Estados Unidos assim mesmo a excluíram em mais uma tentativa de humilhar Yasser Arafat.
O primeiro ministro israelense Yitzhak Rabin acbaria entendendo que chegar à paz tinha de lidar diretamente com Abu Ammar e autorizou negociações secretas com a OLP que culminariam em um famoso acordo.

1993: Acordos de Oslo, monitorado por organizações norueguesas, estabeleceu a Autoridade Palestina.
O documento foi negociado por Yitzhak Rabin e Yasser Arafat na Noruega, mas Bill Clinton e a esposa viram a oportunidade de entrar na História e a capturaram.
(Pensaram certo, pois a foto na Casa Branca continua sendo uma das mais publicadas quando se fala em Oriente Médio.)
Os EUA e Bill Clinton colheram os louros do trabalho alheio e os Acordos foram assinados em Washington no dia 13 de setembro.
O "negócio" dos Acordos era bom para Israel e de grego para a Palestina. Por isso foi impopular desde o início. Não oficializava o mínimo que a população queria: um Estado independente em toda a extensão territorial das fronteiras de 1967.
Tal independência estava subordinada a um teste de semi-autonomia ao qual os palestinos seriam submetidos com restrições múltiplas.
Yasser Arafat sabia quão aleatório era o compromisso, porém, sabia também quão aleatório é o tempo de vida -  no ano anterior o avião em que se encontrava caíra de ponta cabeça no deserto líbio durante uma tempestade de areia e, embora ele tivesse sido enrolado em cobertores para diminuir o impacto da queda, o acidente o deixara com ferimentos que exigiram uma cirurgia para remover coágulos sanguíneos no cérebro. Portanto aceitou a promessa sem garantia porque estava louco para voltar para casa após as décadas de exílio e também porque achava que com um governo próprio, em seu território, conseguiria chegar à soberania pretendida.
1994: Tratado de Paz entre Israel e a Jordânia. Assinado no dia 18 de julho.
1998: Peace Talks de Wye River que fracassaram no dia 23 de outubro, no estado de Maryland nos EUA.
Com Yitzhak Rabin fora da jogada por ter sido assassinado por um compatriota extremista, Bill Clinton reuniu em Washington o novo Primeiro Ministro, Binyamin Netanyahu e Yasser Arafat.
Os assuntos principais abordados foram a segurança (mútua) e transferência de terras.
Clinton entendeu de cara que Netanyahu era inconfiável e quanto mais o Primeiro Ministro  israelense falava, menos acreditava no que dizia. Yasser Arafat já sabia disso e não tinha ilusão nenhuma.
Os Estados Unidos ofereceram a Israel todas as garantias em troca de retrocesso na ocupação e devolução de terras, mas Netanyahu chegaria ao ponto de dizer mais tarde que Clinton era "radically pro-Palestinian".
Clinton pode ser acusado de muitas coisas, mas de radical no que quer que seja e de pró-palestino exacerbado.... Há divergências.
2000: Peace Talks de Camp David, que fracassaram em julho de 2001, nos EUA.
Desta vez Bill Clinton reuniu o novo Primeiro Ministro de Israel, Ehud Barak e Yasser Arafat.
Apesar das pressões sobre Arafat para que aceitasse o impossível, os obstáculos da quantidade de território que Israel desocupara, quem controlaria Jérusalem e o direito de retorno dos refugiados palestinos foram obstáculos intransponíveis.
Como sempre, estas questões foram apresentadas como uma concessão de Israel e não um direito palestino inalienável, segundo as leis internacionais. Mas mesmo assim, Barak não abriu mão de nada, Arafat viu que perdera a luta e jogou a toalha, e foi culpado pelo fracaso da "negociação de paz" inaceitável.
(Na época, um colega ganhou o Prêmio Pulitzer por um artigo errado. Ou melhor. Bem monitorado pela contra-informação de Israel. Mas não foi o único a deixar-se enganar ou a ser enganado. Outros fizeram seu mea culpa mais tarde e deixaram de confiar nos comunicados de imprensa formais e dos "informais" "exclusivos".)
2001: Peace Talks de Taba, ou o "canto do cisne" de Bill Clinton, no dia 21 de janeiro.
A Intifada Al-Aqsa (Segunda Intifada) começara em novembro de 2000 nos territórios ocupados, assim como a campanha israelense de assassinatos dos líderes do Fatah e do Hamas, a IDF (forças Armùadas israelenses) estavam reprimindo a revolta palestina com todas as armas das quais dispunha, os mortos se acumulavam, enfim, foi nesse clima que negociadores israelenses e palestinos se encontraram no Egito para tentar encontrar um terreno comum pacifico para resgatar as negociações fracassadas em Campo David.
O clima em Taba foi agradável em todos os sentidos.
Foi a única vez em que se viu um progresso verdadeiro, com pessoas em volta da mesa que falavam, ouviam, se respeitavam e se entendiam.
Porém, George W. Bush fora eleito e estava assumindo o poder à sua maneira. Barak sentiu que com ele seria mais fácil obter tudo o que quisesse e queria, e a concórdia de Taba foi infrutífera.
2003: O Road Map, "desenhado" na Jordânia no dia 04 de junho.
Yasser Arafat já estava sendo ostracizado por George W. Bush por influência do novo Primeiro Ministro israelense Ariel Sharon e os dois se reúnem com o Primeiro Ministro palestino Mahmoud Abbas um novo plano de paz.
Este Plano já é muito menos ambicioso do que os anteriores. É mais para apagar fogos da ocupação do que para extinguir seu incêndio e construir sobre as cinzas.
A base inicial é da demanda aos israelenses de gelarem as colônias/assentamentos, em vez de desmontá-los pura e simplesmente, e a criação de um Estado da Palestina independente, "em 2005".
2004: Assassinato do Sheik Ahmed Yassine e de Abdelaziz Rantissi, líderes fundadores do Hamas.
Morte suspeita de Yasser Arafat.
2005: Fim da Intifada Al-Aqsa e dos atentados suicidas palestinos.
Início da campanha cívica de boicote internacional de Israel, encabeçada pelo BDS Movement

2006: Vitória do Hamas nas eleições legislativas na Palestina.
Com maioria no Congresso e nos municípios, no dia 25 de janeiro o Hamas acede ao direito de eleger o Primeiro Ministro.
Porém, Israel declara que jamais negociará com uma Autoridade Palestina dirigida pelo Hamas (como fizera antes com a OLP de Yasser Afarat) e demoniza o partido. Os Estados Unidos pressionam o Fatah para que reaja (!) e acaba conseguindo minar as tentativas mútuas de formar uma coalizão para os dois partidos governarem juntos.
Sem Yasser Arafat para impor o diálogo e para dar a liga, as manobras políticas externas vingam. Acontece a ruptura entre os dois partidos e uma divisão administrativa.
O Fatah governando a Cisjordânia e o Hamas a Faixa de Gaza.
Foi uma vitória absoluta de Israel e dos EUA sem nenhuma participação direta em nenhuma negociação. Ariel Sharon assegurou seu reinado. Com a divisão que há anos Israel monitorava.
Em junho Israel bombardearia o Libano em mais uma tentativa mortífera e frustrada de enfraquecer o Hezbollah.

2007: Conferência de Annapolis.
George W. Bush, preocupado com o fortalecimento do Hamas, reúne o novo Primeiro Ministro de Israel, Ehud Olmert e Mahmoud Abbas para uma reunião, sem o Hamas.
No dia 27 de novembro, Olmet e Abbas fazem uma declaração conjunta de negociações que levariam a um acordo de paz no fim de 2008.


 2008: Operação Cast Lead - מבצע עופרת יצוקה‎ ou Massacre de Gaza مجزرة غزة‎.
Em vez de paz, no dia 27 de dezembro, aproveitando as férias ocidentais da semana entre o Natal e a Virada, Israel sorateiramente levou violência e morte à Faixa de Gaza.
Usou toda sua potência bélica nos ataques aéreos e terrestres. Inclusive armas químicas como o fósforo branco. 
A operação foi organizada durante meses, minuciosa e sigilosamente.
O primeiro passo foi evacuar os colonos judeus da Faixa em uma operação de desmantelamento dos assentamentos/invasões. Seria impossível causar o dano que pretendiam sem efeitos colateriais nos invasores judeus que ocupavam grande parte da Faix.
Depois foi a preparação militar para levar a cabo a violência vedada à imprensa e às autoridades da ONU durante três semanas.
No fim da Operação Cast Lead a Faixa de Gaza estava em escombros e os corpos de 1385 gazuís jaziam sob os escombros. Dentre eles, 117 mulheres e 410 crianças durante e em consequência.
Israel perdeu 13 homens. 4 deles por friendly fire. Ou seja, mortos pela própria IDF.
Os palestinos feridos, que perderam membros, foram queimados pelo fósforo ou ficaram cegos pela mesma arma química, sobretudo crianças, nunca foram recenceados por organismos independentes, devido ao número.
Falar de paz depois disso, ficava difícil.

 2009: Barack Obama põe sua pedra no processo de paz.
No dia 04 de junho discursa no Cairo e declara seu apoio ao Road Map, inclusive à independência da Palestina e o bloqueio dos assentamentos ilegais israelenses na Cisjordânia. E diz que o Hamas pode "play a role" participar das negociações se parar com as agressões (os foguetes obsoletos que lançava de Gaza) e reconhecer o direito de existência de Israel.
No dia 25 de novembro, após uma visita a Washington em que Obama parecera convincente, Binyamin Netanyahu anunciou o gelo de novas colônias. Gelo que não incluía as já programadas, cujo número era ignorado.
Este número foi anunciado em Tel Aviv durante a visita do vice-presidente estadunidense Joe Biden. 1.600 unidades estavam em andamento. Biden recebeu a notícia como um tapa na cara. Entendeu direitinho o que Clinton já descobrira: Netanyahu é inconfiável da flor da pele à alma.

2010:
Maio: Proximity talks entre Mahmmoud Abbas (Abu Mazem) e Binyamin Netanyahu, por iniciativa de Barack Obama.
Dezoito meses após Gaza começar a contar seus mortos, o enviado especial dos EUA ao Oriente Médio, George Mitchell, iniciou um processo de negociações entre as partes interessadas.
Acabou desistindo pelas razões de sempre: Netanyahu não quer paz; quer ocupar mais território.
No dia 02 de setembro, Netanyahu e Abu Mazem se encontram em Washington pela primeira vez após dois anos de afastamento.
Ficou combinado que se encontrariam de duas em duas semanas e declararam que um Acordo final poderia ser alcançado dentro de um ano.
Porém, no dia 26 do mesmo mês o prazo de 10 meses de gelo das colônias que Netanyahu dera expirava, inviabilizando a promessa feita na Casa Branca.
No dia 02 de outubro Abu Mazem anunciou que a Autoridade Palestina suspendia as negociações até que Israel impusesse novo gelo nas invasões.
Como resposta, duas semanas mais tarde, Netanyahu ordenou a retomada das obras de centenas de unidades habitacionais nas invasões judias de Jérusalem oriental, em pleno bairro palestino.

2012: Novo bombardeio da Faixa de Gaza em novembro.

2013: Processo de negociações encabeçado por John Kerry.
No dia 04 de março John Kerry faz sua primeira viagem ao Oriente Médio como Secretary of State estadunidense. Assumiu o cargo com a determinação de deixar a Paz entre Israel e Palestina como o grande legado do governo Barack Obama e de sua gestão na pasta de Relações Exteriores dos EUA.
Nessa primeira viagem foi a Ramallah encontrar o presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas. Voltou varias vezes para encontrar Binyamin Netanyahu e Mahmoud Abbas empurrando um e outro para que voltassem a negociar.
No dia 28 de julho, conseguiu que Netanyahu fizesse um gesto de boa vontade da parte de Netanyahu. Israel aprovou a libertação de 104 prisioneiros palestinos, alguns dos quais, há décadas estavam presos.
A partir daí, John Kerry fez o convite oficial aos dois homens para um tête-à-tête em Washington.
Para ter certeza de favorecer Israel do início ao fim, o Presidente dos Estados Unidos nomeou como mediador do processo um judeu defensor da causa sionista em Washington.
E para ter certeza que as negociações vão parar aí, Netanyahu vai sabotá-las já.

Documentário Journeyman Pictures (trailer de 11'): Road Map to Apartheid

Palestine in Israeli School books: Nurit Peled Elhanan

Documentário Journeyman Pictures:
Israel/Palestine - Al Awda: The Return