domingo, 30 de junho de 2013

Rasteira em gigantes e piratas de colarinho branco



Nesta matéria de notas de rasteiras pelo mundo afora, vou começar com Edward Snowden.
Há anos que a imprensa internacional bem-informada deixou de usar Iphones, Ipads, Facebook e demais cooptados, para passar e armazenar informações profissionais. Para proteger as fontes.
Sabia-se que o governo Obama autorizara o grampeamento de milhões de meios de comunicação privados, e imaginava-se que quem grampeia milhões, grampeia cada vez mais milhares, e ninguém está ao abrigo de ser grampeado.
Vide a nova denúncia que os EUA grampearam até funcionários da União Europeia. União Europeia que, em princípio, é sua aliada e quase sempre cúmplice ativa ou calada. Traição pouca é bobagem.
Porém, sabia-se disso off the record, e tudo o que ficamos sabendo em off, em princípio, não podemos divulgar. Por uma questão de ética. E para conservar a confiança de fontes indispensáveis ao exercício do nosso ofício de informar.
O estadunidense Edward Snowden só levou ao jornal inglês The Guardian a confirmação documentada do que já se "suspeitava".
Aí o rapaz de 29 anos virou o Inimigo N°1 dos Estados Unidos; o apoio velado da Rússia ao passageiro "em trânsito" teve um saborzinho da ex-Guerra Fria; a "grande mídia" gringa começou a procurar erros e defeitos no mensageiro para desviar a atenção da mensagem - como se o crime fosse denunciar e não espionar concidadãos sem razão válida; o Equador (cuja embaixada inglesa já abriga o "wikileaker" Julian Assange desde o ano passado) virou o país mais procurado no mapa de quem não conhecia geografia mas queria saber onde diabos! ficava; e no final das contas - após ameaças, propinas rejeitadas, e os discursos costumeiros da Casa Branca de "solidariedade internacional" contra criminosos - o Presidente dos Estados Unidos desistiu da caça impossível do rapaz, mas acabou voltando atrás, para salvar a face.


Está pagando um mico danado com a falha de seus serviços de Inteligência e a "desobediência" confirmada de grandes nações.
Por orgulho, mais do que por uma decisão racional, quando viu que a reputação de sua super-potência estava em jogo, assim como sua credibilidade, pôs Joe Biden na jogada.
Primeiro para o vice-presidente, com "jeitinho", convencer o Presidente do Equador Rafael Correa a negar o asilo que estava meio prometido. Correa já estava propenso à recusa porque sentiu que Julian Assange, que há um ano a Embaixada equatoriana abriga em Londres, estava dando uma de Presidente em vez de hóspede e querendo dar as cartas para ajudar o jovem whitleblower.
Até agora Edward Snowden provou que a rede de informação dos EUA, apesar dos drones espiões espalhados pelo mundo, dos satélites planetários, da rede tentacular da CIA, (ainda?) é limitado. Mas sua influência e capacidade de pressão continuam grandes.
Até esta data, o jovem witleblower já solicitou asilo em 21 países, como mostra o mapa acima. As portas foram se fechando uma a uma. A diplomacia estadunidense e a CIA estão usando todas pressões possíveis e imagináveis para pressionar o mundo todo cujas informações piratam através das redes de pesquisa, comunicação e sociais que controlam. Inclusive a nossa.
Se fosse eu, ficaria na Rússia. Mas o importante não é onde Snowden fica e sim a infração planetária dos Estados Unidos que ele revela. Será que os EUA estão fazendo toda esta onda com o mensageiro para que a mensagem não seja ouvida?


Voltando a este tipo de "contravenção".
Edward Snowden é um consultor que ultrapassou limites, um heróico "whitleblower", um traidor, ou um cidadão cansado de ser enganado por seu governo?
Uma pesquisa feita em 20 países europeus mostra que pelo menos 13 deles consideram que revelar informação sigilosa só deve ser punida quando dolosa.
Se não representar nenhum perigo para a segurança nacional o informante fica livre.
Países como Albânia, Alemanha, Espanha, Holanda, Itália, Moldávia, Noruega, República Tcheca, Romênia, Suécia, exigem que o cidadão seja punido apenas se o dano à Nação for provado.
Na Dinamarca, na França e na Hungria, o "contraventor" pode inclusive usar como estratégia de defesa o fato da informação não ter causado nenhum dano comprovado.
Nos Estados Unidos, o simples fato de divulgar informações sigilosas já é considerado crime. Mesmo que este seja especulativo.
O governo de Barack Obama continuou com a política de Bush e a reforçou em certos pontos. Continua afirmando que a Procuradoria Pública não precisa provar nenhum dano, pelo menos no tocante à revelação de documentos tidos como sigilosos.
No mês de junho deste ano, 22 professores de Direito e representantes de ONGs de Direitos Cívicos se reuniram na África do Sul a fim de estabelecerem uma Carta de 50 princípios jurídicos.
A chamada Tshwane Principles (nome da cidade em que a Carta foi finalizada) visa, entre outros, reger este tipo de "delito".
Um dos princípios desta Carta exige que a Procuradoria prove que a revelação do "whitleblower" (responsável pelo "vazamento") seja danosa, ou seja, que coloque "a real and identifiable risk of causing significant harm".
E caso o dano seja provado, a pena tem de ser proporcional ao dano de fato.
Se os Tshwane Principles fossem usados já nos casos de Julian Assange, Edward Snowden e do reservista Bradley Manning, é pouco provável que fossem punidos como os EUA desejam. Daí a reticência da Rússia em entregar seu "hóspede transitório" e a disposição do Equador de acolhê-lo.
Bradley Manning, por exmplo, revelou documentos que provavam violações de Direitos Humanos do Exército estadunidense (vídeos mostrando soldados atirando em civis desarmados) e documentos que já levaram a Inglaterra a tomar medidas disciplinares contra os militares britânicos envolvidos nos delitos denunciados.
Os três whitleblowers aqui citados revelaram informações de interesse e valor público que não prejudicaram a segurança nacional de nenhum dos países denunciados.

Portanto, são heróis ou traidores?
Quem são os verdadeiros infratores? São os três e outros que revelaram a infração ou quem cometeu os atos ilegais e amorais debaixo do pano?
No caso de Snowden, a vigilância maciça definida pelo governo como tecnicamente legal - conforme os Patriot ActTerrorist Act que permite ao governo tudo o que quiser - tem um pormenor importante.
Esta vigilância teria de ter sido submetida à apreciação do Congresso. Não foi.
Aliás, já que agora já é de conhecimento público, vale dizer que algumas comissões do Congresso estadunidense tinham sido informadas sobre o programa PRISM e, que se saiba, pelo menos dois senadores - Mark Udall do Colorado e Ron Wyden do Oregon - haviam solicitado investigação, mas não obtiveram nada.
O eixo do Espionage Act dos EUA é vasto e não reconhece nenhuma nuance legal.
Talvez Barack Obama tenha recuado no caso de Snowden (e depois tentado outro ângulo de ataque) porque fica cada vez mais claro que o bandido desta história não é Edward Snowden.
E a população estadunidense? Segundo uma pesquisa nacional, 60% dos gringos preferem segurança do que privacidade. E nem questionam o fato da decisão de vigiliância ter sido tomada de maneira inconstitucional.
Esqueceram uma das frases mais célebres de Benjamin Fanklin: “Those who surrender freedom for security will not have, nor do they deserve, either one.”    
Aliás, lá nos EUA tudo é engolido em silêncio. Corrupção, tráfico de influência, desigualdade, educação pública deteriorada, Obama Care - Seguridade Social que até perto do nosso SUS tem nota baixa, enfim, lá tudo passa.
É mesmo pena que o Brasil importe tudo de lá. Um sistema podre que preconiza a lei do mais forte e cerceia informação e liberdade.

"What country can preserve its liberties, if its rulers are not warned from time to time that teir people preserve the spirit of resistance?  Thomas Jefferson.

O Brasil, segundo os vazamentos, é um dos países mais visados por essa invasão de privacidade praticada pelos Estados Unidos.
Eles se dão ao direito de ouvir conversa de brasileiros em celular, de vasculhar nossos emails e tabletes dos provedores gringos, e além disso, o que se conjetura é que interfiram também nas redes sociais.
Semeando discórdia e fomentando revoltas para desestabilizar o Planalto, nossa economia, e poder nadar de braçada?
A Dilma reagiu logo (ter presidente "mandona" é ou não é melhor do que ter presidente banana?) e cobrou prestação de contas dos Estados Unidos logo que foi informada.
O Brasil foi o primeiro país a fazê-lo publicamente. Outros seguirão?
Segundo o jornalista estadunidense Glenn Greenwald, bem-informado sobre os "vazamentos" de Edward Snowden, afirma que "the NSA has, for years, systematically tapped into the Brazilian telecommunication network and indiscriminately intercepted, collected and stored the email and telephone records of millions of Brazilians."




Falando em Brasil, vêm me perguntando muito sobre o meu país.
A todos digo a mesma coisa: Sou brasileira, vivo no exterior há três décadas, sou cidadã responsável que tenta ser bem informada, mas a nacionalidade não me transforma em especialista de política brasileira interna.
Não tenho costume de falar sobre assunto que não domino. Mas como tenho a impressão que ninguém no Brasil "domina" realmente o que está acontecendo, vou dar minha opinião democrática.
Como cidadã brasileira, acho o movimento social e as reivindicações concretas legítimas.
Como analista, acho difícil satisfazer uma multidão que vai às ruas defender coletivamente causas comuns e individuais com a mesma veemência.
Acho mais difícil ainda separar o joio do trigo.
Ou seja, quem vai para reivindicar algo concreto e quem vai para se fotografar e publicar nas redes sociais sem pensar em quão sério é parar o país apenas por modismo ou por folga.
Protesto é bom e salutar, mas chega uma hora em que tem de parar. Senão a vaca vai pro brejo e carrega o país inteiro com ela.
Por mais sólida que seja, é muito fácil destruir a economia de um país em desenvolvimento. Muito do capital vem de fora (em todos os países é o mesmo) e o capital detesta instabilidade.
Quem continua indo para a rua - em vez de avaliar as conquistas do movimento e de monitorar por internet pressionando nos sites adequados - tem de pensar bem se está disposto a pagar o ônus da inflação que vai certamente galopar e a qualidade de vida que vai baixar se o movimento de passeatas e a greve marcada não derem um tempo para a Presidenta reagir e o país caminhar.
Nos países desenvolvidos, as passeatas geralmente são feitas nos fins de semana. Sobretudo aos domingos. Justamente para os protestos serem ouvidos sem prejudicar o bom andamento da nação.
Pois o país tem de funcionar para o bem da população inteira. E durante a semana todos têm seus afazeres.
No Brasil estão indo às ruas durante a semana. Como é possível? Estas pessoas que engrossam as passeatas estão de férias? Passeata virou balada?
Passeata não é balada. É coisa séria. Ato cidadão responsável.

Tudo me parece muito improvisado e pouco pensado.
Por exemplo, não entendi porquê a popularidade da Dilma desmoronou. Comparado com os outros governantes ocidentais democráticos, ela está fazendo um bom governo. É um fato.
Ela me parece surpreendida pela revolta inesperada - quem não está? - mas tirando certas medidas apressadas para acalmar a galera, acho que ela tem respondido até bem às demandas.
E isto é raro. Até na Europa. Nos Estados Unidos, nem se fala.
A diferença é que na Europa as pessoas sabem que toda manifestação popular em forma de greve e de passeata tem limite e prazo.
O limite das passeatas é o dado pelo órgão de segurança pública. Com hora, local e regra para manifestar.
O prazo das greves e das passeatas é o necessário para que o país não seja prejudicado.
No Brasil, o prazo das manifestações está se espichando ao do dos países não democráticos, em que o povo luta por direitos básicos de pão e liberdade.  
Liberdade a minha geração já conseguiu trinta anos atrás a duras penas. Lembro-me bem de ter sido privada de formatura, de diploma, porque era a oradora oficial da turma de formandos da Universidade Federal de Goiás e o meu discurso "desagradar" os militares.
São águas passadas.
A geração de agora quer mais. É uma evolução natural. Mas com responsabilidade.
Tem de preservar o Brasil e as conquistas passadas.

Ouvi até compararem Dilma Roussef com Fernando Collor! Gente de má fé ou com agenda própria que queira inserir ideias maléficas nessas redes sociais.
Esperemos que os redistas sociais não sejam ovelhas e não funcionem como lenha na fogueira de quem quer ver o Brasil pegar fogo e ir à bancarrota.
Para servir quem?
O desconfortável para os analistas é que esta revolta brasileira aparenta um coletivismo individual.
Ou seja, a ogeriza à corrupção é o único ponto pacífico de todo mundo que fala. Mas corrupção, embora seja concretíssima, generalizando, o tema é bastante abstrato.

Além disso, não me parece que os manifestantes tenham todos a mesma pauta. Ou estou enganada?
Se tivessem, estariam inundando seus prefeitos, governadores, deputados e senadores de emails, twitters, enfim, todo tipo de recurso que a internet oferece para se comunicarem. Já que, pelo que entendi, os manifestantes vivem ligados em redes sociais.
Ora, quase todos os pontos ainda não solucionados ou encaminhados são parlamentares ou regionais. Por que então atacar o governo federal?
A não ser que haja mesmo uma força oculta atrás das palavras de ordem que circulam nas redes sociais e o objetivo seja tirar uma presidenta de pulso para pôr no lugar dela o vice-presidente Michel Temer.
(Político do PMDB que na Operação Castelo de Areia, deflagrada em 2009 para investigar corrupção dentro da construtora Camargo Correa, teve o nome citado 21 vezes em listas apreendidas da contabilidade paralela da empresa. Na operação Caixa de Pandora, que investiga o Mensalão do DEM no distrito Federal, Temer também foi citado como beneficiário. O político declarou que irá processar quem envolveu seu nome no escândalo. Em 2012, gravações telefônicas mostraram conexão entre Michel Temer e o bicheiro Carlinhos Cachoeira. O então presidente da Câmara teria atendido pedidos do bicheiro para engavetar o projeto de lei que transformaria o jogo do bicho em crime.)
Venhamos e convenhamos, a Dilma vale muito mais do que isso.
Além disso, tirar um presidente sem justa causa, um presidente de ficha limpa como a dela,... cheira a golpe de estado.
Se eu fosse às ruas brasileiras (já teria voltado pra casa), resumiria as demandas em uma frase: Abaixo a Lei do Gérson!
É o oportunismo socio-econômico-político do pequeno e do grande que gangrenam o Brasil do Rio Grande do Sul ao Amazonas.
Não são apenas os políticos que se corrompem.
Os empresários que os corrompem também são uma vergonha.
As pessoas que aproveitam de oportunidades ilícitas em seus estados e municípios idem idem idem.
Brasília é apenas o leão visível. Não é o mal, é o sintoma da praga da corrupção individual quotidiana.
E talvez seja por isso que estejam tentando desacreditar a Dilma.
Porque ela não tem "rabo preso" e pode derrubar todo mundo.

PS1. Quem quiser informar-se sobre os gastos e assuntos oficiais da Copa do Mundo 2014 no Brasil,
eis o site: http://www.portal2014.org.br/





PS2. Quem quiser informar-se, existem mecanismos criados nos últimos anos para facilitar o monitoramento das atividades e dos gastos públicos.
Por exemplo, desde 2011 há uma lei que garante aos cidadãos brasileiros o acesso a informações públicas: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm.
Todo brasileiro tem o direito de informar-se, investigar e reclamar com conhecimento de causa. Se quiser, fique à vontade.
Ser whitleblower no Brasil não é crime como nos Estados Unidos. É bem-vindo.
Ao contrário dos EUA, só é crime a divulgação de informações que comprometam a segurança nacional.

PS3. Quem quiser conhecer a Constituição Brasileira, eis o link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm
A última vez que foi "emendada" foi quando Fernando Henrique Cardoso a mudou in extremis para poder desfrutar de um segundo mandato. E comprou voto.
Aliás, foi ele também que privatizou a Vale do Rio Doce para fazer dinheiro rápido. Esta companhia, já sob domínio privado, beneficiou-se do grande aumento no preço mundial do minério de ferro, o principal produto vendido pela Vale - que subiu 123,5% desde o inícios de 2005 até o final de 2006 - o que lhe permitiu crescer e se desenvolver de forma acelerada. E em outubro de 2006, com os lucros obtidos no Brasil, comprou a mineradora canadense Inco, que incorporou como sua subsidiária integral, em janeiro de 2007, tornando-se a segunda maior mineradora do mundo. Dinheiro que poderia ir para os cofres públicos. Mas não. Vai para bolsos de marajás estrangeiros e locais.
Aliás, na elaboração do modelo de privatização de FHC teve participação importante a economista Elena Landau, então diretora de desestatização do BNDES, a quem se acusava de tomar decisões contrárias aos interesses nacionais. Já era casada com Pérsio Arida, sócio de Daniel Dantas no Banco Opportunity, que foi um dos bancos que mais comprou empresas privatizadas no Brasil.
Que pena que na época ainda não existissem as redes sociais.

PS4. Quem quiser informar-se na fonte, eis o link da íntegra da LAI - Lei de Acesso à Informação. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12527.htm
Resumindo, a LAI criada em 2011 pela Dilma, estabelece que o acesso a informações públicas é direito fundamental de todo e qualquer cidadão, cujo propósito foi o de regulamentar esse direito constitucional.
O acesso às informações contribui para o combate à corrupção, o aperfeiçoamento da gestão pública, o controle e a inclusão social. Possibilita uma ação ativa da sociedade nas ações governamentais e, consequentemente, traz inúmeros ganhos, tanto para a sociedade, quanto para o serviço público.
O princípio orientador da LAI é o da publicidade máxima como preceito geral e o sigilo como exceção, ou seja, o acesso à informação pública é a regra, e o sigilo a exceção, além de permitir a criação de culturas de acesso como: divulgação de informações de interesse público, independente de solicitações; fomento ao desenvolvimento da cultura de transparências na administração pública e utilização de meios de comunicação viabilizados pela tecnologia da informação.
Com base na informação, a Lei classifica os dados, como processados ou não, os quais podem ser utilizados para produção e transmissão de conhecimento, contido em qualquer meio.  O Estado Brasileiro tem o dever de garantir o direito de acesso à informação, cabendo aos órgãos e entidades do poder público assegurar a proteção da informação, propiciando acesso a ela e a sua divulgação, bem como proteção da informação sigilosa e da informação pessoal, observada sua disponibilidade, autenticidade, integridade e eventual restrição de acesso.
Conforme a referida Lei, as informações poderão ser assim classificadas:  sigilosa, quando considerada imprescindível à segurança da sociedade (à vida, segurança ou saúde da população) ou ao Estado (soberania nacional, relações internacionais, atividades de inteligência) e pessoais; e ambas devem ser protegidas e ter o seu acesso e a divulgação controlados.

PS5. Quem quiser aceder ao Sistema de Informações ao Cidadão (SIC), o pedido de informação pode ser feito pela internet: www.acessoainformacao.gov.br/sistema
SIC Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão: http://www.acessoainformacao.gov.br/sistema/

PS6. Quem quiser informar-se sobre as ações do Governo Federal no quotidiano, há também a possibilidade de cadastrar-se no Blog do Planalto: http://blog.planalto.gov.br/.
Imagino que exista a mesma coisa nos estados.
Se não existir, Internautas, inundem seus governadores com emails solicitando a criação deste mecanismo de seguimento!

PS7. Para falar com a Presidenta: https://sistema.planalto.gov.br/falepr2/

PS8: Para falar com seu senador: http://www.senado.gov.br/senado/alosenado/default.asp?s=fs&area=internet&a=f

PS9: Para falar com seu deputado federal: http://www2.camara.leg.br/participe/fale-conosco/fale-com-o-deputado

E existe o mesmo mecanismo estadual e municipal.
Em vez de parar o Brasil de cara pintada, mostre a cara e reclame diretamente inundando-os de emails.


Finalizando, a reforma partidária no Brasil é mesmo indispensável.
Se o PT não tivesse apostado na "governabilidade", ou seja, obrigar-se a alianças com o PMDB e outros tantos partidos in/expressivos para poder governar, ouso acreditar que não tivesse barganhado voto.
O Fernando Henrique, por exemplo, teve de fazer o mesmo. Mas foi mais esperto. Optou por aliar-se a um tubarão logo no começo. Deu-se bem. O país não sabemos. Pois não se investigava parlamentar nem ministro naquele tempo. Os jovens talvez não se lembrem, mas o coronel baiano Antônio Carlos Magalhães, vulgo ACM, encarnava então, junto com José Sarney, o pior que o Brasil fabrica.
Foi então que a dobradinha FHC/ACM implantou no Brasil a Economia neoliberal para enriquecer um punhado e empobrecer milhares.
A reforma partidária é mesmo essencial.
Depois os parlamentares terão de trabalhar para a população e de votar as leis de interesse público, em vez de "trabalharem" em interesse próprio e eleitoreiro.
Sonhar não faz mal.
Se conseguirmos diminuir um terço do número de vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores, a economia já será ótima.
E se o cidadão passar a cobrar serviço público e não benefício privado de seu parlamentar, será melhor ainda.
Evolução indelével só acontece passo a passo e focando no interesse coletivo em vez do individualismo pragmático.

Para finalizar mesmo este capítulo tupiniquim, acho que para a Presidenta (apesar dos pesares e de ter virado bode expiatório) esta revolta cidadã é, pradoxalmente, uma mão na roda.
Pelo que vi na Datafolha, a imensa maioria do povo brasileiro - 81%, e dos petistas e simpatizantes do partido, 79% - apoia as manifestações destas últimas semanas.
O recado enviado é claro: Dilma faça as reformas necessárias para governar como o povo espera e merece!
Por incrível que pareça, é graças a esses cidadãos que a vaiam e conspurcam o seu trabalho que ela está conseguindo que o Congresso vote as medidas que os deputados e senadores empurravam com a barriga para atender os lobistas que defendem os interesses do grande capital.
Vide a Lei de Reforma dos Portos, que acaba com o monopólio que asfixia o comércio internacional.
Além das reformas reivindicadas pelos manifestantes Brasil afora, é claro.
Agora há de se deixar a Presidenta trabalhar (trabalhadora ela é, a danada!) de cabeça fria e preparar o plebiscito para a reforma partidária junto com o povo e com especialistas no assunto. Pois nada funciona bem de maneira empírica.
Trocando em miúdos, o resumo da ópera que faço para os estrangeiros é simples:
A limpeza está sendo feita e o Brasil vai sair deste protesto cívico vitorioso e de cabeça erguida.
E aos meus compatriotas digo: Só que o bom senso tem de reinar. Do lado do governo (que tem de atender as reivindicações, mas na medida do possível dos cofres públicos) e do lado dos manifestantes, que têm de saber a hora de parar e têm de enxergar que os cofres públicos não são sacos sem fundo.
E, parafraseando o ditado, Roma não foi construída em uma semana.
Vi slogans tão absurdos nas passeatas quanto "Se a corrupção não parar, nós paramos o Brasil"(!!! Ignorância pouca é bobagem)
Como se o Brasil fosse uma entidade antagônica e não a Pátria Amada Salve! Salve! de todos os brasileiros.
Pátria que se for por água abaixo leva o povo brasileiro de B a Z na enxurrada.
Se os protestos não forem feitos com consciência política e responsabilidade, o Brasil vai regredir em vez de avançar. E todo mundo vai penar.



Post Scriptum Boicote Israel: McDonald's licensee in Israel confirmed this week their company's refusal to open a franchise inside a mall being built in the West Bank colony of Ariel.
According to a McDonald's Israel spokesperson the company, with 180 outlets in Israel, has never operated in territory seized by Israel in 1967.
Apparently the decision was made by Omri Padan, the owner of McDonald’s Israel, who was also an original co-founder of Peace Now, although he is no longer a member. According to Irina Shalmor, spokesperson for McDonald's Israel, the decision was not coordinated with McDonald's headquarters in the U.S.
Israel's Jewish colonies in Palestinian occupied territory are illegal under international law. 


Post Scriptum Palestina: O mundo ganhou na semana passada um novo Embaixador da Boa Vontade da ONU. Ele é palestino e se chama Mohammad Assaf.
Assaf ganhou o concurso de televisão Arab Idol e de um dia para o outro virou herói nacional na Cijosrdânia e na Faixa de Gaza.







domingo, 23 de junho de 2013

Israel vs Palestina: XXXVbis Sentença de morte de Yasser Arafat

No dia 11 de setembro de 2003, Israel abriu o jogo e declarou publicamente sua decisão de descartar Yasser Arafat.
No comunicado de imprensa, o Comitê de Segurança israelense disse “Recent days’ events have proven again that Yasser Arafat is a complete obstacle to any process of reconciliation … Israel will act to remove this obstacle in the manner, at the time, and in the ways that will be decided on separately …”
Como se tivessem autoridade para "livrar-se" do presidente palestino e que seus concidadãos fossem ficar de braços cruzados vendo seu líder ser aniquilado.
As ruas das principais cidades de Cisjordânia e Gaza foram inundadas de gente protestando e as principais capitais europeias reagiram sem tardar.
Com mais ou menos veemência, os países do Ocidente condenaram por unanimidade a decisão de "remover" o presente da Autoridade Palestina.
Os meios a serem utilizados não foram explicitados, mas nas entrelinhas lia-se a ameaça implícita de assassinato.
A Casa Branca entrou em contato com Ariel Sharon e disse que se opunha a esta medida extrema, embora  “he is part of the problem and not part of the solution”.
Há alguns meses que o rumor de um complô EUA-Israel para assassinar Yasser Arafat (Abu Ammar) corria no Oriente Médio e nos serviços de Inteligência de algumas capitais europeias.
Em setembro de 2003 a decisão do Comitê e a reação de Bush contra qualquer atitude pública transformou este rumor em quase certeza que, privado de autoridade para "expulsar" o líder palestino, a "solução final" seria livrar-se dele do mesmo jeito que vinham se livrando dos outros líderes - executando um por um desde o início da Intifada.
A notícia desta conspiração começara em 2000 e estava tão embasada que o presidente da França Jacques Chirac foi alertado e alertou Vladimir Putin para reagirem juntos e evitar mais uma catástrofe.
A França e a Rússia se ofereceram então para evacuar Arafat imediatamente de Ramallah e fornecer-lhe asilo político no país de seu agrado.
Porém, Abu Ammar declinou a ajuda e o convite. Arrepiava só de pensar em sair da Palestina e jamais poder voltar. Conquistara o direito de retorno, tantas conquistas mais, e não queria nem ouvir falar em exilar-se de novo. Nem para salvar-se.

As descobertas feitas em 2012 levam a crer que as premonições de Arafat tinham fundamento. A aprovação para "removê-lo", condenada pela ONU e no final aprovada pelos Estados Unidos, ia mais longe do que um simples afastamento.
Na época, foi a Síria que defendeu Yasser Arafat nas Nações Unidas solicitando que o Conselho de Segurança proibisse  Israel de cumprir sua ameaça.
Os Estados Unidos vetaram mais uma vez a Resolução que oficializava o repúdio inernacional coletivo e em resposta à "ousadia" de Bashar el-Assad, aviões de combate israelense sobrevoaram Damasco - em outubro bombardeariam um sítio próximo da capital e dariam um desculpa esfarrapada para a invasão territorial: O alvo era um "training facility for members os Islamic jihad."
Em plena War against terror declarada em Washington, jihad era uma palavra mágica que justificava qualquer ato amoral e ilegal.
George W. Bush só daria um tapinha nas costas de Ariel Sharon e as reclamações de Bashar el-Assad na ONU seriam vãs.
Tudo levava a crer que o destino do presidente da Autoridade Palestina tenha sido definitivamente selado neste mês de setembro de 2003.
Já se sabia que desde o assassinato de Yitzak Rabin os sucessivos dirigentes israelenses queriam ver o diabo mas não queriam ver Abu Ammar. Apesar disso, ninguém fora demente o suficiente para correr o risco de eliminá-lo e provocar um desastre global, uma bola de neve de revolta árabe.
É bastante provável que tenha sido selado em setembro de 2003, mas foi traçado em 1996 na Operation Fields of Thorns.
O jornal Ma'ariv publicou no dia 06 de julho de 2001, um documento datado de outubro de 2000 preparado pelo serviço de segurança do então Primeiro Ministro Ehud Barak, que definia que “Arafat, the person, is a severe threat to the security of the state [of Israel] and the damage which will result from his disappearance is less than the damage caused by his existence”.
O assassinato de Arafat era parte do Dagan Plan, de 2001. A declaração semi-oficial de setembro de 2003 era apenas pro-forma.
Na verdade, este Plano dos serviços de Inteligência de Israel visava destruir a Autoridade Palestina inteira, fomentar divisões entre o Fatah e o Hamas (que Dahlan facilitou bastante prendendo e torturando membros do Hamas em nome do Fatah), descartar Abu Ammar e instalar no governo alguém do gosto de Israel e EUA.
O futuro mostraria que o plano maquiavélico seria um sucesso do começo até hoje.
 Só não conseguiram destruir a Autoridade Palestina e a determinação dos palestinos.

O Dagan Plan leva o nome de seu arquiteto, o general de reserva Meir Dagan. Dagan o elaborou quando era conselheiro de Ariel Sharon nas questões de segurança durante a campanha eleitoral.
O Plano consistia em pôr Arafat “out of the game”.
Este Plano era baseado em duas premissas inalteráveis: “One, Arafat is a murderer, and one doesn’t negotiate with a murderer. Two, the Oslo Accord [mutual recognition of Israel and the PLO, 1993] is the greatest evil that has ever fallen upon Israel, and everything should be done to destroy it.”
O objetivo era levar a cabo uma vasta operação militar de intensidade crescente para isolar o Presidente da AP progressivamente em âmbito nacional e internacional.
O plano foi seguido à risca e os resultados foram os desejados. Em 2003 Yasser Arafat tinha virado quase um pária na comunidade internacional. Só faltava sua eliminação física para sua influência interna ser extinta e garantir que jamais ressucitasse políticamente no exterior. 
Segundo o artigo que Ellis Shuman publicou na Global Research em 2002, "The Bush Administration was in all likelihood familiar with the Dagan Plan and did nothing to block its implementation. There were close consultations between US and Israeli military and intelligence officials. In turn, CIA Director George Tenet, had been put in charge of so-called “peace negotiations”. The hidden agenda was to stall the stall the peace process and implement the Dagan Plan.
Contrived behind closed doors in July 2001, the Dagan Plan was slated by its IDF and Mossad architects to be “launched immediately following the next high-casualty suicide bombing, would last about a month and is expected to result in the death of hundreds of Israelis and thousands of Palestinians.”
O que vasou no relatório foi que o Ministro da Defesa israelense, Tenente-general Shaul Mofaz, apresentou em julho de 2001 um plano atualizado para um all-out ataque à Autoridade Palestina.
Este ataque total seria realizado com 30 mil soldados da IDF com a missão de destruir toda infra-estrutura administrativa e militar palestina, confiscar as armas que sobrassem e expulsar ou matar as lideranças militares - que no caso da Palestina, são as mesmas políticas, já que o país todo resiste à ocupação como pode.

Este novo Plano foi chamado de Operation Justified Vengeance.
A OJV lembrava a Operação que o então Ministro da Defesa Ariel Sharon implementara no Líbano em 1982, que culminou na morte de mais de 1.700 palestinos e no massacre nos campos de Sabrah e Shatila.
Portanto, não deveria ficar pedra sobre pedra na Palestina. 
A OJV foi parcialmente posta em prática durante a Intifada com a Operação Defensive Shield e a Operação de Assassinatos dos líderes do Fatah e do Hamas.
Porém, os palestinos não haviam baixado os braços como Sharon esperava.
E Abu Ammar continuava vivo, apesar de despojado de poderes administrativos e dos seus adversários locais terem aumentado.
Em 1982 no Líbano, ele escapara para a Tunísia e a OLP se reforçara.
Em 2003, ainda contava com apoio popular. Para livrar-se dele, só morto. E olha lá. 
Uma morte violenta teria consequências dramáticas. Ela tinha de ser disfarçada, e lenta, para os palestinos e o mundo não suspeitarem, se acostumarem com a ideia e seus compatriotas depois sofrerem calados o luto fechado.
Foi por causa dos objetivos explícitos das Operações Dagan e Vingança Justificada que em setembro de 2003 ficou mais do que claro que os dias de Abu Ammar estavam contados.
Só restava saber quais seriam os meios para riscá-lo do mapa.

A saúde do homem forte e enérgico que era Yasser Arafat começaria a falhar já em outubro.
O líder palestino definharia em uma doença indiagnosticável - os israelenses espalharam o boato que ele estava com AIDS... Boato que levantou suspeita que lhe tinham também inoculado o vírus desta doença. 
Abu Ammar morreria treze meses mais tarde e seria enterrado sem autópsia, embora se desconfiasse que tinha algo muito errado nessa doença que foi destruindo o líder palestino a vista d'olhos sem que nenhum especialista a diagnosticasse.
A esposa e a filha do líder palestino não baixaram os braços e conseguiram exumar seu corpo há poucos meses para que seja examinado por um grupo de cientistas europeus.
http://mariangelaberquo.blogspot.fr/2012/07/o-que-e-quem-matou-yasser-arafat.html
Muitos jornalistas se lembram da declaração que o porta-voz de Ariel Sharon, Raanan Gissan fez naquele mês de setembro fatídico: "The Cabinet has today resolved to remove this obstacle. The time, the method, the ways by which this will take place will be decided separately, and the security services will monitor the situation and make the recommendation about proper action.” 
Se for provado que Israel assassinou Yasser Arafat por intermédio de um ou mais traidores palestinos, compreender-se-á melhor a via-crucis que Abu Ammar viveu de outubro de 2003 ao dia 21 de outubro de 2004. Dia em que foi tomado de forte crise de vômito.
Os médicos locais pensaram que fosse uma simples gripe, devida ao enfraquecimento de seu sistema imunitário. Um dos muitos problemas causados pela doença indetectável.
Seu estado estava tão precário que quando o presidente francês Jacques Chirac lhe ofereceu tratamento em Paris, Arafat aceitou. Desta vez ele sabia que não tinha escolha, que onde e como estava corria perigo imediato de vida. Sentiu que era a última chance que tinha de voltar a pisar o solo de sua terra natal. 
Em Paris foi logo internado em um hospital militar especializado, mas era tarde demais. Os médicos não conseguiram salvá-lo. Em estado de coma, deu o último suspiro no dia 11 de novembro de 2004, às 3h30, na capital da França. Longe da Palestina. Longe de Jerusalém. Longe de casa.
O Palácio do Elysée cuidou dos documentos administrativos para assegurar-se que no atestado de óbito figurasse que Jerusalém era o lugar de nascimento de Yasser Arafat.
Ariel Sharon se opôs ao retorno do corpo de Abu Ammar a Jerusalém, o funeral internacional foi no Cairo. O líder palestino seria enterrado mais tarde na Muqata'a, em Ramallah.
Foi assassinado? É bem provável.
Por Israel? É pouco provável que Tel Aviv confesse o crime, mesmo que venha a ser provado. Negaram no ano passado e negarão sempre.
Quem teria agido diretamente?
Há conjeturas que o assassino direto, que executou o Plano Dagan e Vinga propriamente dito seja um compatriota que tenha posto veneno em sua comida.
Não há nenhuma prova contra ninguém, nem contra Abu Fadi (Mohammed Dahlan), cuja carta abaixo enviada ao Ministro da Defesa Israelense Shaul Mofaz em julho de 2003 foi revelada pelo Hamas. O mais provável é que quem tiver envenenado Arafat diretamente o fez sem saber o que estava fazendo, pois tudo o que entrava e saía da prisão domiciliar de Abu Ammar, ou seja, na Muqata'a de Ramallah, era controlado por Israel. Inclusive comida e água. 

Be certain that Yasser Arafat’s final days are numbered, but allow us to finish him off our way, not yours. And be sure as well that … the promises I made in front of President Bush, I will give my life to keep.”





domingo, 16 de junho de 2013

Oriente Médio em notas e imagens



Em abril, o Maariv, um dos cinco jornais mais importantes de Israel, saiu com uma manchete surreal. 
Due to criticism in the world, IDF parts ways with white phosphorus”.
Ou seja, devido às críticas internacionais, a IDF (Forças Armadas israelense) para de usar o fósforo branco, sua arma química predileta. E está à procura de um susbtituto.
Um oficial graduado explicou: “As we learned during Cast Lead, it [white phosphorus] doesn’t photograph well, so we are reducing the supply and we will not purchase beyond what we already have.”
"Não fotografa bem"... Eufemismo deslavado. E além de não fotografar bem,  “burdened Israeli hasbara [propaganda],” publicou o jornal israelense como se fosse uma matéria normal.
Primeiro, o ser humano que tento ser ficou chocado com o palavreado. 
Como banalizar com tamanha desenvoltura uma arma química tão selvagem?!
Depois, a jornalista que sou arrepiou e disse, Peraí! a IDF  "nunca usou" Fósforo branco!
Não era isso que repetiam nas coletivas de imprensa até quando as imagens provavam o contrário, ou seja, o fósforo branco óbvio?!
Como é que se para de usar algo que nunca foi usado?
Armas químicas só são usadas na Síria, pelo vilão Bashar el-Assad!! não é o que os EUA, a França, a Inglaterra repetem sem parar?
Informados por quem mesmo? Por serviços de Inteligência de onde mesmo? Não é mesmo de Israel?
Os Estados Unidos viram as provas das imagens das bombas de fósforo sendo jogadas, as provas irrefutáveis dos efeitos causados, mas reagiu como às provas apresentadas? 
Imagine! Israel nunca usou armas químicas contra os civis palestinos!!
Gaza foi bombardeada com confete e serpentina?
As queimaduras profundas, a cegueira em dezenas de meninos que olhavam cair o pó dos "fogos de artifício", os mortos estirados com marcas claras dos efeitos do fósforo branco... Enfim, as reclamações embasadas das ONGs de Direitos Humanos. O evidente e comprovado não serviram pra nada.
Mas como fotografava mal! 
Voltando o filme, a IDF resolveu admitir postumamente o uso, "mas só em território aberto e não contra gente."...
Depois a confusão aumentou e teve de admitir  o uso em áreas urbanas.
"Apenas" umas duzentas bombas. 
"Mas só para criar um “smoke screen.”  "Sem problema. E se tiver havido algum inconveniente, foi insignificante e sem más-intenções."
Que pena que pessoas tão bem intencionadas tenham sido tão bárbaros.
No mínimo doze gazauís morreram instantaneamente sob o efeito horrível do fósforo branco. Entre eles, três mulheres, seis meninos e uma garotinha de 15 meses.
Dezenas foram queimados com esta arma química "dissuasiva".
Todos os atingidos eram "perigosíssimos" e "mereciam".
Naquela estória dos dois pesos e duas medidas.
Fósforo branco em olhos alheios é colírio...
Os queimados eram tantos - famílias inteiras - que os hospitais que ficaram de pé em Gaza na Operação Cast Lead em 2008/9 não conseguiam atender todo mundo e os médicos estavam perdidos. Pois nenhuma universidade do mundo ensina a tratar este tipo de queimadura. 
Ghada Abu Halima, de 21 anos,
"sobrevivente" do fósforo branco 
Aliás, até o Hospital Al-Quds perdeu dois andares queimados pela arma química. Na época a Humans Rights Watch publicou investigação minuciosa sobre a arma suja que Israel usou em Gaza e seus efeitos devastadores, soldados da IDF prestaram depoimento sobre o uso abundantete de fósforo branco. Inclusive direto em residências.

Neste momento, enquanto alguns presidentes europeus e o Primeiro Ministro de Israel acusam Bashar el-Assad de usar gás sarim contra seus compatriotas (com prova cabal, dizem, embora restrita), nas fábricas israelenses de armamentos Rafael ou Elbit tem engenheiros procurando uma outra arma química que fotografe melhor para jogar nos palestinos sem piorar sua imagem internacionalmente.
Talvez haja até neurologistas na equipe da IDF. Pois precisam mesmo é de uma arma que erradique da cabeça dos palestinos as noções de ocupação, opressão, segurança, cidadania e liberdade.


Síria, Bashar el-Assad sai ou fica?

Agora vamos sair do país que há 65 invade, ocupa, espezinha os vizinhos, e, por ser intocável por causa do peso do padrinho, usa arma química à vontade sobre famílias inteiras à vontade e sem represália.
Vamos passar a uma ditadura vizinha que conta com a proteção pragmática da Rússia, que protege Assad não por convicção político-ideológica e sim por interesses próprios.
Uma guerra civil que segundo a ONU já fez mais de 90 mil mortos. De fato, a contagem é impossível. Só será possível quando o tiroteio parar e a poeira baixar.
Desde que John Kerry substituiu Hillary Clinton que especula-se sobre o futuro da Síria. Será que os EUA dialogando com a Rússia, juntos, podem reunir Bashar el-Assad e os intricados grupos de rebelde em volta de uma mesa para negociar o futuro da Síria?
Ia escrever "futuro pacífico", mas parei antes porque os dois grupos dissidentes mais proeminentes são tão díspares que quando e se tiverem o poder nas mãos vai ser difícil compartilharem-no como o ocidente gostaria.
Embora a única solução seja o diálogo, vai ser difícil persuadir os líderes dos grupos de oposição a conversar com Bashar el-Assad. Nesta altura do campeonato (e há dois anos atrás), não querem salvar o país natal. Querem a destruição total do Presidente alauíta e do partido Baath.
A guerra é pessoal.
O conflito é religioso.
Os motivos são irracionais.
Nos argumentos dos defensores dos dissidentes - milhares de mortos, patrimônio histório arquitetural espedaçado, ameaça de arma química - falta o componente "programa" de união nacional. Sem o qual, a tempestade vai durar anos ou décadas.
Quanto às armas químicas, os russos se mostraram céticos com as provas que os EUA lhes apresentaram. Yuri Ushakov, conselheiro de Vladimir Putin para política internacional, disse ressabiado: "...I will say frankly that what was presented to us by the Americans does not look convincing. It would be hard even to call them facts."
Considerando as prévias e múltiplas manipulações da verdade pela Casa Branca...
Barack Obama voltou a falar em intervenção da OTAN "por causa do uso 'comprovado' do gás sarin, mas é tudo um pouco vago.
Quem usou o gás?
Em quanta gente?
Onde?
Qual a origem da arma química, do estoque de Assad ou de alhures?
Intervir como?
Fornecendo mais armas aos rebeldes? Quais?
Bombardeando Damasco como fizeram com Bagdá?
A queda sangrenta de Assad deixaria nos discursos vagos reticências intermináveis.
O perigo do país encontrar-se ingovernável ou governado pela sharia, pela lei islamita dos extremos, não é elucubração intelectual. É um fato cada vez mais claro até para quem se recusava a encarar o que se passa no terreno.
A Síria está destruída, empobrecida, de joelhos, e os sírios estão divididos como nunca estiveram no passado.
Por incrível que pareça, apesar de todos os pesares que causou e tem causado, Bashar talvez seja salvo e redimido nos países ocidentais pelas mesmas razões que seu pai.
Os sírios querem segurança, ordem e pelo menos uma aparente normalidade.
Foi isso que Hafez lhes deu com as mãos sujas do sangue de seus compatriotas.
É estabilidade que esperam de Bashar antes do fim do ano.
Em abril, na celebração dos 67 anos de independência da França, Bashar fez um discurso em que não falou nem das lágrimas nem do sangue nem do suor derramados nestes últimos dois anos.
Falou sobre guerra. De maneira triunfante. E assegurou aos compatriotas que o apoiam, e aos demais, que sairia dela com vitória.
Suas palavras atingiram o alvo.
O país está em guerra.
Guerra é contra inimigo comum. Estrangeiro.
Nada melhor do que despertar o negro passado colonial para lembrar os sírios do perigo de virarem um Iraque.
O Iraque invadido, Saddam Hussein humilhado e executado junto com o partido Baath, o país derrotado, miserável, em conflito interno permanente, atentados constantes e imprevisíveis, a população em sobressalto.
E tudo começou com uma invasão para "salvar" a população iraquiana e acabar com a "ameaça de armas químicas" que nunca foram encontradas.
Os EUA e seus cúmplices invadiram o Iraque, puseram no lugar de Saddam Hussein um bem-sucedido oponente expatriado, Ahmed Chalabi, e este, em Bagdá, só fez bobagem.
Com todo respeito aos rapazes patriotas quem estão no terreno suando e sangrando por liberdade, os que os dirigem da Turquia, do Qatar, não dão firmeza nem em atos nem em palavras.
E Ghassan Hitto, novo líder  da chamada Coalizão Nacional Síria de Oposição e das Forças Revolucionárias, pode ser conhecido em Washington, mas na Síria...
Hitto nasceu em Damasco em uma família kurda e saiu do país com 17 anos.
Emigrou para os Estados Unidos, naturalizou-se e ficou por lá.
Hoje tem 50 anos e a Síria lhe é tão estranha quanto para Chalabi era o Iraque.
Para os sírios nacionalistas, Hitto feliz uma opção de pátria quando pediu e obteve a nacionalidade gringa.
E é aí que o discurso de Bashar el-Assad acertou no alvo.
Alguém que optou pela nacionalidade estadunidense governaria para quem?
Para o país natal ou para o adotivo?
Bashar pôs a pulga atrás da orelha do país inteiro.
Enquanto isso a população pena, os "rebeldes" se preparam para novas ofensivas, o exército de Assad pega pesado, e o G8 discute o futuro dos sírios.
Qualquer que seja a decisão, a solução tem de ser rápida. O sectarismo aumenta de hora em hora. E cada dia que passa distancia os sírios - alauítas, cristãos, kurdos, sunitas, xiitas - da possibilidade de paz e reconciliação.
Os salafistas contam com isso. É na divisão, no caos, que o terreno é fértil para o extremismo.


Vala comum em Jaffa

No dia 29 de maio, em um processo de renovação, os operários encontraram uma mass grave, ou seja, uma Vala Comum, em Jaffa.
Jaffa, até 1948, era uma cidade palestina conhecida pelo cultivo de laranjas.
A Vala Comum parecia as que foram encontradas nos campos de concentração no fim da Segunda Guerra. Aquelas, estavam cheias de judeus gazeados pelos nazistas.
Esta, está cheia de palestinos amontoados. As fotos abaixo mostram os massacres e os efeitos da Naqba.

Aquelas cavas, suscitaram comoção universal indignada e justificada, manchetes em jornais, acusações contra os nazistas bárbaros, história obrigatória nas escolas ocidentais com horror implícito: Nunca Mais!
Nunca Mais?
Estas cavas, suscitaram comoção apenas localizada, matérias curtas em páginas internas, suspiros de resignação com a impunidade.
Valas comuns cheias de esqueletos palestinos de todos os sexos e idades, Quantas Mais?
Atar Zeinab, um sobrevivente hoje com 80 anos, estava lá para contar a história.
Faz parte dos adolescentes palestinos que carregaram os corpos dos compatriotas - conhecidos, amigos, familiares - para jogá-los na vala comum, mais ou menos do tamanho das dos nazistas e cavadas com pressa para "limpar" Jaffa para os grupos para-militares do recém-auto-proclamado Estado de Israel. 
O pescador Atar lembra-se de ter carregado 60 corpos em um período de três meses.
A Vala cavada no cemitério era enchida de cadáveres que jaziam nas ruas.
O perigo era onipresente, pois os para-militares israelenses jogavam granada onde viam gente e os snipers - atiradores furtivos - atiravam em tudo o que tinha forma de gente.
Como os sérvios fariam em Sarajevo durante a Guerra que dividiu a Iugoslávia.
"We carried them early in the morning or in the night," disse Atar ao colega da AFP. "We put women, children, and men in the same place… nobody prayed for these people."
Esta vala comum é uma lembrança da Naqba.
Atualmente, Jaffa faz parte do município de Tel Aviv. Incorporação feita em 1950, após a diáspora palestina forçada e os que haviam sobrevivido aos massacres estavam em campos de refugiados na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e nos países árabes vizinhos.
A Jaffa de hoje é mista. Com sobreviventes árabes cristãos e muçulmanos e com descendentes dos judeus que lá moravam e de muitos imigrados.
Os palestinos não sabem o número exato de seus mortos durante a Catástrofe de 1948. Mas os sobreviventes contam histórias de arrepiar. Comprovadas com a descoberta desta vala comum em Jaffa.
Quanto aos vivos, estima-se que há 65 anos o êxodo tenha sido de cerca de oitocentos mil.
O que se sabe também, e que vale lembrar para o Nunca Mais!, é que os israelenses "esvaziaram" e riscaram do mapa cerca de 500 cidades palestinas.
O número de refugiados espalhados mundo afora é de 4 milhões e setecentos mil palestinos à espera de voltar para casa.
É por isso que passam a chave de casa de pai para filho.
A esperança é a última que morre.
É por isso que os iranianos compareceram às urnas em peso para escolher o sucessor de Ahmadinejad. Mas os iranianos, por pior que seja o regime, vivem uma situação interna que cedo ou tarde solucionarão com maturidade. É por isso que um religioso moderado, Hassan Rouhani, ganhou as eleições de sábado - falarei sobre as perspectivas do Irã em breve.
Insisto na questão palestina porque a considero responsabilidade de todos os cidadãos do mundo que acham que a justiça internacional tem de agir contra limpeza étnica e expansão territorial. Qualquer que seja o país que cometa o crime.
A nível institucional, é claro que é responsabilidade das Nações Unidas e sobretudo dos países que criaram o problema e não fazem nada para solucioná-lo. Mas como cidadãos humanos, temos o recurso do protesto e do boicote.